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TRABALHO
Embora a taxa de desemprego tenha ficado estável em 10,8% em abril, cortes reduziram o rendimento médio em 1,8%
Renda de trabalhadores volta a ter queda
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Em abril, foram fechados 100
mil postos de trabalho na indústria, setor mais sensível à política
monetária, o que provocou a queda de 1,8% no rendimento médio
em relação a março. Foi a primeira retração da renda em quatro
meses nesse tipo de indicador.
Na comparação com abril de
2004, o rendimento subiu 0,8%,
mas mostrou desaceleração em
relação aos meses anteriores,
quando chegou a aumentar 2,6%
em fevereiro. O nível de ocupação
na indústria caiu 2,9% em relação
a março. A perda, porém, foi
compensada por outros setores, e
o saldo foi a criação, ao todo, de 21
mil novas vagas em abril.
Ainda que a taxa de desemprego tenha ficado estável em abril
-10,8%, mesmo percentual de
março-, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e
especialistas vêem uma piora no
mercado de trabalho, que sofre o
impacto dos juros mais altos.
"A situação é preocupante
quando se compara com a evolução que vinha se dando no mercado de trabalho. Há queda no rendimento, perda no contingente da
indústria na região metropolitana
de São Paulo e redução no número de trabalhadores com carteira
assinada", disse Cimar Azeredo
Pereira, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE.
Na terça-feira, o Ciesp (Centro
das Indústrias do Estado de São
Paulo) divulgou que o emprego
industrial cresceu 0,47% em abril
sobre março em São Paulo. O estudo considera apenas o emprego
formal nas indústrias.
Já a pesquisa do Dieese/Seade
mostrou que, em abril, o desemprego foi de 17,5% na Grande São
Paulo (alta de 0,2 ponto percentual sobre março).
Perda de vigor
De acordo com o IBGE, como a
indústria é o ramo que paga os
melhores salários, a redução do
nível de emprego no setor influencia o rendimento como um
todo. Só na indústria paulista, 97
mil vagas foram eliminadas de
março para abril.
Para Marcelo de Ávila, do Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada), "é possível" que os juros mais altos tenham afetado a
disposição do empresário de empregar, movimento sentido com
mais intensidade na indústria.
Os juros elevados também atingiram o emprego, segundo ele, de
outro modo, ao conterem a demanda e levarem ao "arrefecimento do nível de atividade econômica". "Havia um padrão positivo, mas em abril isso não se confirmou. O mercado de trabalho
não mostrou o mesmo vigor de
antes", afirmou Ávila.
Sobre o rendimento, Ávila disse
que a queda de abril "mais do que
anulou os ganhos do primeiro trimestre" e que o desempenho da
indústria "surpreendeu" negativamente, embora ainda seja cedo
para dizer se o emprego e a renda
ingressarão, a partir de agora, numa trajetória de declínio. "O que
os dados mostram é que o mercado de trabalho ficou em compasso de espera em abril."
Segundo Pereira, há sinais de
preocupação com o futuro do
mercado de trabalho. Citou o possível efeito negativo do aumento
da taxa de juros e da valorização
do real em relação ao dólar, que
pode prejudicar as exportações.
Segundo o IBGE, 2,364 milhões
de pessoas estavam sem trabalho
em abril nas seis principais regiões metropolitanas do país. Na
comparação com abril de 2004,
foram criados 630 mil empregos
-mais 3,3%. De março para
abril, a geração de vagas ficou praticamente estável em 21 mil.
Para Alex Agostini, da GRC Visão, tanto o câmbio como os juros
altos já contaminaram o desempenho do emprego e sinalizam
que o Banco Central errou na dose ao aumentar tanto a taxa Selic.
"O BC deveria olhar os dados de
emprego e interromper a alta dos
juros, que já deveriam ter parado
de subir há alguns meses. O problema é que o BC coloca o nível de
atividade como último indicador
a ser observado em sua lista de
prioridades", disse Agostini.
Informalidade
Para Pereira, a pesquisa revela o
ressurgimento da informalidade.
"Numa primeira leitura, isso pode mostrar o início desse processo. Quando há crise no mercado
de trabalho, o primeiro item afetado é o trabalho formal."
De março para abril, o número
de trabalhadores com carteira assinada teve queda de 3.000 pessoas, numa inversão da tendência
registrada em meses anteriores.
Colaborou Janaina Lage,
da Folha Online, no Rio
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