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"Indústria paga o quanto quer ao produtor"
Citricultor diz que o preço oferecido pelos processadores de suco fica abaixo do custo de produção da caixa de laranja
Ministério Público do Estado recebe informações sobre agricultores que tentaram, sem sucesso, trocar o destino da entrega da safra
Leonardo Wen/Folha Imagem
![](../images/b2604200901.jpg) |
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Oscar Müller, produtor há 30 anos da região de Pirassununga, em São Paulo, que tem contrato com a Cutrale para vender laranja
DA REPORTAGEM LOCAL
"A compra da laranja pela indústria de suco é feita da seguinte forma: eles dizem "vamos pagar R$ 6 por caixa, só
que não para todos eles; vamos
ver se algum de nós consegue
comprar por R$ 5 e, na próxima
compra, pagar R$ 7, para que a
média fique em R$ 6". Isto é, há
uma combinação de preços entre eles para que, no final, o preço da caixa de laranja seja um
só. É isso o que ocorre", diz Oscar Müller, produtor há 30
anos na região de Pirassununga
(SP), que tem contrato com a
Cutrale para entrega da fruta.
Müller diz ainda que está impedido de vender a fruta para
outra indústria. "Se eu fico descontente com o preço pago pela
Cutrale e procuro a Citrovita,
por exemplo, com certeza a Citrovita oferece preço menor
ainda do que o da Cutrale, pois
já sabe que sou fornecedor da
Cutrale. Até posso vender, mas
com prejuízo", diz. A situação
de Müller é a mesma, segundo
ele, que a de um grupo de 20 citricultores da região.
C.A., produtor de laranja da
mesma região, fornecedor da
Citrovita, afirma que as indústrias "combinam preços e pagam o que desejam para o produtor". "No ano passado, a Citrovita pagou R$ 9 por caixa de
laranja, só que o meu custo mínimo ficou entre R$ 14 e R$ 16
por caixa. Continuo operando
porque consegui vender o excedente da fruta para o mercado
spot [à vista]. Quando o preço
da laranja no mercado spot estava mais alto do que o pago pelos fabricantes de suco, algumas indústrias chegaram a ir
com a polícia em fazendas para
tirar laranjas dos pomares", diz
C.A., que prefere não se identificar para não sofrer retaliação.
Segundo ele, a situação é pior
para o produtor que tem contrato com cláusula que cita que
toda fruta produzida em determinada propriedade tem de ser
entregue a tal indústria.
"O meu contrato não tem essa cláusula. Por isso tenho a opção de vender a produção excedente para os chamados "boqueiros", que fazem a intermediação do negócio entre a indústria e o produtor", diz.
Em representação feita ao
Ministério Público do Estado
de São Paulo são citados outros
casos de produtores de laranja
que tentaram, sem sucesso,
trocar a indústria para entrega
da safra de laranja.
Mauro Sandoval Silveira,
produtor nas regiões de Limeira (SP) e Franca (SP), está sem
contrato porque contestou o
preço pago pela fruta pelas indústrias de suco.
"De 1972 a 2007, fornecemos
laranja para a Citrosuco. Quando comecei a participar do processo para combater o cartel,
sofri retaliação. No ano passado, vendi para a Dreyfus porque
houve um período de disputa
pela laranja. Neste ano, não sei
se vou fornecer. Tenho procurado as indústrias. Talvez eles
já tenham feito algum acerto",
afirma Silveira, que produz 150
mil caixas de laranja por ano.
Segundo ele, "os indícios de
prática de cartel pelos fabricantes de suco são fortes. Soubemos que, neste ano, eles vão pagar entre R$ 7 e R$ 8 por caixa,
valores bem abaixo do nosso
custo, que está entre R$ 13 e R$
14 por caixa".
(FF)
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