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OPINIÃO ECONÔMICA
Muita estrada pela frente
BENJAMIN STEINBRUCH
Um brasileiro que tivesse
passado três meses sem notícias sobre o Brasil certamente encontraria dificuldades para reconhecer a economia do país. A seqüência de dados positivos deste
terceiro trimestre mostra que o
cenário econômico melhorou
muito.
A produção da indústria cresce
há seis meses, coisa inédita em
dez anos. Em agosto, o crescimento foi de 13% em relação ao mesmo mês do ano passado. De janeiro a agosto, 8,8%. Como conseqüência, o mercado de trabalho
no setor tem o nível mais alto desde o início do Plano Real. A taxa
de desemprego geral, de 10,9%, é
a mais baixa do ano, embora a
oferta de postos de trabalho ainda esteja muito longe de atender
à demanda.
O crescimento da indústria generaliza-se e atinge quase sem
distinção os setores exportadores
e os voltados para o mercado interno. Na siderurgia, um dos setores importantes, que acompanho
de perto por obrigação e prazer, o
volume das vendas de setembro
foi 33% superior ao de setembro
de 2003. As exportações, em valor,
subiram 41% em nove meses.
A indústria de automóveis, outro setor industrial importante,
bate recordes de produção, que
deve atingir 2,1 milhões de unidades neste ano, e de exportação. De
janeiro a setembro, exportou 463
mil unidades -crescimento de
16%. No Salão de São Paulo,
aberto na semana passada, fabricantes comemoraram a volta do
lucro nas quatro grandes montadoras neste segundo semestre, depois de seis anos de prejuízos.
O varejo espera um Natal gordo. Nos oito primeiros meses do
ano, as vendas cresceram 9,45%.
Em agosto, houve uma pequena
inflexão na taxa de expansão,
mas ela ainda foi de 7,53%.
As exportações gerais são o sucesso já conhecido. Até setembro,
mesmo com o real valorizado
além da conta, o superávit de
mais de US$ 25 bilhões já ultrapassava o do ano passado inteiro.
Produtos básicos e manufaturados sustentam o resultado. O setor de carnes, por exemplo, deve
exportar US$ 6 bilhões em 2004, o
dobro do valor de dois anos atrás.
Até o carente setor de turismo
mostra resultados. A entrada de
visitantes estrangeiros aumentou
15% de janeiro a agosto, e o movimento de embarques internos,
17%.
Por tudo isso, apesar do ingresso insuficiente de investimentos
diretos estrangeiros, o superávit
brasileiro em conta corrente, número que resulta do balanço de
todas as transações do país com o
exterior, alcança US$ 9,6 bilhões.
Assim, a despeito das desconfianças ainda vindas do exterior, o
país está hoje menos vulnerável a
possíveis turbulências globais. A
dívida externa caiu US$ 12 bilhões no primeiro semestre e ficou
em US$ 203 bilhões.
Com o agito da economia e com
algumas novidades tributárias
perversas, como a elevação da alíquota da Cofins, a arrecadação
federal também bate recordes e
apresenta crescimento real (variação acima do IPCA) de quase
12% até setembro, o que dá sustentação à pretensiosa meta de
superávit real de 4,5% do PIB.
O governo Lula tem seus méritos nesses resultados, porque soube passar a idéia de seriedade e
adquiriu credibilidade. Mas alguns setores do governo pecam seguidamente pelo excesso de conservadorismo e isso impede o país
de apresentar desempenho ainda
melhor. O Banco Central, por
exemplo, outra vez foi mais realista do que o rei ao aumentar os
juros além do esperado pelo guloso sistema financeiro.
Apesar de todos os pontos positivos, é didático olhar para fora e
comparar o desempenho brasileiro com os de outros países emergentes. A revista britânica "The
Economist" é uma boa fonte para
essa comparação. Seu levantamento regular revela que todos os
25 emergentes registram crescimento do PIB, a maioria com inflação baixa, superávits fiscais e
redução de dívida externa.
O Brasil está longe de figurar
entre os primeiros dessa lista de
25 emergentes. Rússia, China, Índia, Turquia, África do Sul e vários outros países da Ásia e da Europa central mostram mais dinamismo e disposição de buscar o
crescimento econômico.
Moral da história: o país vive
um bom momento, mas há muita
estrada pela frente, e o Banco
Central não tem o direito de continuar jogando pesado para frear
a economia e reduzir a velocidade do crescimento.
Benjamin Steinbruch, 50, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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