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EXPECTATIVA
Meirelles diz que país voltará a crescer no fim do ano, mas cita poetas e afirma que há gargalos para a expansão
BC vê sinal de retomada e pedra no caminho
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Pela segunda vez em quatro
dias, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse que
estão dadas as condições para o
crescimento da economia brasileira. Mas ontem foi mais longe,
dizendo que ""existem sinais que
mostram que a economia já está
nesse caminho [de crescimento] e
que a retomada se dará a partir do
último trimestre deste ano".
"Tenho repetido que as condições para essa retomada já estão
dadas e devem estar se materializando principalmente a partir do
último trimestre do ano", disse,
em discurso. O presidente do BC
participava de encontro do grupo
Lide (que representa 140 empresas e instituições financeiras), em
São Paulo. Na mesa, estavam o
presidente da Fiesp (Federação
das Indústrias do Estado de São
Paulo), Horacio Lafer Piva, o do
Bradesco, Márcio Cypriano, e o
da Federação do Comércio de São
Paulo, Abram Szajman.
Meirelles voltou a mencionar
que nas últimas décadas o desempenho da economia brasileira foi
marcado por "freadas e arrancadas, com surtos de crescimento de
curto prazo". "Bolhas de crescimento se inflam com facilidade.
Infelizmente, se desmancham no
ar com facilidade ainda maior."
No discurso, citou os poetas
Carlos Drummond de Andrade e
João Cabral de Melo Neto. O primeiro, ao falar de entraves para o
desenvolvimento sustentado.
"Como no verso de Carlos Drummond de Andrade, existem pedras nesse caminho. O desenvolvimento sustentado exige a remoção dessas pedras. Elas são os gargalos que impedem a expansão
sustentada da capacidade produtiva da economia brasileira."
A remoção de tais "pedras" passa, segundo ele, pela estabilidade
macroeconômica, "pré-requisito
para estimular o investimento
produtivo e a poupança". Outra
das pedras seria o elevado risco
Brasil. A queda do risco-país, afirmou, dependeria de políticas ficais e monetárias "consistentes"
-leia-se manutenção de superávit primário (com respectiva queda da relação dívida/PIB), melhoria das contas externas, via saldo
da balança comercial e aumento
de fluxo de comércio.
Mencionaria também a aprovação das reformas da Previdência e
tributária e da Lei de Falência.
"Como dizia João Cabral, "um
galo sozinho não faz [tece] a manhã", afirmou o presidente do
BC, ao sustentar que o crescimento depende de planejamento e políticas governamentais, por um lado, e de decisões de investimentos
do setor privado.
"Spread"
Pelo roteiro do encontro, Meirelles se disporia a responder a perguntas dos membros da mesa.
Logo na chegada disse que, por
normas do BC, estava proibido de
fazer comentários acerca da queda dos juros antes da divulgação,
prevista para quinta-feira, da ata
da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária, do
BC). Os juros caíram de 24,5% para 22% ao ano.
Mas, indagado por Szajman sobre juros ao consumidor e juros
de cartões de crédito, afirmou
concordar que o "spread" bancário (diferença entre o custo de
captação do dinheiro e o que é cobrado do consumidor) é ""muito
alto". ""Esperava-se que estivessem em níveis mais baixos que
hoje", respondeu. Com ressalva:
"Não esperem que a autoridade
monetária poderá fazer isso [reduzir "spread"] de forma mandatária. Atitudes como essa não deram certo no passado".
Cypriano (Bradesco) afirmou
que a queda dos "spread" depende da melhoria da economia.
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