São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LUÍS NASSIF

A posição da Embratel

Vice-presidente de serviços locais da Embratel, a aguerrida Purificación Carpynteiro entra em contato com a coluna para esclarecer pontos levantados semanas atrás nos quais se criticava a empresa por se ter "desabrasileirado" e por suas insistência em afrontar a Lei Geral de Telecomunicações, indo buscar saídas para os impasses do setor na Justiça comum.
Quanto aos problemas de imagem, Purificación concorda que a companhia não tem tratado da questão da imagem com o cuidado necessário. Mas, no campo das ações, faz questão de enfatizar que continua sendo uma corporação brasileira, empenhada em atuar profissionalmente e buscando preservar a identidade brasileira.
O fato de o controle estar nas mãos da WorldCom -a segunda maior rede de longa distância do planeta e que acabou enredada no recente escândalo de manipulação de balanços- em nada afetará o desempenho da Embratel, explica ela.
Primeiro, porque a WorldCom deverá resistir e, com a concordata, conseguirá sair da crise. Afinal, continua sendo uma empresa global, com US$ 35 bilhões de receitas anuais e conduzindo 90% dos e-mails do mundo inteiro em seus circuitos.
Segundo, porque não há sinais de que a WorldCom pretenda vender a Embratel. Ela investiu US$ 2 bilhões na aquisição da empresa. Apesar de deter o controle, possui apenas 19% do capital total. Com a queda geral no valor das empresas de telecomunicações, seria o pior momento para a venda.
Terceiro, porque a Embratel não tem nenhuma relação com a WorldCom, fora a societária, nem mesmo aval para financiamento.
A WorldCom se especializou em adquirir empresas e dedicou pouco à visão estratégica do negócio, conforme a coluna sustentou. Mas a Embratel possui corpo próprio de técnicos, e mesmo os "importados" vieram da MCI, a poderosa empresa adquirida pela WorldCom no auge do movimento especulativo da Nasdaq.
Portanto, o futuro da Embratel dependerá exclusivamente do seu desempenho operacional. E aí Purificación entra no ponto central da questão. No mercado em que domina o corporativo, Purificación sustenta que a Embratel continua sendo uma ilha de excelência, considerada nas pesquisas qualitativas como a mais confiável e com maior capacidade para desenhar soluções específicas.
Mas, quando se entra no mercado de varejo, esbarra-se no problema do custo da interconexão (o pagamento para poder usar a rede das operadoras locais). Purificación apresenta uma série de estudos para comprovar que as operadoras fixas cobram de interconexão mais do que a tarifa média que cobram de seus clientes para ligações estaduais.
Em coluna recente, dizia-se aqui que a Lei Geral de Telecomunicações obriga que cada operadora tenha uma contabilidade em separado para cada serviço a fim de comprovar se está trabalhando ou não com subsídios cruzados (compensando os prejuízos de um serviço deficitário com lucros em outros serviços).
Purificación mostra pareceres de advogados de operadoras fixas reconhecendo que as companhias não incluem os custos de interconexão no balanço dos serviços de longa distância.
Sem a garantia de que não haverá dumping, a entrada das operadoras fixas simplesmente varrerá da área as operadoras de longa distância.
Pode-se discutir se os dados da Embratel estão corretos ou não. O que causa espécie é o fato de até agora a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) não ter se pronunciado sobre a questão. Atrasou uma decisão fundamental, que prejudica as operadoras de longa distância, assim como atrasou a autorização para que as empresas que anteciparam o cumprimento das metas pudessem operar em outros mercados, prejudicando operadoras de telefonia fixa.

Portugal na berlinda
O "milagre" português está perto do fim. Depois do grande avanço com a entrada na União Européia, Portugal não conseguiu renovar seu parque produtivo e, ontem, constatou que seu déficit público chegou a 4,1%, muito acima dos 3% permitidos. O país está em polvorosa.

E-mail - lnassif@uol.com.br



Texto Anterior: Empresas 2: Hershey anuncia que está à venda
Próximo Texto: Panorâmica - Finanças: TED entra em vigor na segunda
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.