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VISÃO DE FORA
Alicerces sólidos para o abastecimento de água
NANCY BIRDSALL
Nesta era de microprocessadores e exploração espacial, milhões de pessoas na América
Latina e no Caribe ainda sofrem pela ausência milenar de
água tratada e de saneamento
básico.
Isso é o principal problema
para a saúde pública da região,
e só pode ser resolvido com investimentos maciços da ordem
de US$ 8 bilhões a US$ 10 bilhões anuais, o que ultrapassa o
total emprestado ao setor para
cerca de 200 projetos ao longo
dos últimos 30 anos.
Como vão tais recursos? Parece óbvio dizer que os consumidores vão pagar, em algum momento, pelos serviços que utilizam. No entanto, os governos
da região vêm há décadas subsidiando as empresas provedoras de água porque as tarifas
foram mantidas baixas e não
acompanharam a inflação. Assim, as empresas não cobriram
seus custos.
Os subsídios contribuíram para exacerbar os problemas fiscais da região e, por outro lado,
as empresas de água não tiveram os recursos para estender
os sistemas de abastecimento.
Ironicamente, os subsídios muitas vezes beneficiaram os consumidores que mais tiveram capacidade de pagar: as empresas
e os consumidores relativamente bem situados.
Conheço uma família abastada, morando num belo bairro
residencial de uma metrópole
sul-americana, que não consegue que a administração local
mande a conta relativa ao
grande volume de água consumido pela piscina nos últimos
dez anos. Ao mesmo tempo, na
mesma cidade, os pobres devem
comprar água de caminhões-pipa pagando até 20 vezes o custo
da água encanada.
Em tempo: os usuários devem
pagar a conta pelos serviços, e
devem pagar preços que cubram os custos. Evidentemente,
os custos e as contas devem ser
mantidos no nível mais baixo
possível, e é aqui que o setor
privado pode ajudar.
Em algumas das cidades da
América Latina, os empreendimentos privados já conseguiram reduzir entre 25% e 40% as
perdas causadas pelas ligações
ilegais ("gambiarras").
As empresas privadas precisam de três ou quatro empregados por mil consumidores,
diante dos dez ou 15 do setor
público.
Os proprietários privados estão, sim, motivados a realizar a
medição de consumo e fazer a
cobrança.
Infelizmente, a participação
do setor privado pode resultar
em contas mais altas e demissões de empregados. Pode ser
que as empresas resistam em
investir nos bairros pobres. Mas
é possível superar esses problemas. Pode haver, por exemplo,
cláusulas nos contratos com as
concessionárias determinando
que as empresas abasteçam os
bairros de baixa renda. Em alguns casos, pode haver subsídios transparentes para que esse tipo de serviço produza um
retorno aceitável. Os empregados excedentes podem ser reciclados ou entrar em programas
de formação para microempresários.
É verdade que essa proposta,
elevando os custos de serviços e
privatizando o que era tradicionalmente um encargo do setor público, pode enfrentar fortes resistências políticas. Contudo, também pode haver sucesso
político, bem merecido, para
aqueles que conseguirem serviços melhores e acesso socialmente mais justo.
Tradução de
Thomas Nerney
Quem é
NANCY BIRDSALL
norte-americana, 52 anos, doutora em economia pela Universidade de Yale (Estados Unidos) e vice-presidente-executiva do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)
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