São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 2008

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Partido de Bush emperra acordo sobre plano

Após lideranças dos 2 partidos anunciarem compromisso pela manhã e animarem mercados, partido governista recua

Bush se encontra com Obama, McCain e líderes do Congresso na Casa Branca, mas reunião acaba com anúncio de impasse

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Poucas horas depois de lideranças dos dois partidos majoritários das duas Casas do Congresso americano anunciarem que haviam chegado a um acordo sobre o pacote proposto pelo governo para aliviar o mercado financeiro, políticos republicanos vieram a público desmentir o compromisso. A reação inesperada de parte de seu próprio partido esvaziou reunião bipartidária convocada por George W. Bush para tratar do assunto.
"Eu posso lhe dizer que não acredito que tenhamos um acordo", disse o senador Richard Shelby, do Alabama, ao deixar a Casa Branca, no final da tarde de ontem. "Ainda há muitas opiniões conflitantes."
Republicano mais graduado do comitê de bancos do Senado, Shelby tem sido o principal crítico do plano que prevê, entre outras medidas, gastos de US$ 700 bilhões de dinheiro público para salvar empresas em dificuldade por conta da crise.
A opinião, logo ecoada por um grupo de republicanos conservadores da Câmara dos Representantes (deputados), jogou água no que havia sido programado pelo próprio governo para ser o início da contagem regressiva para a aprovação do plano no domingo, antes da abertura dos mercados, que ontem, animados com as perspectivas de aprovação do pacote, subiram.
Esses deputados querem um pacote de "livre mercado", com diminuição de impostos e um programa em que o governo (no lugar de comprar os títulos podres) financiaria o seguro dos ativos problemáticos das instituições financeiras -que, em troca, pagariam um prêmio ao Tesouro. Quanto mais problemático o título, maior será o valor a ser pago ao governo.
Com o impasse, o secretário do Tesouro, Henry Paulson, foi ao Congresso na noite de ontem para tentar chegar a um acordo, mas, após algumas horas, as negociações foram suspensas e devem ser retomadas no final da manhã de hoje em Washington.
No processo todo, muitos disseram que a participação do candidato republicano John McCain não ajudou na negociação e atrapalhou o acordo. Ele havia anunciado anteontem que suspenderia sua campanha e pediu que Bush convocasse uma reunião na Casa Branca para que ele e seu oponente, Barack Obama, mais as lideranças do Congresso, discutissem a situação econômica. O presidente aceitou, assim como o democrata.
Pela manhã, lideranças democratas e republicanas do Senado e da Câmara dos Representantes anunciaram que tinham chegado a um acordo básico sobre o pacote, classificado pelo democrata Christopher Dodd como "um compromisso fundamental quanto a uma série de princípios". "Acredito que vamos aprovar a legislação antes que os mercados abram, na segunda", concordou o senador republicano Bob Corker.
A proposta basicamente atendia às exigências principais do governo e incluía as levantadas pelos democratas ao longo da discussão no Congresso. Entre elas, algum tipo de limitação ao pagamento e compensação de executivos das instituições auxiliadas pelo governo e o recebimento de ações das empresas que terão dinheiro público.
Pelo novo esboço, os US$ 700 bilhões pedidos pelo Tesouro para adquirir títulos podres ligados a hipotecas serão divididos em três partes: US$ 250 bilhões agora e US$ 100 bilhões caso a Casa Branca considere necessário. Os outros US$ 350 bilhões podem ser usados sem aprovação do Congresso, que tem 30 dias para se opor.
À tarde, essas lideranças, mais a presidente do Congresso, a democrata Nancy Pelosi, o líder da maioria no Senado, o democrata Harry Reid, e os dois candidatos à Presidência se encontraram com Bush. No começo da reunião, o presidente disse que "esse encontro é uma tentativa de levar o processo adiante. Minha esperança é que cheguemos a um acordo muito brevemente".
Então, em vez de Bush, Pelosi, Reid, McCain e Obama saírem pela porta da frente da Casa Branca, posarem para a foto oficial e anunciarem que haviam chegado a um compromisso básico, os participantes começaram a deixar a residência presidencial separados. Não houve anúncio oficial, e democratas passaram a acusar republicanos de faltar com a palavra. "Eles precisam combinar direito entre si", atacou o senador Dodd, na saída.
Logo, a porta-voz Dana Perino soltava declaração em que procurava colocar panos quentes. "A Casa Branca e as lideranças do Congresso prometeram continuar trabalhando juntas para finalizar o plano", disse. "Há um senso claro de urgência e um acordo quanto à necessidade de estabilizar os mercados financeiros e evitar que uma crise financeira maciça afete a todos nos EUA."


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