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Inadimplência atinge recorde, aponta BC
No caso das empresas, índice de atraso no pagamento de dívidas dobrou em relação a setembro, quando se agravou a crise
Para pessoas físicas, nível em maio chegou a 8,6%
dos financiamentos, o mais alto desde o início da série estatística, iniciada em 1994
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar das várias medidas
tomadas pelo governo nos últimos meses, o funcionamento
do mercado de crédito no Brasil
ainda não conseguiu retomar a
normalidade do período que
antecedeu o agravamento da
crise financeira. A situação é
um pouco melhor nas operações com pessoas físicas, mas
no caso das empresas ainda
predomina uma tendência de
alta da inadimplência e juros
mais elevados.
Em maio, segundo dados do
Banco Central, o atraso superior a 90 dias nos pagamentos
de financiamentos para pessoas jurídicas subiu pelo sexto
mês seguido e chegou a 3,2% do
volume de crédito destinado a
esse segmento. Trata-se do nível mais alto observado pelo BC
desde maio de 2001. Em setembro do ano passado, início da fase mais aguda da crise, essa
proporção era de 1,6%.
Entre pessoas físicas também houve alta, mas, como antes da crise a inadimplência
nesses empréstimos já era mais
elevada, o aumento recente foi
menos pronunciado. Depois de
dois meses estável em 8,4%, o
nível de atrasos chegou a 8,6%
dos financiamentos no mês
passado, nível mais alto desde o
início da série estatística do BC,
em julho de 1994.
O chefe do Departamento
Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que esse movimento
reflete a queda na oferta de crédito provocada pela crise. Segundo ele, tanto empresas como pessoas físicas passaram a
encontrar dificuldades para refinanciar suas dívidas nos últimos meses, e, sem conseguir
rolar seus compromissos e sem
dinheiro para quitá-los, acabaram inadimplentes. "Com a
restauração das linhas de crédito, a expectativa é que a inadimplência volte a cair", diz.
Para José Luiz Rossi, professor do Insper (antigo Ibmec-SP), a queda no nível de atividade -com seus impactos negativos no nível na renda da população e no faturamento das empresas- é determinante para o
aumento na inadimplência. Ele
ressalta, porém, que a situação
não chega a ser muito preocupante. "Ainda é um nível baixo
[de inadimplência] se compararmos com a experiência internacional. Em alguns países
isso passa de 10%."
Crédito
Os números do BC mostram
que, especialmente para empresas, a oferta de crédito ainda
é limitada. Em maio, o volume
de empréstimos direcionados a
pessoas jurídicas caiu pelo segundo mês seguido e chegou a
R$ 383,2 bilhões -valor que
não considera os chamados financiamentos direcionados,
em que os juros cobrados são
controlados pelo governo, como nas linhas do BNDES.
A redução é explicada, em
parte, pela recente queda do
dólar, já que algumas modalidades -como o financiamento
à exportação- são corrigidas
pela moeda dos EUA. Mesmo
se considerados apenas os empréstimos em reais concedidos
a empresas, o saldo de maio representava um aumento de
apenas 1,8% no ano. No mesmo
período, os financiamentos a
pessoas físicas cresceram 6,4%.
Para Rossi, a queda no volume de crédito reflete não só o
maior conservadorismo dos
bancos na liberação de novos
empréstimos mas também a
cautela das próprias companhias na hora de aumentar seu
endividamento. "Num cenário
de maior incerteza, muitas empresas decidiram adiar planos e
evitar novas dívidas", diz Rossi.
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