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São Paulo, sábado, 26 de julho de 2003

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EM MARCHA LENTA

Dar subsídios e cortar impostos não acabam com a crise, dizem especialistas, pois setor fez aposta errada

Para analistas, ajudar montadoras não basta

DA REPORTAGEM LOCAL

O pedido feito pela indústria automobilística nacional ao governo -que passa por subsídios para estímulo ao consumo e corte de impostos- seria apenas um paliativo para a crise que hoje atinge o setor, sem grandes efeitos a longo prazo.
Isso porque o problema, na opinião de analistas ouvidos pela Folha, está relacionado à aposta errada que as montadoras fizeram no passado na retomada do crescimento da economia brasileira.
Elas se instalaram ou ampliaram suas atividades no país a partir de 1995, estimuladas por incentivos fiscais concedidos pelo governo federal e pelos Estados.
De 1991 a 2000, investiram US$ 15,8 bilhões no país, segundo a consultoria Booz Allen. De 97 para cá, a capacidade instalada cresceu de 2,2 milhões de unidades para 3,2 milhões. Houve a criação de 19 novas plantas no país.
Mas as vendas, reprimidas pela renda em queda e pelo desemprego, seguiram caminho oposto: caíram de 1,9 milhão de unidades em 1997 para 1,5 milhão em 2002, segundo a Anfavea (associação dos fabricantes de veículos).
Para este ano a estimativa da entidade é que seja vendido 1,4 milhão de carros.

Melhora à vista
Apesar da choradeira das montadoras, que pressionam o governo por ajuda, a comercialização no varejo já mostra sinais de melhora. Na primeira quinzena deste mês, as vendas aumentaram 11,83% em relação ao mesmo período do mês passado, de acordo com a Fenabrave (federação dos distribuidores de veículos).
"Se o governo adotar um programa emergencial para a indústria automobilística, vão ser sacrificados recursos que poderiam ir para outros setores. E o problema, que é causado por queda na renda e pelo desemprego, não vai ser resolvido", diz Gilmar Lourenço, coordenador do Núcleo de Análise de Conjuntura do Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social).
A posição não é unanimidade entre especialistas. Alguns acreditam que um socorro do governo neste momento, apesar de não resolver o problema a longo prazo, é necessário.
"A crise é grande e afeta outras cadeias, como a de autopeças. Além disso, essas empresas realizaram altos investimentos no país", acredita Daniel Coradi, diretor da EFC (Engenheiros Financeiros & Consultores).
A crise que atinge as montadoras não é restrita ao Brasil, lembram especialistas. Hoje, as indústrias automobilísticas do mundo apresentam cerca de 30% de ociosidade. (MAELI PRADO)


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