São Paulo, sábado, 26 de setembro de 2009

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Bric leva 5% mais no FMI e Lula festeja

Brasil, Rússia, China e Índia queriam mais 7% no Fundo, mas G20 concede menos e deixa para mais tarde os detalhes

Documento final diz que G20 se torna "1º fórum" de cooperação econômica global e que estímulos ainda são necessários contra crise


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PITTSBURGH

O Brasil e seus parceiros no Bric (Rússia, Índia e China) queriam uma transferência de 7% nas cotas do FMI (Fundo Monetário Internacional) dos países ricos para os emergentes e em desenvolvimento e saíram com "pelo menos 5%", mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva festejou: "Foi uma vitória extraordinária".
Pode até ser, pela imensa dificuldade na negociação (veja texto à pág. B4), mas significa na prática que o poder de fogo dos países emergentes/em desenvolvimento passará a ser de apenas 45%, grosso modo, ante 55% dos ricos, em vez do empate meio a meio que ocorreria com os 7%.
Além disso, na reforma do Banco Mundial, o Bric queria uma troca de 6% das cotas dos ricos para os emergentes/em desenvolvimento. Levaram a metade.
Além disso, a formulação do comunicado final da cúpula do G20 encerrada ontem em Pittsburgh joga para a frente a negociação dos detalhes, conforme admite um dos mais importantes negociadores brasileiros. Diz: "Estamos comprometidos com uma mudança na fatia das cotas do FMI para mercados emergentes dinâmicos e países em desenvolvimento de ao menos 5% de países sobrerrepresentados para países subrrepresentados usando a atual fórmula de cotas como base para trabalhar".
Fica, portanto, para novas negociações definir se há países emergentes também sobrerrepresentados, caso em que teriam que ceder cotas, como há um país europeu (a Espanha) subrrepresentado, sem contar o fato de que o conceito de "países emergentes dinâmicos" é suficientemente vago para que surjam vários candidatos à redistribuição.

Comunicado final
De todo modo, o comunicado final adotou um tom de grandiloquência, à beira da euforia: "Reunimo-nos no meio de uma transição crítica para a recuperação para virar a página de uma era de irresponsabilidade e adotar um conjunto de políticas, regulações e reformas para enfrentar as necessidades da economia global do século 21".
Por partes: os líderes reconhecem que ainda não se chegou à recuperação, ao dizerem que se está em transição para ela, até porque afirmam também que, "em muitos países, o desemprego permanece inaceitavelmente alto" e que "as condições para uma recuperação da demanda privada ainda não estão totalmente dadas".
Por isso mesmo, jogaram para "o momento certo" no futuro "a retirada de nossa extraordinária política de apoio de uma maneira coordenada e em cooperação".
Quando mencionam o conjunto de políticas para o século 21, referem-se à proposta norte-americana, recolhida só no nome no documento final ("Moldura para Crescimento Forte, Sustentável e Equilibrado").
Como a Folha informou ontem, essa moldura será discutida no G20, em vez de no FMI, como queriam os Estados Unidos, e a discussão não terá caráter intrusivo. "Não haverá ingerência em nenhum país. Nunca deu certo", resumiu o presidente Lula.
O G20 foi designado como "primeiro fórum para nossa cooperação econômica internacional". A palavra fórum é eloquente: o grupo não determinará políticas nem sanções, mas claramente substitui o G8 no gerenciamento da política econômica global.
No capítulo regulação, há um longo caminho a andar para que se possa dar por encerrada a "era da irresponsabilidade": o G20 adotou o conjunto de propostas já aprovadas pelo FSB (Conselho de Estabilidade Financeira, na sigla em inglês) há três semanas. De fato, preveem aumentar o capital próprio dos bancos, para evitar o excesso de alavancagem que foi uma das marcas da "irresponsabilidade". Preveem igualmente limitar a remuneração dos agentes financeiros, mas os detalhes, que são críticos nesse assunto, ficaram para 2010.


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