São Paulo, sexta-feira, 26 de outubro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

O emprego e o pudim da inflação


Custo do trabalho, comércio exterior, alta do real e ritmo mais calmo no crédito não sugerem explosão de preços

A PROVA do pudim da inflação é comê-lo mais caro, embora não seja prudente esperar para ver se o doce vai acabar custando demais -poderia ser uma metáfora para a política monetária. No pudim da economia, entram ingredientes como trabalho, matérias-primas e custo do dinheiro no mercado, além das famosas expectativas, estimativas ou chutes mais ou menos calibrados e interessados sobre inflação, também levados em conta pelos BCs na sua tarefa de definir juros.
Ontem o IBGE divulgou o preço de um dos ingredientes do pudim monetário, o trabalho. O desemprego caiu para 9%, o que para muita gente no mercado significa um número "forte", embora em termos sociais isso seja uma porcaria.
Dado o desconto de que o IBGE trata apenas de seis regiões metropolitanas, não parece haver uma explosão nos rendimentos do trabalho. A soma de todos os rendimentos vem crescendo menos, no acumulado dos últimos 12 meses, para uma média inferior a 6%. Não é pouco, mas a tendência não é de aceleração e a massa salarial cresce mais que a média dos salários -há mais gente sendo empregada por menos. E, na média, os salários do setor privado crescem a um ritmo anualizado 25% inferior ao da média nacional.
Mais interessante, os dados confirmam a conta feita para agosto por economistas do Itaú -alta de 2,4% do salário/hora para incremento de 3,3% da produtividade (em 12 meses) -não parece haver pressão de custo do trabalho na indústria.
A expansão do crédito para pessoas físicas ainda é enorme. Mas o total de empréstimos sobe agora ao ritmo de 18% anuais, contra 26% do mesmo período do ano passado.
O preço médio das importações, acumulado em 12 meses, cresce à metade do ritmo de 2006; o das exportações sobe mais devagar desde o final de 2006. E o preço dos bens comercializáveis no mercado externo tem causado impactos localizados no varejo. Apesar de aumentos brutais em alguns produtos que pesam nos IPCs (carnes, grãos), não parece que estejamos a importar inflação. A nova rodada de valorização do real deve ajudar a conter reajustes.
Há uma incógnita a respeito das vendas do varejo. Parecem crescer mais devagar, mas tal índice costuma ser volátil. Mas é fato que o povo come mais, compra mais eletrodomésticos ou cimento. E é fato que a inflação foi ao patamar de 4%, contra os 3% de um ano atrás.
Muito mais impreciso é se fiar em modelos genéricos para avaliar a tendência de preço de alimentos. De grãos cotados em Bolsas mundiais a leite, frutas, batatas e cebolas, os produtores reagem a aumentos de preços de modo diverso e em ritmos diferentes, mas reagem, com mais oferta. De resto, os preços têm flutuado por motivos variados, de quebra de safra a pressões mais estruturais. Embora o patamar de preços da comida possa ficar elevado, parece incerta uma alta generalizada.
Ainda será preciso esperar dois ou três meses de índices de inflação a fim de que se possa verificar se o preço do pudim vai desandar. Que o BC sente sobre os juros nesse período não vai fazer lá grande diferença, se alguma, na atividade econômica (embora juros pesem no gasto público). Mas, por ora, o rumorejo sobre inflação soa algo histérico.

vinit@uol.com.br


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