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Consumo em alta preocupa Banco Central
Ata do Copom justifica pausa na queda dos juros com "prudência" em relação a demanda aquecida e pressões inflacionárias
Para especialistas, avaliação
do BC sinaliza que taxa Selic
só volta a cair em 2008 para
que haja tempo de verificar
efeitos dos cortes anteriores
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
A preocupação com a possibilidade de a expansão da economia levar a um aumento da
inflação foi o principal fator
que levou o Banco Central a interromper, na semana passada, o processo de queda dos juros, que já durava dois anos.
Embora o assunto já tivesse sido abordado várias vezes pelos
diretores do BC, desta vez houve unanimidade sobre a necessidade de maior "prudência"
nos cortes da taxa Selic.
Ontem, foi divulgada a ata da
última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do
BC), que decidiu pela manutenção dos juros em 11,25%.
Sem grandes mudanças em relação a documentos de reuniões anteriores, o texto enfatiza a preocupação com o nível
de atividade da economia.
A preocupação do BC é que,
num ambiente em que o consumo esteja crescendo de forma muito acelerada, as empresas não sejam capazes de produzir o suficiente para atender
todas as encomendas que recebem. Nesse caso, poderiam optar por reajustar seus preços
para aproveitar a maior procura por seus produtos, o que alimentaria a inflação.
Essa foi a justificativa apresentada pelo BC para dar uma
"pausa" na redução dos juros,
até que fique mais claro como a
economia vai responder aos
cortes efetuados até agora
-queda de 8,5 pontos desde setembro de 2005. Analistas discutem, agora, quanto tempo essa pausa vai levar.
"Se é para esperar os efeitos
do relaxamento [da política
monetária] sobre a demanda e
a inflação, não parece razoável
voltar a reduzir os juros antes
que fique claro que não haverá
demanda sem atendimento e
pressão inflacionária. A próxima reunião é no início de dezembro, o que parece pouco
tempo para tal tarefa. Assim, a
Selic deve ficar em 11,25% até
16 de abril de 2008", avalia José
Francisco de Lima Gonçalves,
economista-chefe do banco Fator, referindo-se à data da terceira reunião do Copom prevista para o ano que vem.
Já o economista Francisco
Pessoa Faria, da LCA Consultores, afirma acreditar numa queda dos juros já na próxima reunião do Copom, em dezembro.
"Não estamos vendo uma economia tão aquecida assim a
ponto de causar uma pressão
significativa nos preços", diz.
O economista João Saboia,
professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), diz que a atenção dada pelo
BC ao efeito do crescimento da
economia sobre a inflação não
se justifica nas condições
atuais. "Foi uma grande decepção essa parada no corte da taxa
de juros, pela simples razão de
que é uma taxa elevada. O custo
é muito grande. Essa mexida na
Selic para segurar o consumo [é
uma tese] muito distante da
realidade. A inflação está sob
controle, dentro da meta."
Gastos do governo
Um dos fatores que impulsionam o crescimento da economia que preocupa o BC é o
aumento dos gastos do governo, especialmente no pagamento de benefícios sociais.
Segundo a ata do Copom,
além da expansão do crédito e
da renda, o nível de atividade
também responde aos "efeitos
da expansão das transferências
governamentais e de outros
impulsos fiscais esperados para
os próximos meses deste ano e
para 2008". Isso faz com que
"os nítidos sinais de demanda
aquecida" chamem a atenção
para os perigos de uma aceleração da inflação.
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