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São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 2003

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EXPECTATIVA

Meirelles diz que país voltará a crescer no fim do ano, mas cita poetas e afirma que há gargalos para a expansão

BC vê sinal de retomada e pedra no caminho

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Pela segunda vez em quatro dias, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse que estão dadas as condições para o crescimento da economia brasileira. Mas ontem foi mais longe, dizendo que ""existem sinais que mostram que a economia já está nesse caminho [de crescimento] e que a retomada se dará a partir do último trimestre deste ano".
"Tenho repetido que as condições para essa retomada já estão dadas e devem estar se materializando principalmente a partir do último trimestre do ano", disse, em discurso. O presidente do BC participava de encontro do grupo Lide (que representa 140 empresas e instituições financeiras), em São Paulo. Na mesa, estavam o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Horacio Lafer Piva, o do Bradesco, Márcio Cypriano, e o da Federação do Comércio de São Paulo, Abram Szajman.
Meirelles voltou a mencionar que nas últimas décadas o desempenho da economia brasileira foi marcado por "freadas e arrancadas, com surtos de crescimento de curto prazo". "Bolhas de crescimento se inflam com facilidade. Infelizmente, se desmancham no ar com facilidade ainda maior."
No discurso, citou os poetas Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto. O primeiro, ao falar de entraves para o desenvolvimento sustentado. "Como no verso de Carlos Drummond de Andrade, existem pedras nesse caminho. O desenvolvimento sustentado exige a remoção dessas pedras. Elas são os gargalos que impedem a expansão sustentada da capacidade produtiva da economia brasileira."
A remoção de tais "pedras" passa, segundo ele, pela estabilidade macroeconômica, "pré-requisito para estimular o investimento produtivo e a poupança". Outra das pedras seria o elevado risco Brasil. A queda do risco-país, afirmou, dependeria de políticas ficais e monetárias "consistentes" -leia-se manutenção de superávit primário (com respectiva queda da relação dívida/PIB), melhoria das contas externas, via saldo da balança comercial e aumento de fluxo de comércio.
Mencionaria também a aprovação das reformas da Previdência e tributária e da Lei de Falência.
"Como dizia João Cabral, "um galo sozinho não faz [tece] a manhã", afirmou o presidente do BC, ao sustentar que o crescimento depende de planejamento e políticas governamentais, por um lado, e de decisões de investimentos do setor privado.

"Spread"
Pelo roteiro do encontro, Meirelles se disporia a responder a perguntas dos membros da mesa. Logo na chegada disse que, por normas do BC, estava proibido de fazer comentários acerca da queda dos juros antes da divulgação, prevista para quinta-feira, da ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária, do BC). Os juros caíram de 24,5% para 22% ao ano.
Mas, indagado por Szajman sobre juros ao consumidor e juros de cartões de crédito, afirmou concordar que o "spread" bancário (diferença entre o custo de captação do dinheiro e o que é cobrado do consumidor) é ""muito alto". ""Esperava-se que estivessem em níveis mais baixos que hoje", respondeu. Com ressalva: "Não esperem que a autoridade monetária poderá fazer isso [reduzir "spread"] de forma mandatária. Atitudes como essa não deram certo no passado".
Cypriano (Bradesco) afirmou que a queda dos "spread" depende da melhoria da economia.


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