São Paulo, sexta-feira, 26 de novembro de 2004

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BASTIDORES

Queda da taxa dos juros só em março

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Nos debates reservados do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ouviu do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, que ele e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, avaliam que será possível voltar a baixar a taxa básica de juros da economia (Selic) a partir de março do ano que vem. Hoje, a Selic está em 17,25% ao ano.
Se se confirmar a previsão, argumentam Palocci e Meirelles, o ano de 2006, quando Lula deverá disputar a reeleição, terá um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) parecido com o deste ano.
Ou seja: acima de 4,5%, como disse Palocci na última segunda-feira, em reunião com Lula, 16 outros ministros e o presidente do PT, José Genoino.
Lula, portanto, já está preparado para um crescimento menor do PIB em 2005. Avalia-se que as últimas elevações da Selic, que tiveram início em outubro, pouco antes do primeiro turno das eleições municipais, frearão o crescimento no ano que vem e o deixarão por volta de 3,5%.
Isso explica porque Lula sempre diz que prefere crescer menos, mas durante vários anos. Ele ficou contrariado com as recentes altas da Selic, mas, para consumo externo, defende as medidas para não enfraquecer Palocci e para evitar um repique da inflação.
Palocci e Lula também esperam contar com mais recursos no Orçamento, bem como a concretização de PPPs (Parcerias Público-Privadas), projeto em votação no Congresso, para terem um maior volume de obras federais nos dois últimos anos do governo petista.
A combinação de uma política monetária mais "amena" com um suposto aumento de obras federais vitaminaria a chance de reeleição de Lula e atrairia aliados para apoiar um segundo mandato.
Mas fatores externos podem inviabilizar a promessa de Palocci e Meirelles. Em outros momentos, Lula foi contrariado pelos dois e pelo Copom (Comitê de Política Monetária). Mas, como diz um auxiliar de Lula, convém lembrar que Palocci é antes de tudo um político e que reconhece a firmeza pública de Lula na defesa de sua política econômica. Traduzindo: o ministro da Fazenda, dentro da margem econômica que dispuser, atenderia aos interesses políticos do presidente.
Levando em conta a previsão do mercado, a promessa de queda dos juros a partir de março faz sentido. Nas últimas consultas às instituições financeiras, o BC colheu a avaliação de que haverá mais duas altas da Selic. Duas de 0,25 ponto percentual em dezembro e em janeiro, o que resultaria numa Selic de 17,75%. A taxa, na previsão do mercado, ficará inalterada em fevereiro e em março e cairá a partir de abril.


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