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EM MARCHA LENTA
Dar subsídios e cortar impostos não acabam com a crise, dizem especialistas, pois setor fez aposta errada
Para analistas, ajudar montadoras não basta
DA REPORTAGEM LOCAL
O pedido feito pela indústria
automobilística nacional ao governo -que passa por subsídios
para estímulo ao consumo e corte
de impostos- seria apenas um
paliativo para a crise que hoje
atinge o setor, sem grandes efeitos
a longo prazo.
Isso porque o problema, na opinião de analistas ouvidos pela Folha, está relacionado à aposta errada que as montadoras fizeram
no passado na retomada do crescimento da economia brasileira.
Elas se instalaram ou ampliaram suas atividades no país a partir de 1995, estimuladas por incentivos fiscais concedidos pelo governo federal e pelos Estados.
De 1991 a 2000, investiram US$
15,8 bilhões no país, segundo a
consultoria Booz Allen. De 97 para cá, a capacidade instalada cresceu de 2,2 milhões de unidades
para 3,2 milhões. Houve a criação
de 19 novas plantas no país.
Mas as vendas, reprimidas pela
renda em queda e pelo desemprego, seguiram caminho oposto:
caíram de 1,9 milhão de unidades
em 1997 para 1,5 milhão em 2002,
segundo a Anfavea (associação
dos fabricantes de veículos).
Para este ano a estimativa da entidade é que seja vendido 1,4 milhão de carros.
Melhora à vista
Apesar da choradeira das montadoras, que pressionam o governo por ajuda, a comercialização
no varejo já mostra sinais de melhora. Na primeira quinzena deste
mês, as vendas aumentaram
11,83% em relação ao mesmo período do mês passado, de acordo
com a Fenabrave (federação dos
distribuidores de veículos).
"Se o governo adotar um programa emergencial para a indústria automobilística, vão ser sacrificados recursos que poderiam ir
para outros setores. E o problema,
que é causado por queda na renda
e pelo desemprego, não vai ser resolvido", diz Gilmar Lourenço,
coordenador do Núcleo de Análise de Conjuntura do Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social).
A posição não é unanimidade
entre especialistas. Alguns acreditam que um socorro do governo
neste momento, apesar de não resolver o problema a longo prazo, é
necessário.
"A crise é grande e afeta outras
cadeias, como a de autopeças.
Além disso, essas empresas realizaram altos investimentos no
país", acredita Daniel Coradi, diretor da EFC (Engenheiros Financeiros & Consultores).
A crise que atinge as montadoras não é restrita ao Brasil, lembram especialistas. Hoje, as indústrias automobilísticas do
mundo apresentam cerca de 30%
de ociosidade.
(MAELI PRADO)
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