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ENERGIA
Ocidente espera que obra de 1.700 km que leva petróleo da Ásia à Europa reduza dependência do volátil golfo Pérsico
Oleoduto do Cáspio ao Mediterrâneo é aberto
Badri Vadachkoria/Associated Press
![](../images/b2605200501.jpg) |
O secretário dos EUA Bodman (2º da dir. para a esq.) com presidentes de Turquia, Geórgia e Azerbaijão |
DANIEL HOWDEN
PHILIP THORNTON
DO "THE INDEPENDENT"
Foi aberta ontem a torneira do
oleoduto que atravessa alguns dos
países mais instáveis e devastados
por guerras do mundo. É esse o
fluxo de óleo visto como a tábua
de salvação do Ocidente.
Com apenas 106 cm de largura,
o oleoduto Baku-Tbilisi-Ceyhan
era visto como algo que poderia
representar a salvação eterna do
mercado petrolífero mundial. O
oleoduto de 1.700 km já transformou a geopolítica do Cáucaso, e
agora seu impacto está sendo sentido na imensidão da Ásia central.
A previsão é que a produção
chegue a 1 milhão de barris por
dia -mais de 1% da produção
mundial total-, a partir de uma
reserva subterrânea que pode
conter até 220 bilhões de barris.
Seus arquitetos e investidores
afirmam que o oleoduto pode reforçar o fornecimento energético
dos EUA e Europa por 50 anos,
protegendo nossa enorme sede de
gasolina e reduzindo nossa dependência da família real saudita.
O objetivo da obra, do mar Cáspio no Azerbaijão até a costa mediterrânea da Turquia, passando
pela Geórgia, é reduzir a dependência ocidental da Opep (Organização dos Países Exportadores
de Petróleo) e levar gasolina mais
barata aos postos de combustível
ocidentais. O oleoduto abre caminho pela região dentro de um corredor privado aparentemente
modesto, de apenas 50 metros de
largura, mas não se permitiu que
nada ficasse em seu caminho.
Desde florestas até leis trabalhistas, passando por espécies em
perigo de extinção e manifestantes em favor da democracia, tudo
teve que ceder para abrir caminho
para o oleoduto mais caro e importante já construído no mundo.
Conhecido como BTC, o oleoduto provocou divisões entre
EUA e Rússia, distúrbios políticos
nos países pelos quais passa e vizinhos e preocupações ambientais.
Desde os ataques terroristas de
11 de Setembro, aumenta a inquietação diante da dependência
do Ocidente sobre o petróleo do
golfo Pérsico. Para Washington, a
abertura do oleoduto é motivo de
comemoração. "É um importante
passo à frente em termos da segurança energética da região", declarou o secretário americano da
Energia, Samuel Bodman, ao lado
de três chefes de Estado na cerimônia de ontem.
A seu lado, diante dos controles
da estação de bombeamento do
oleoduto, estava o presidente da
ex-república soviética do Azerbaijão. O BTC permitiu a Ilham
Aliev tornar-se aliado firme do
Ocidente, ao mesmo tempo em
que chefia um governo condenado por violações dos direitos humanos e corrupção.
A política do oleoduto também
mudou a Geórgia, onde os EUA
colocaram seu imenso poder ao
lado da "Revolução Rosa" de
2003. Os protestos populares conduziram ao poder o presidente
Mikhail Saakashvili, formado nos
EUA. Os novos laços de Washington com Tbilisi ficaram claros
neste mês, quando George Bush
tornou-se o primeiro presidente
americano a visitar a Geórgia.
No caso da Turquia, aliada de
longa data dos EUA, não é por
acaso que o oleoduto passe diretamente ao lado da base aérea americana de Incirlik.
Quando as grandes empresas
petrolíferas voltaram sua atenção
às potenciais reservas do mar
Cáspio, liberto dos muros caídos
da antiga União Soviética, a região começou a ser descrita como
"o novo Oriente Médio". Se o petróleo pudesse ser transportado
com segurança do mar Cáspio ao
Mediterrâneo, o Ocidente ganharia uma alternativa vital às reservas do volátil golfo Pérsico, e a região seria liberta do jugo da Rússia, que até então havia monopolizado as rotas de exportação de
seus antigos satélites soviéticos.
Foram traçados três planos distintos para o oleoduto: um trajeto
norte, que passaria pela Rússia,
um alternativa ao sul, atravessando o Irã, e a opção central, pelo
Cáucaso, chegando ao Mediterrâneo. Não poderia haver dúvidas
quanto à proposta vencedora: o
caminho do meio era o único que
garantia controle a Washington e
suas empresas aliadas.
O vice-presidente americano
Dick Cheney, que na época era
executivo-chefe da gigante dos
serviços petrolíferos Halliburton,
foi um dos primeiros a se deixar
levar pelo clima de animação.
"Não posso imaginar nenhum
outro momento em que uma região tenha emergido tão rapidamente para ganhar importância
estratégica tão grande quanto o
Cáspio", disse ele em 1990.
Hoje, após mais de uma década
e US$ 4 bilhões de gastos, o oleoduto está aberto, com grande esquema de segurança contra atentados terroristas. O óleo que começou a fluir em quantidade modesta é a primeira parte de uma
reserva que, segundo hoje crêem
muitos analistas, na realidade
equivale a só 32 bilhões de barris
-comparável à de um pequeno
país do Golfo, como o Qatar.
Tradução de Clara Allain
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