São Paulo, domingo, 26 de abril de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Indústria paga o quanto quer ao produtor"

Citricultor diz que o preço oferecido pelos processadores de suco fica abaixo do custo de produção da caixa de laranja

Ministério Público do Estado recebe informações sobre agricultores que tentaram, sem sucesso, trocar o destino da entrega da safra


Leonardo Wen/Folha Imagem
Oscar Müller, produtor há 30 anos da região de Pirassununga, em São Paulo, que tem contrato com a Cutrale para vender laranja

DA REPORTAGEM LOCAL

"A compra da laranja pela indústria de suco é feita da seguinte forma: eles dizem "vamos pagar R$ 6 por caixa, só que não para todos eles; vamos ver se algum de nós consegue comprar por R$ 5 e, na próxima compra, pagar R$ 7, para que a média fique em R$ 6". Isto é, há uma combinação de preços entre eles para que, no final, o preço da caixa de laranja seja um só. É isso o que ocorre", diz Oscar Müller, produtor há 30 anos na região de Pirassununga (SP), que tem contrato com a Cutrale para entrega da fruta.
Müller diz ainda que está impedido de vender a fruta para outra indústria. "Se eu fico descontente com o preço pago pela Cutrale e procuro a Citrovita, por exemplo, com certeza a Citrovita oferece preço menor ainda do que o da Cutrale, pois já sabe que sou fornecedor da Cutrale. Até posso vender, mas com prejuízo", diz. A situação de Müller é a mesma, segundo ele, que a de um grupo de 20 citricultores da região.
C.A., produtor de laranja da mesma região, fornecedor da Citrovita, afirma que as indústrias "combinam preços e pagam o que desejam para o produtor". "No ano passado, a Citrovita pagou R$ 9 por caixa de laranja, só que o meu custo mínimo ficou entre R$ 14 e R$ 16 por caixa. Continuo operando porque consegui vender o excedente da fruta para o mercado spot [à vista]. Quando o preço da laranja no mercado spot estava mais alto do que o pago pelos fabricantes de suco, algumas indústrias chegaram a ir com a polícia em fazendas para tirar laranjas dos pomares", diz C.A., que prefere não se identificar para não sofrer retaliação.
Segundo ele, a situação é pior para o produtor que tem contrato com cláusula que cita que toda fruta produzida em determinada propriedade tem de ser entregue a tal indústria.
"O meu contrato não tem essa cláusula. Por isso tenho a opção de vender a produção excedente para os chamados "boqueiros", que fazem a intermediação do negócio entre a indústria e o produtor", diz.
Em representação feita ao Ministério Público do Estado de São Paulo são citados outros casos de produtores de laranja que tentaram, sem sucesso, trocar a indústria para entrega da safra de laranja.
Mauro Sandoval Silveira, produtor nas regiões de Limeira (SP) e Franca (SP), está sem contrato porque contestou o preço pago pela fruta pelas indústrias de suco.
"De 1972 a 2007, fornecemos laranja para a Citrosuco. Quando comecei a participar do processo para combater o cartel, sofri retaliação. No ano passado, vendi para a Dreyfus porque houve um período de disputa pela laranja. Neste ano, não sei se vou fornecer. Tenho procurado as indústrias. Talvez eles já tenham feito algum acerto", afirma Silveira, que produz 150 mil caixas de laranja por ano.
Segundo ele, "os indícios de prática de cartel pelos fabricantes de suco são fortes. Soubemos que, neste ano, eles vão pagar entre R$ 7 e R$ 8 por caixa, valores bem abaixo do nosso custo, que está entre R$ 13 e R$ 14 por caixa". (FF)


Texto Anterior: Promotoria investiga cartel na laranja
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.