São Paulo, terça-feira, 26 de novembro de 2002

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VIZINHO EM CRISE

Lavagna, ministro da Economia, diz que o FMI impõe condições inaceitáveis para que o acerto não saia

Argentina recusa acordo "a qualquer preço"

DE BUENOS AIRES

O ministro argentino Roberto Lavagna (Economia) afirmou ontem que o país não vai fechar um acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) "a qualquer preço". Ele lembrou que a Argentina não cumpriu 15 dos 19 acordos que fez com o FMI e que o país não vai mais fazer promessas que não pode cumprir.
As declarações de Lavagna, que está na França, são resultado da crescente dificuldade de o país conseguir chegar a um consenso com os técnicos do FMI, que, na avaliação dos argentinos, impõem condições inaceitáveis.
Entre os negociadores argentinos, a avaliação agora é que o FMI está postergando uma definição porque não tem a intenção de fechar um acordo com o governo Duhalde, que deve deixar o poder em maio. A troca de governo poderia, segundo essa avaliação, comprometer o cumprimento das metas acordadas com o FMI.
O próprio Lavagna não se cansa de dizer que há condições técnicas para que se feche um acordo, insinuando que o problema é a falta de vontade política do Fundo para fechá-lo.
Da Índia, Anne Krueger, vice-diretora-gerente do Fundo, fazia avaliação contrária, ou seja, ainda faltam ajustes técnicos para que o organismo aprove um novo programa de ajuda à Argentina.
Lavagna começou ontem, pela França, uma série de visitas que fará na Europa. Ontem, o ministro afirmava que o propósito das visitas será explicar aos europeus a conjuntura econômica do país que, na avaliação dele, começou a melhorar nos últimos meses.
"No exterior, as análises eram muito negativas. Se falava de hiperinflação, queda sem fim da economia, agonia do sistema financeiro. A percepção estrangeira ainda está marcada por essa visão que foi desmentida pela realidade", afirmou Lavagna.
Mas o ministro terá também que enfrentar as cobranças dos governos e empresas europeus. Sedes de várias das empresas multinacionais que se instalaram na Argentina na década de 90, os países europeus devem "sugerir" políticas que considerem adequadas para a Argentina.
Dois temas sensíveis para os europeus devem ser tratados pelo ministro. O primeiro é a situação das empresas européias do setor de serviços públicos, que estão com as tarifas congeladas há quase um ano -a inflação do período vai ultrapassar 40%.
O segundo tem a ver com a reestruturação da dívida. Na equipe de Lavagna, a avaliação é que dificilmente se pode chegar a um acordo com os credores privados enquanto o país não regularizar sua situação com os organismos internacionais: há duas semanas, o país deixou de pagar US$ 805 milhões ao Banco Mundial.


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