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LUÍS NASSIF
O modelo energético
A ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, tem um
desafio enorme pela frente: como
configurar um novo modelo para
o setor elétrico tendo que carregar
a herança do modelo antigo.
São dois, portanto, os desafios.
O primeiro, como montar um
modelo que garanta estabilidade
para os investimentos e tarifas
módicas para os consumidores. O
segundo, como fazer a transição e
corrigir o pesado passivo herdado
pelos erros do modelo anterior.
O processo adotado pela ministra é consistente. Divulgou um
documento com princípios claros
sobre o novo modelo e deixou em
aberto a discussão sobre as saídas
para cada impasse. E não são
poucos os impasses.
Primeiro, vamos entender a lógica do novo modelo.
O modelo anterior estabelecia
uma competição de mercado para a definição do preço de energia
e privatizações na modalidade de
concessão onerosa pela qual o
comprador pagava pela concessão.
Há dois critérios possíveis nas licitações das concessões. Um, o de
maior preço. Outro, o de menor
tarifa, combinada ou não com investimento. Quando se utiliza a
modalidade de concessão onerosa
-como ocorreu no governo Fernando Henrique Cardoso-, o
valor pago pela concessão é transferido para tarifa.
A partir de agora as concessões
não serão mais onerosas, mas pela menor tarifa.
Mais que isso. O país dispõe de
um grande estoque da chamada
"energia velha" -de hidrelétricas que já foram depreciadas com
o tempo. A cada ano o investimento se deprecia em 1/30, resultando daí uma redução proporcional da tarifa.
Pelo modelo em vigor, toda essa
energia seria jogada em um livre
mercado. Assim, o preço da
"energia velha" tendia a se igualar ao preço da nova energia. Ou
seja, todas as tarifas eram puxadas para cima.
Pelo novo modelo, será criado
um órgão -o ACEE (Administrador dos Contratos de Energia
Elétrica)-, incumbido de negociar a contratação de energia em
nome de 64 distribuidoras existentes. O preço será um "mix" da
energia velha com a energia nova. A cada ano que passar, haverá pressão para baixo, da energia
que fica mais velha, e pressão para cima, da nova energia que entra no sistema. Esses contratos serão por prazo de 20 anos, e as distribuidoras serão a garantidora
do pagamento às geradoras.
Por esse modelo, as geradoras
passam a receber o mesmo tratamento das linhas de transmissão
-que recebem remuneração independentemente do uso que se
faça dela. As geradoras terão uma
receita fixa, independentemente
da geração que produzam. Reduz-se substancialmente o risco
de investimento em geração, que
terá receita assegurada, independentemente de problemas que venha a enfrentar, como razoes hidrológicas ou de outra natureza,
que serão rateados e bancados
por um fundo.
Na outra ponta, aumenta o risco da distribuidora, que será obrigada a bancar uma receita fixa,
independentemente de problemas que venha a enfrentar com a
inadimplência de seus clientes.
Note-se que uma das inadimplências mais usuais é a dos próprios
municípios.
O setor elétrico é intrinsecamente complexo. Por isso vamos
tratar de analisar nas próximas
colunas por tópicos.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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