São Paulo, quarta, 26 de maio de 1999

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VAREJO
Credores forçam empresário a deixar o comando das empresas; se empréstimo não sair, lojas fecham em 45 dias
Mansur perde as redes Mappin e Mesbla

Renata Freitas - 16.abr.99/Folha Imagem
José Paulo Amaral, das redes Mappin e Mesbla, que disse que as lojas vão fechar em 45 dias se não conseguir R$ 102 milhões


DAVID FRIEDLANDER
FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local

Ricardo Mansur, empresário emergente que nos últimos anos comprou o Mappin e a Mesbla, foi forçado pelos credores a deixar o comando das duas empresas.
Sem crédito na praça e sufocado por uma dívida de R$ 1,12 bilhão, desde janeiro Mansur vinha tentando vender as lojas. Não conseguiu e entrou em depressão. Chegou à beira de um ataque de nervos, teve crises de choro e, no dia 15 de abril, foi convencido pela família a ceder ao ultimato dos credores.
No dia seguinte, o executivo José Paulo Amaral recebeu carta branca para fazer o que achasse melhor, ou o que fosse possível, com o Mappin e a Mesbla.
Amaral está tentando conseguir empréstimo de R$ 102 milhões para pagar salários, aluguéis, fornecedores e comprar mercadorias. Com esses recursos, as duas redes ganhariam uma sobrevida de pelo menos seis meses.
É o tempo que o executivo acha necessário para fazer uma auditoria nas contas do Mappin e da Mesbla. Só assim ele poderá oferecer as empresas aos interessados. "Há uma empresa americana e outra européia com interesse no negócio", diz Amaral. "Mas com a contabilidade do jeito que está eu não tenho coragem de chamá-los para ver os números." A Folha apurou que uma das interessadas é a J.C. Penney, uma das maiores redes de lojas de departamento dos EUA.
Executivos que acompanham de perto os negócios de Mansur contam que seus problemas começaram com a compra da Mesbla, em 97. A empresa estava muito endividada. Ele conseguiu alongar o pagamento das dívidas em vários anos, mas tropeçou nos estoques baixos.
O empresário se endividou para comprar mercadorias -e foi aí que seu negócio começou a ruir. Veio a crise da Ásia, os juros explodiram e as vendas despencaram. No final do ano passado, Mansur correu a praça bancária tentando levantar dinheiro para suas lojas. Não conseguiu e seus negócios afundaram ainda mais. No começo do ano, o Banco Central liquidou o Crefisul, banco de Mansur, que estava altamente descapitalizado.
Mansur é dono de 45% do Mappin e de 81% da Mesbla. Mesmo que as duas empresas sejam vendidas, o empresário não irá receber dinheiro na operação. Os recursos de uma eventual venda serão utilizados para capitalizar o negócio. Amaral diz que, se os R$ 102 milhões não aparecerem em 45 dias, as 47 lojas Mappin e Mesbla terão de ser fechadas.
Amaral está passando o chapéu junto a seis instituições -GE Capital, Funcef, Bradesco, BNDES, Banco do Brasil e Centrus. Todos eles são credores de Mansur.
A GE Capital cuida da venda a prazo das duas redes e tem a receber R$ 110 milhões; a Funcef, R$ 105 milhões; o Bradesco, R$ 100 milhões; o BNDES, R$ 84 milhões, o Banco do Brasil, R$ 48 milhões, e a Centrus, R$ 34 milhões.
Pelo plano de Amaral, cada uma dessas instituições faria um empréstimo-ponte de R$ 17 milhões. Como garantia, receberiam a propriedade das marcas Mappin e Mesbla e os direitos sobre os pontos comerciais.
Com os recursos em mãos, Amaral se propõe a criar uma empresa de propósito específico, que receberá o dinheiro e emitirá os papéis para as instituições no valor do empréstimo. "Sem esse dinheiro, vai ser difícil salvar as redes."
Segundo ele, Bradesco e GE Capital já deram sinal verde para liberar o empréstimo. O BNDES, diz, não aceitou, pois considera que as garantias oferecidas não são suficientes. Banco do Brasil, Funcef e Centrus recuaram quando o BNDES decidiu cair fora do pool para socorrer as duas redes.
Sem capacidade para repor os estoques, as vendas do Mappin e da Mesbla estão em queda livre. No mês passado, faturaram cerca de R$ 30 milhões, 30% do que poderiam vender se não estivessem em crise. Só com o pagamento de salários dos 9.000 empregados, as empresas gastam cerca de R$ 9 milhões por mês.
O Mappin e a Mesbla têm cerca de 3.000 fornecedores. Vários deles já pediram a falência das empresas. Esses pedidos somam dívidas de R$ 20 milhões.
Procurado ontem pela reportagem da Folha, Mansur não deu resposta às ligações até o fechamento desta edição.




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