São Paulo, sábado, 26 de setembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bric e europeus se dividem por FMI

Discurso de unidade do G20 oculta a batalha de emergentes por mais espaço e voz dentro do Fundo

Países europeus, candidatos a ceder espaço ao Bric no FMI, protestaram; grupos foram colocados em salas separadas em Pittsburgh


DO ENVIADO ESPECIAL A PITTSBURGH

Todos os cânticos à unidade do G20, entoados pelos seus líderes, ocultam que, nos bastidores, a batalha pelos votos no FMI foi tão pesada que os contendores tiveram que ser literalmente colocados em cantos separados.
Não que houvesse o risco de um desforço físico, até porque os envolvidos são na maioria diplomatas. Mas havia, sim, o risco de que se produzisse um impasse que riscaria a unidade de um modo feio.
Numa sala, ficaram os delegados do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), que reivindicavam aumento das cotas deles próprios e dos demais países emergentes e em desenvolvimento no Fundo Monetário Internacional. Na outra sala, os europeus, candidatos óbvios a perder cotas.
Os delegados norte-americanos, como bons anfitriões, iam de uma sala para outra, no leva e traz característico de toda negociação.
Não funcionou até a undécima hora. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva contou ontem que, durante o jantar da véspera que abriu a cúpula do G20, foi informado de que não haveria números na reforma do Banco Mundial (o Bric queria aumentar suas cotas em 6%). Ao voltar para o hotel, no entanto, soube que a negociação estava encaminhada (de fato, o texto final fala em uma mudança de 3%: a metade, portanto, do desejado pelos emergentes).
Quanto ao FMI, nem os negociadores tinham certeza, ao amanhecer a sexta-feira, se haveria menção a números ou não no documento final do encontro -exatamente porque ficaram em salas separadas.
O Bric aceitou a proposta norte-americana de receber, bem como os países em desenvolvimento, mais 5%, ao menos, de cotas, mas ignorava se os anfitriões haviam convencido os europeus. Haviam, mas parcialmente.
O documento final fala em "pelo menos 5%", mas joga os detalhes para novas negociações, que serão tão ou mais duras, segundo a Folha ouviu de um delegado.

Sem xerifes
Não foi apenas no capítulo FMI que houve dissonâncias. Os europeus e a China derrubaram logo a proposta norte-americana de conferir ao Fundo Monetário Internacional o papel de xerife da "economia do século 21", expressão usada no comunicado final do encontro em Pittsburgh.
Não querem monitoramento nem recomendações. Aceitam apenas discutir com seus pares as políticas que estão ou pretendem adotar, no esquema batizado no jargão diplomático de "peer review", ou "revisão pelos pares".
Mas está proibido apontar o dedo para um ou outro.
Também na questão do "desenvolvimento sustentável", codinome para respeito ao ambiente, as divergências tornaram impossível mais que uma ritual referência a uma "recuperação [econômica] verde" e a remeter tudo o mais para a cúpula das Nações Unidas sobre mudança climática marcada para dezembro em Copenhague, na Dinamarca. (CLÓVIS ROSSI)


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Reunião é avanço para prosperidade, diz Obama
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.