São Paulo, domingo, 26 de abril de 2009

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Crise põe em xeque teoria popular de administração

Companhias trocam o "endeusamento" de executivos e a política de concessão de amplos benefícios pela austeridade

Tempo de crise econômica favorece reflexão e crítica a modismos e a gurus de gestão de negócios, avaliam especialistas


DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Conte-se mais uma baixa entre as tantas que a crise econômica mundial nascida no ano passado já provocou. Ainda não morreu, porém está gravemente ferida uma das principais correntes contemporâneas da administração de negócios.
Essa filosofia é representada pela figura do "executivo-estrela", aquele presidente de empresa com jeito meio de popstar, meio de super-herói, cujas atitudes ninguém questionava -até a crise vir à tona.
Pois os enormes rombos nos bancos de diversos países, a displicência com que o crédito habitacional era gerido pelas financeiras dos Estados Unidos e a surpreendente fragilidade que as grandes montadoras de veículos mostraram nos últimos meses colocaram irremediavelmente em xeque a celebrada sapiência dos líderes corporativos.
A partir de agora, segundo especialistas, a austeridade vai dar o tom.
"O executivo não deve administrar pelos seus valores morais, como se fosse seu único guardião, mas para esses valores, ou seja, cultivando a cada dia a ética e a honestidade", afirma James Hoopes, professor da universidade norte-americana Babson College e autor do livro "Hail to the CEO - The Failure of George W. Bush and the Cult of Moral Leadership" (Salve, Presidente de Empresa - O Fracasso de George W. Bush e o Culto à Liderança Moral, em tradução livre).
Consequentemente, tendem a diminuir as altas remunerações no topo da hierarquia empresarial.
"A revolta com os bônus pagos aos gestores se deve à distância entre esses valores e os que o funcionário médio recebe. Não há nada que justifique o fato de o presidente da companhia ganhar dez ou 20 mil vezes mais que um técnico", afirma Hoopes.

Benefícios
Também a política de ampla concessão de benefícios começa a ser revista.
O ideal, na opinião dos especialistas, é aprimorar a medição dos retornos proporcionados por tais benesses -importantes na atração e na retenção dos talentos- e eliminar exageros, como os programas de auxílio à redução de peso do empregado, tidos como uma intromissão indevida.
Ademais, está sendo observada uma notável migração do poder das áreas de marketing, inovação e estratégia para o núcleo de controle, finanças e operações.
"Dessa forma, parece surgir um olhar mais crítico sobre as chamadas modas e modismos gerenciais", afirma Thomaz Wood Junior, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas).
"Um exemplo é a indústria de prêmios e certificações. Esse tipo de iniciativa deve perder espaço, pelo menos por algum tempo. O que deve, ou deveria, ganhar espaço é o alinhamento estratégico e o controle gerencial, especialmente sobre os custos. É importante que cada um na empresa saiba o seu papel e como contribuir para a geração de valor. Isso dá muito mais sentido para o trabalho do que qualquer show de motivação", diz Wood.


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