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Crise põe em xeque teoria popular de administração
Companhias trocam o "endeusamento" de executivos e a política de concessão de amplos benefícios pela austeridade
Tempo de crise econômica favorece reflexão e crítica a modismos e a gurus de gestão de negócios,
avaliam especialistas
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
Conte-se mais uma baixa entre as tantas que a crise econômica mundial nascida no ano
passado já provocou. Ainda não
morreu, porém está gravemente ferida uma das principais
correntes contemporâneas da
administração de negócios.
Essa filosofia é representada
pela figura do "executivo-estrela", aquele presidente de empresa com jeito meio de popstar, meio de super-herói, cujas
atitudes ninguém questionava
-até a crise vir à tona.
Pois os enormes rombos nos
bancos de diversos países, a displicência com que o crédito habitacional era gerido pelas financeiras dos Estados Unidos e
a surpreendente fragilidade
que as grandes montadoras de
veículos mostraram nos últimos meses colocaram irremediavelmente em xeque a celebrada sapiência dos líderes corporativos.
A partir de agora, segundo especialistas, a austeridade vai
dar o tom.
"O executivo não deve administrar pelos seus valores morais, como se fosse seu único
guardião, mas para esses valores, ou seja, cultivando a cada
dia a ética e a honestidade",
afirma James Hoopes, professor da universidade norte-americana Babson College e autor
do livro "Hail to the CEO - The
Failure of George W. Bush and
the Cult of Moral Leadership"
(Salve, Presidente de Empresa
- O Fracasso de George W. Bush
e o Culto à Liderança Moral,
em tradução livre).
Consequentemente, tendem
a diminuir as altas remunerações no topo da hierarquia empresarial.
"A revolta com os bônus pagos aos gestores se deve à distância entre esses valores e os
que o funcionário médio recebe. Não há nada que justifique o
fato de o presidente da companhia ganhar dez ou 20 mil vezes
mais que um técnico", afirma
Hoopes.
Benefícios
Também a política de ampla
concessão de benefícios começa a ser revista.
O ideal, na opinião dos especialistas, é aprimorar a medição
dos retornos proporcionados
por tais benesses -importantes na atração e na retenção dos
talentos- e eliminar exageros,
como os programas de auxílio à
redução de peso do empregado,
tidos como uma intromissão
indevida.
Ademais, está sendo observada uma notável migração do
poder das áreas de marketing,
inovação e estratégia para o núcleo de controle, finanças e
operações.
"Dessa forma, parece surgir
um olhar mais crítico sobre as
chamadas modas e modismos
gerenciais", afirma Thomaz
Wood Junior, professor da
FGV (Fundação Getulio Vargas).
"Um exemplo é a indústria de
prêmios e certificações. Esse tipo de iniciativa deve perder espaço, pelo menos por algum
tempo. O que deve, ou deveria,
ganhar espaço é o alinhamento
estratégico e o controle gerencial, especialmente sobre os
custos. É importante que cada
um na empresa saiba o seu papel e como contribuir para a geração de valor. Isso dá muito
mais sentido para o trabalho do
que qualquer show de motivação", diz Wood.
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