UOL


São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

HOSPITAL BRASIL

Ministro afirma que, a partir de sua visão de médico, diagnóstico é que riscos maiores foram superados

País debela inflação e deixa UTI, diz Palocci

Sergio Lima/Folha Imagem
O ministro José Dirceu, Lula e o ministro Antonio Palocci durante anúncio do pacote de crédito


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) disse ontem que o país saiu "definitivamente da UTI [Unidade de Terapia Intensiva]" e que o risco de inflação alta que havia no final de 2002 e no começo deste ano foi "debelado". Disse que o país tem hoje condições de crescer de forma sustentada e com inflação controlada.
"Definitivamente, o Brasil saiu da UTI e pode se colocar uma pauta consequente, cuidadosa, coordenada de crescimento econômico", afirmou Palocci, após comentar a queda do risco-país e o fato de as empresas conseguirem empréstimos externos.
Sobre a inflação, Palocci disse: "Nós vencemos a primeira etapa, debelando definitivamente o risco da inflação alta. A inflação alta saiu das páginas dos jornais. Hoje o debate é crescimento e é o crescimento que nós vamos obter com um conjunto de medidas, com um esforço coeso do governo e com a participação ativa da sociedade."
Apesar dessa avaliação, Palocci afirmou que, apesar de o Conselho Monetário Nacional ter ampliado anteontem o limite da meta de inflação de 2004, o Banco Central continuará a perseguir o alvo central de 5,5%, e não um nível mais alto que permitisse ao país apresentar crescimento maior.
O CMN tornou oficial a meta ajustada para 2004, de 5,5% ao ano, mas reintroduziu margem de tolerância de 2,5 pontos percentuais, o que significa limite superior da meta de 8%.
"Eu queria dizer para vocês que nós acreditamos no Brasil. Quando nós anunciamos uma meta de inflação, nós vamos buscar essa meta de inflação. Nós estamos convictos de que o Brasil pode ter inflação baixa e crescimento econômico", afirmou em cerimônia no Palácio do Planalto de lançamento do pacote de microcrédito.
Ao esticar a meta de 2004 para até 8%, o CMN deu mais espaço ao BC para conduzir a política monetária. No caso de haver choques de inflação inesperados, a instituição poderia mirar não mais no centro da meta, mas num ponto mais próximo do teto.
O ministro Guido Mantega (Planejamento) chegou a afirmar, na terça-feira, que a nova meta daria mais flexibilidade ao governo e permitira a redução da taxa de juros.

Velho dilema
Palocci afirmou que o Brasil não se encontra diante do "velho dilema" de ou crescer com inflação ou não crescer sem inflação.
"O Brasil não está condenado a optar entre inflação baixa e não-crescimento ou inflação alta para um crescimento pífio de curta duração. Este não é o destino do nosso país."
Segundo ele, o dilema só existe quando a economia se encontra em situação de crise. Nesses casos, disse, o crescimento da economia "gera mais inflação e mais desordem econômica". Mas quando "os indicadores [econômicos] estão em ordem", o crescimento "faz bem" para a economia. "Senão vamos entrar no velho dilema, que o crescimento faz mal para o país. Isso seria o fim das possibilidades de o Brasil dar certo", ressaltou.
Palocci disse que o país tem hoje condições de crescer com inflação controlada devido ao trabalho feito pelo governo, como o ajuste fiscal e a condução da política monetária. Ressaltou, porém, que o país ainda precisa de ajustes e de uma boa coordenação de política monetária. "Não estamos dizendo hoje que é hora de virar a mesa do processo." Ou seja, o governo tem de manter a austeridade fiscal.
"Neste momento, nós não encerramos o esforço de combate à inflação. Neste momento, nós não encerramos o esforço de controle das contas públicas. Mas é necessário afirmar que podemos constatar que os riscos maiores que estavam dados para a economia brasileira no final do ano passado e no início deste ano estão debelados", disse.

Microcrédito
Sobre as medidas para incentivar o crédito voltado para as microempresas e para as pessoas de baixa renda, Palocci disse que terão papel fundamental para reduzir o "spread" (diferença entre o custo de captação de recursos dos bancos e as taxas cobradas dos clientes) no sistema financeiro.
Segundo ele, as pessoas de renda mais baixa, que costumam recorrer a agiotas, pagam juros de até 370% ao ano. "Hoje a cunha tributária é alta, os lucros [dos bancos, financeiras e agiotas] são altos, a inadimplência é alta e os juros são altos. Temos que girar essa roda ao contrário", disse.
(LEONARDO SOUZA, SÍLVIA MUGNATTO E ANDRÉ SOLIANI)


Texto Anterior: Painel S.A.
Próximo Texto: Frase
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.