São Paulo, domingo, 26 de agosto de 2007

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Pecuária é o último setor a recuperar seus preços

Produtores começam a viver período de ganhos após três anos de "vacas magras"

Especialista diz que preços maiores podem injetar R$ 41 bi nas fazendas de gado em 2008, R$ 5 bi a mais do que neste ano

DA REDAÇÃO

Os bons momentos do campo previstos para o próximo ano também passam pela pecuária, o último setor a entrar na lista de recuperação de preços. Amargando valores baixos de negociação nos últimos três anos, o setor havia elevado o volume de abate de animais, principalmente de fêmeas.
Esses abates fizeram com que a última supersafra de bezerros tivesse ocorrido em 2004. Esses bezerros estiveram prontos para o abate neste ano. A partir do próximo, haverá uma queda acentuada na oferta de gado pronto para o abate, o que deve puxar ainda mais os preços para cima.
A avaliação é de Victor Abou Nehmi, do Instituto FNP. Para ele, a pecuária passou por maus bocados e agora está emergindo, devido à queda do rebanho e à menor oferta de animais.
O pecuarista e presidente da UDR (União Democrática Ruralista), Luiz Antonio Nabhan Garcia, diz que "houve uma queda inconseqüente no preço do boi, e isso quebrou a harmonia que havia entre pecuaristas e frigoríficos". Para ele, a manutenção contínua de preços baixos adotada pelos frigoríficos nos últimos anos "pode fazer o tiro sair pela culatra".
Nabhan diz que, mesmo com a elevação, os preços de hoje no mercado apenas corrigem defasagem anterior, pois há três anos ele já vendia gado pelo valor atual. Em algumas áreas de produção, o rebanho teve redução de até 30%, acrescenta.

Em 2008, R$ 41 bi
Os números do rebanho brasileiro são desencontrados. Enquanto o IBGE mantém um número superior a 200 milhões de cabeças de gado, o Instituto FNP, especialista no setor, afirma que o rebanho não passa de 160 milhões.
Nehmi diz que a recuperação de preços pode colocar R$ 41 bilhões dentro das fazendas de gado de corte no próximo ano. Esse valor superaria em R$ 4,6 bilhões o deste ano, quando os preços já estiveram um pouco mais aquecidos que os de 2006.
A pecuária começa a reviver, mas também passa por mudanças. A liderança brasileira no mercado mundial de carne bovina atrai grandes investidores para o setor. Cada um deles já chega a ter rebanhos superiores a 200 mil cabeças. Além disso, os frigoríficos também começam a investir em confinamentos -sistema que facilita a oferta de gado para abate mesmo em entressafra.

Leite
O setor de leite, após um baque no final de 2005, também mostra recuperação. Mesmo com produção maior, o produtor conseguiu, no mês passado, um valor real 19% superior ao da média de 2001 a 2006 para os meses de julho, conforme dados do órgão de estudos Cepea. Gustavo Beduschi, pesquisador da instituição, diz que as demandas interna e externa sustentam os preços.
Internamente, há uma disputa pelo leite entre as indústrias. Externamente, houve uma oferta menor por parte de produtores tradicionais, como Austrália, e maior incorporação desse produto no cardápio alimentar dos asiáticos, que estão tendo elevação de renda nos últimos anos.
O aumento de preços faz os produtores buscarem cada vez mais qualidade e equipamentos novos, o que gera uma demanda industrial no setor. Friedhelm Voswinkel, presidente da WestfaliaSurge, fornecedora de tecnologias para a pecuária leiteira, confirma essa procura. "Devemos alcançar faturamento de 15% a 20% superior ao de 2006."
Com a recuperação de preços no setor, os produtores de leite devem obter R$ 16,6 bilhões no próximo ano com as vendas do produto, valor R$ 3,4 bilhões maior do que neste ano, segundo Nehmi. (MAURO ZAFALON)


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