São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 2002

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Krueger condiciona acordo com o FMI a pacto com presidente eleito

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

O FMI (Fundo Monetário Internacional) só fechará um novo acordo com o Brasil se conseguir negociar algum tipo de compromisso com o próximo governo. Foi o que disse, ontem, a vice-diretora-gerente da instituição, Anne Krueger, durante encontro fechado com um grupo de jornalistas, em São Paulo. Ela admitiu ontem pela primeira vez que o FMI poderá fechar um acordo de transição para socorrer o país.
"Claramente, qualquer bom programa teria de ter uma duração que fosse além de outubro e, como depois de outubro as decisões vão gradualmente passar para o próximo governo, acho que precisaríamos de algum tipo de garantia", disse a vice-diretora-gerente do FMI.
Krueger, que veio ao Brasil participar do Encontro Latino-Americano da Sociedade Econométrica, na Fundação Getúlio Vargas, garantiu, no entanto, que ainda não há a decisão de se negociar um novo acordo. Admitiu, porém, ter discutido, nos últimos dias, várias "possibilidades" com o governo brasileiro.
"Discutimos possibilidades variadas, o que está levando os mercados a se comportarem desta maneira e os possíveis desdobramentos daqui para a frente, o que faz sentido fazer enquanto nós temos um programa com o Brasil, que vence em 14 de dezembro", afirmou Krueger.
A vice-diretora-gerente do FMI afirmou que, de forma geral, a economia brasileira está saudável. Ela atribuiu o nervosismo dos mercados às incertezas do período pré-eleitoral.

Meta de inflação
No entanto, segundo Krueger, o não-cumprimento da meta de inflação no Brasil este ano é uma questão que tem causado preocupação entre os diretores-executivos do Fundo: "Essa deve se tornar uma questão importante agora na próxima revisão (do programa do FMI com o Brasil)".
Apesar de ter afirmado que a crescente relação entre a dívida consolidada do setor público brasileiro e o PIB (Produto Interno Bruto) preocupa, Krueger acredita que o compromisso do governo brasileiro de atingir um superávit primário de 3,75% este ano "traz algum conforto" em relação a este problema.
Ela refutou as críticas de que o FMI tenha abandonado a Argentina no auge de sua crise econômica, depois de ter apoiado as reformas implementadas pelo país durante toda a década de 90.
"Não acho que o FMI tenha abandonado a Argentina. Chegamos a um ponto em que não havia mais o que pudéssemos apoiar até que as autoridades argentinas decidissem que tinham de adotar um plano alternativo", disse.
Segundo ela, as principais divergências entre o governo argentino e o FMI se referem a questões ligadas ao regime monetário e ao sistema bancário. Krueger, no entanto, disse ter esperanças de que essas questões tenham sido resolvidas com a visita feita por uma equipe de técnicos à Argentina. O que indica que um acordo com o país vizinho pode estar próximo.

Estados Unidos
Krueger se mostrou otimista em relação à recuperação da economia norte-americana e atribuiu os problemas atuais às turbulências dos mercados financeiros.



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