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Petrobras queima gás e perde R$ 5 milhões ao dia
Desperdício do insumo se agrava com a crise econômica e cresce 29% neste ano
Queda da demanda industrial e menor uso de termelétricas levam a aumento do descarte do produto, que é extraído com petróleo e não estocado
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A freada na economia causou, em fevereiro, desperdício
de 8,1 milhões de metros cúbicos de gás por dia, queimados
nas plataformas marítimas da
Petrobras, sobretudo na bacia
de Campos. O volume corresponde a pouco menos do consumo do Estado do Rio de Janeiro, o segundo maior do país.
Em valores, a perda em fevereiro atingiu R$ 5 milhões ao
dia -com base no preço de R$
0,62 por metro cúbico.
O desperdício ocorre porque
a Petrobras produz a maior
parte do gás associada à extração de petróleo. Se fechar os
poços, a empresa interrompe
também a produção de óleo,
mais rentável. A saída é queimar o gás na plataforma ou usá-lo em suas próprias operações.
Na média dos dois primeiros
meses deste ano, a queima de
gás cresceu 29% e chegou a 7,1
milhões de metros cúbicos, segundo relatório do MME (Ministério de Minas e Energia).
Na média de 2008, a perda era
de 6 milhões de metros cúbicos.
O problema da queima do gás
sempre existiu, mas se agravou
com a crise, que fez o mercado
encolher com a retração da indústria a partir do fim de 2008.
Houve também menor uso das
termelétricas a gás neste ano.
Segundo a Abegás (Associação Brasileira das Distribuidoras de Gás Canalizado), as vendas caíram 31,7% no primeiro
bimestre do ano.
Além da redução da produção industrial e da consequente
menor demanda, o preço mais
alto do insumo também desestimulou o consumo. É que muitas indústrias migraram para o
óleo combustível, derivado de
petróleo substituto do gás para
aquecimento de caldeiras.
Pelo relatório do MME, o
preço do gás estava, em fevereiro, 60% mais caro no Sudeste
do que a cotação de referência
internacional nos EUA. O preço da Petrobras já recuou a partir de 1º de abril para algumas
distribuidoras do Sul e do Sudeste. Para outras, como as do
Rio, o ajuste será em 1º de maio.
Em recente entrevista à Folha, a diretora de Gás e Energia
da Petrobras, Maria das Graças
Foster, disse que a venda de gás
começou a reagir em março
-embora não tenha voltado ao
nível pré-crise. Naquele mês,
havia sobra de cerca de 15 milhões de metros cúbicos.
Para estimular o consumo, a
estatal fez na sexta-feira um
leilão do gás excedente para
distribuidoras. Vendeu 3,6 milhões de metros cúbicos -37%
da oferta, com preço 36% inferior à media dos contratos.
"O sentido principal é que o
desconto chegue ao consumidor final do gás", disse ela.
Para o especialista Marco Tavares, da consultoria Gas
Energy, falta uma política clara
para o preço do gás -que ora
estimula o consumo com descontos como os praticados até
2006 e ora o mantém acima das
cotações internacionais. Os
preços mais altos, diz, inibem o
crescimento do mercado. "A indústria fica com receio de mudar para o gás."
Novas plataformas
A Petrobras afirma ainda que
o aumento da queima se deve à
entrada em operação de duas
plataformas neste ano na bacia
de Campos, capazes de produzir 4 milhões de metros cúbicos
de gás associado ao petróleo.
É que os sistemas de compressão e escoamento de gás
dessas unidades ainda estão em
fase de instalação, o que impede o uso total do gás produzido.
Segundo a estatal, porém, o
aproveitamento do gás produzido conjuntamente com o petróleo cresceu da faixa de 75%
em 1999 para 85%. Nesse período, a queima do produto caiu
3,5 milhões de metros cúbicos.
A meta é utilizar 92% de todo o
gás produzido em 2010.
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