São Paulo, Sábado, 26 de Junho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CÂMBIO
Leilão de R$ 1 bi segura cotação do dólar, pressionada com divulgação do déficit; BC nega intervenção anteontem
Venda de título cambial acalma mercado

Niels Andreas/Folha Imagem
Fraga agita bandeira após Cavallo (parcialmente encoberto) defender o real como base para moeda única


MARCELO DIEGO
da Reportagem Local

Um leilão de R$ 1 bilhão em títulos cambiais, realizado pelo Tesouro Nacional ontem, segurou a cotação do dólar comercial, segundo operadores de câmbio.
A moeda apresentou grande oscilação. Chegou a R$ 1,81, caiu para R$ 1,78 e fechou a R$ 1,793. O valor representa uma queda de 0,11% em relação a anteontem.
Os elementos de pressão no dólar estiveram presentes no mercado ontem. Houve o vencimento de US$ 580 milhões em eurobonds (títulos de empresas brasileiras no exterior). Até o fim do mês, vencem mais US$ 225 milhões em dívidas da mesma natureza.
Com os vencimentos, os devedores saem comprando dólares para honrar os compromissos. Como há pouca moeda no mercado, a operação provoca pressão de alta.
Aparentemente para conter a pressão, o Tesouro leiloou um lote de R$ 1 bilhão em NBC-Es (Notas do Banco Central, série Especial) com vencimento em um ano.
As NBC-Es pagam aos investidores a variação da taxa de câmbio no período, acrescida de juros.
Ontem, os juros pagos foram de 11,75% (uma alta de 3,98% em relação ao último leilão).
Geralmente, bancos e empresas buscam alguma proteção contra futuras desvalorizações do real.
Isso pode ser feito por meio de operações no dólar futuro (compra de contratos, projetando um valor para a moeda depois de um determinado período de tempo), antecipando operações comerciais ou pegando dólares no Brasil e remetendo para o exterior.
Os títulos cambiais, porém, não só oferecem "hedge" (proteção) como ainda pagam juros.

Intervenção
Assim que o Banco Central começou o leilão, várias instituições venderam dólares para comprar os papéis, ajudando a conter a pressão no dólar.
"Como as empresas trabalham com projeções dolarizadas, elas sempre buscam algum tipo de proteção. Se não houvesse o leilão do BC, a proteção seria procurada no dólar futuro", afirmou José Elias, analista da corretora Safic.
O diretor de Política Monetária do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo, negou que a instituição tenha vendido dólar para conter a alta da cotação anteontem.
"Não fizemos intervenção nem diretamente nem indiretamente", disse Figueiredo, por meio da assessoria de imprensa do BC.
Anteontem, a cotação do dólar esteve muito pressionada, atingindo o pico de R$ 1,816.
Fontes do mercado identificaram uma suposta intervenção do BC, por meio do Banco do Brasil, para conter a alta da cotação, ao final do pregão.
Figueiredo disse que já está em vigor um sistema de "dealers", intermediários credenciados pelo BC. Segundo ele, uma eventual venda de dólares teria de ser feita por um conjunto de "dealers", e nunca por uma instituição isoladamente, com o BB.
Ao afirmar que o BC não vendeu dólares indiretamente, Figueiredo procurou negar que o BB tenha vendido dólares de sua própria carteira por ordem do BC.
A venda de dólares do BB foi confirmada por operadores.


Colaborou a Sucursal de Brasília

Texto Anterior: Painel S/A
Próximo Texto: Mercosul: Fraga defende moeda única a longo prazo
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.