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OPINIÃO ECONÔMICA
Agenda para a "Fase Dois"
WALTER BRASIL M. MUNDELL
A inversão das expectativas
extremamente negativas sobre o governo do presidente Lula é
um fato a ser comemorado. A
continuidade da política macroeconômica convenceu os agentes
produtivos locais e os investidores
internacionais de que o país continuaria comprometido com o sistema de metas de inflação, o regime de taxa de câmbio flutuante e o
superávit fiscal no conceito de caixa -que, entendemos, é o melhor
conjunto de políticas para países
em desenvolvimento com alta dívida pública interna, pequena corrente de comércio e baixa taxa interna de poupança, como é o caso
do Brasil.
Vencida essa fase inicial de reafirmação do compromisso do governo com as políticas citadas acima, colocam-se agora duas dimensões que determinarão, de fato, as chances de o governo ser
bem-sucedido na administração
da economia, criando condições
para um crescimento econômico
sustentável.
Essas dimensões referem-se a: a)
mudanças de caráter macroeconômico, ou seja, sobre o funcionamento do sistema econômico como um todo (variações do produto, nível geral de preços, nível de
emprego, taxa de juros, balanço
de pagamentos, etc); e b) mudanças de caráter microeconômico,
que influencia o comportamento
dos agentes econômicos individuais (consumidores, produtores) e sua interação no mercado.
Na área macroeconômica, as
ações iniciais do governo são conhecidas: reforma da Previdência
e reforma fiscal. Na esfera microeconômica, o governo anunciou,
há alguns dias, a intenção de lançar a "Fase Dois" do governo Lula,
por meio de um conjunto de políticas que buscará o crescimento
econômico a curto prazo. A intenção do presidente, conforme expresso na edição da Folha de 11 de
maio, em reportagem de Josias de
Souza, é dar uma "virada" na economia e crescer, pelo menos,
3,5% em 2004.
O objetivo deste artigo é o de
dar algumas sugestões sobre alguns pontos que poderiam constar na "Fase Dois". A maior parte
das sugestões exige alterações nas
leis do país, mas, dado o quadro
de apoio e popularidade do presidente -bem como a percepção
que se tem no Congresso Nacional da importância do tema-,
poderiam ser aprovadas, facilitando a retomada econômica.
A ampliação do mercado de
crédito, que não supera 25% do
PIB, seria uma medida microeconômica que incentivaria o investimento e, consequentemente, o
crescimento econômico. Para isso, seria importante adotar medidas que reduzissem o "spread"
bancário (diferença entre a taxa
de juros paga pelo banco ao captar recursos no mercado e a que
ele recebe ao emprestar dinheiro).
Sabemos que o alto "spread"
bancário pode ser diminuído por
meio das seguintes medidas:
a) redução dos impostos e tributos sobre as operações financeiras, a fim de baratear o custo final para o tomador de crédito;
b) facilitar a execução de garantias no caso de inadimplência, inclusive para bens imóveis, a fim
de diminuir o risco do financiador;
c) acelerar a conclusão dos processos de cobrança judicial para a
execução do principal, a fim de
evitar a administração predatória
dos ativos;
d) reformar a Lei de Falências e
Concordatas, para diminuir as incertezas sobre o recebimento de
créditos e a incerteza sobre o passivo fiscal e trabalhista;
e) estabelecer jurisprudência
sobre o uso da taxa de juros composta para o cálculo de passivos
financeiros, para acelerar e diminuir o prazo das execuções;
f) estabelecer na Justiça a prioridade para o julgamento de operações de empréstimo com garantia;
g) incentivar e legalizar o uso e a
formação de Centrais de Informação de Crédito, para que os bancos e financeiras possam saber
quem são os bons pagadores e reduzir as taxas de empréstimos deles cobradas.
A ampliação do mercado de
crédito aumentaria o nível de emprego formal da economia, que
também poderia se beneficiar
com um novo desenho na legislação trabalhista, regida pela obsoleta e custosa (para o país e seus
trabalhadores) CLT. As mudanças na legislação trabalhista deveriam incentivar a negociação rápida e voluntária, para evitar a enxurrada de processos judiciais na
Justiça do Trabalho. O governo
poderia incentivar as empresas a
contratar pessoas, reduzindo a
carga de contribuições incidentes
até o valor de um salário mínimo,
de forma a aumentar a chance de
pessoas com baixa qualificação a
encontrar trabalho formal. A ampliação do mercado formal de trabalho seria extremamente benéfica para a economia brasileira,
pois o emprego informal tem produtividade mais baixa, incentiva a
lavagem de dinheiro e atividades
criminosas paralelas e não gera
contribuições à Previdência oficial.
Walter Brasil M. Mundell, 49, mestre
em economia aplicada pela EAESP-FGV,
é vice-presidente da Sul América
Seguros. Foi diretor estatuário do Banco
Lloyds TSB de 1997 a 2001, diretor
estatuário do Banco Real de
Investimentos de 1994 a 1997 e diretor
do Unibanco de 1981 a 1994.
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