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Bric e europeus se dividem por FMI
Discurso de unidade do G20 oculta a batalha de emergentes por mais espaço e voz dentro do Fundo
Países europeus, candidatos a ceder espaço ao Bric no FMI, protestaram; grupos foram colocados em salas separadas em Pittsburgh
DO ENVIADO ESPECIAL A PITTSBURGH
Todos os cânticos à unidade
do G20, entoados pelos seus líderes, ocultam que, nos bastidores, a batalha pelos votos no
FMI foi tão pesada que os contendores tiveram que ser literalmente colocados em cantos
separados.
Não que houvesse o risco de
um desforço físico, até porque
os envolvidos são na maioria
diplomatas. Mas havia, sim, o
risco de que se produzisse um
impasse que riscaria a unidade
de um modo feio.
Numa sala, ficaram os delegados do Bric (Brasil, Rússia,
Índia e China), que reivindicavam aumento das cotas deles
próprios e dos demais países
emergentes e em desenvolvimento no Fundo Monetário
Internacional. Na outra sala, os
europeus, candidatos óbvios a
perder cotas.
Os delegados norte-americanos, como bons anfitriões, iam
de uma sala para outra, no leva
e traz característico de toda negociação.
Não funcionou até a undécima hora. O próprio presidente
Luiz Inácio Lula da Silva contou ontem que, durante o jantar da véspera que abriu a cúpula do G20, foi informado de que
não haveria números na reforma do Banco Mundial (o Bric
queria aumentar suas cotas em
6%). Ao voltar para o hotel, no
entanto, soube que a negociação estava encaminhada (de
fato, o texto final fala em uma
mudança de 3%: a metade,
portanto, do desejado pelos
emergentes).
Quanto ao FMI, nem os negociadores tinham certeza, ao
amanhecer a sexta-feira, se haveria menção a números ou não
no documento final do encontro -exatamente porque ficaram em salas separadas.
O Bric aceitou a proposta
norte-americana de receber,
bem como os países em desenvolvimento, mais 5%, ao menos, de cotas, mas ignorava se
os anfitriões haviam convencido os europeus. Haviam, mas
parcialmente.
O documento final fala em
"pelo menos 5%", mas joga os
detalhes para novas negociações, que serão tão ou mais duras, segundo a Folha ouviu de
um delegado.
Sem xerifes
Não foi apenas no capítulo
FMI que houve dissonâncias.
Os europeus e a China derrubaram logo a proposta norte-americana de conferir ao Fundo Monetário Internacional o
papel de xerife da "economia
do século 21", expressão usada
no comunicado final do encontro em Pittsburgh.
Não querem monitoramento
nem recomendações. Aceitam
apenas discutir com seus pares
as políticas que estão ou pretendem adotar, no esquema batizado no jargão diplomático de
"peer review", ou "revisão pelos pares".
Mas está proibido apontar o
dedo para um ou outro.
Também na questão do "desenvolvimento sustentável",
codinome para respeito ao ambiente, as divergências tornaram impossível mais que uma
ritual referência a uma "recuperação [econômica] verde" e a
remeter tudo o mais para a cúpula das Nações Unidas sobre
mudança climática marcada
para dezembro em Copenhague, na Dinamarca.
(CLÓVIS ROSSI)
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