São Paulo, sexta-feira, 26 de novembro de 2004

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CENSO AGRÍCOLA

Mato Grosso, Estado campeão na produção de soja, é também o líder em derrubada de florestas

Desmatamento é "efeito colateral" de expansão

Fernando Donasci - 15.ago.2004/Folha Imagem
Queimada em área de floresta próxima a plantações de soja em Querência, leste de Mato Grosso


CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA

O "efeito colateral" da expansão agropecuária, especialmente em Mato Grosso, é a destruição da Amazônia. O Estado campeão da soja é também o líder em desmatamento: segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), 10.416 km2 das florestas mato-grossenses (quase uma Jamaica) foram eliminados em 2003, ano em que o desmatamento total amazônico foi 23.750 km2. A previsão para 2004 não é melhor.
O Ministério do Meio Ambiente afirma que o governo não vê contradição entre agronegócio e preservação da floresta. "O que é bom para o país é o agronegócio e a conservação ambiental", diz o secretário de Biodiversidade e Florestas do ministério, João Paulo Capobianco.
Ele afirma, no entanto, que a dinâmica criada em Mato Grosso pelo alto preço das commodities agrícolas capitalizou os "atores [produtores] locais". "E os atores locais pisaram na bola." Capobianco diz também que "qualquer atividade econômica altamente capitalizada" produziria um resultado semelhante.
A soja, que se expande hoje principalmente no leste do Estado, não é a responsável direta pela devastação. Naquela região, as lavouras ocupam principalmente áreas de pastagem abandonadas.
O que a soja faz é valorizar a terra e, com isso, empurrar a pecuária extensiva -que requer menos capital e menos tecnologia- para dentro da floresta.
Como os preços do grão têm estado altos no mercado internacional, a tendência é a expansão. O Grupo André Maggi, principal grupo produtor de soja do país (e do mundo) e pertencente ao governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PPS), obteve neste ano, do braço do Banco Mundial encarregado de financiar a iniciativa privada, US$ 30 milhões para capitalizar seus fornecedores de matéria-prima no leste do Estado.
Ambientalistas criticaram a classificação do projeto pela instituição financiadora na categoria de risco ambiental intermediário. Para eles, o aporte à Maggi é um precedente para o financiamento, sob os mesmos critérios, da expansão da pecuária.
Os governos federal e estadual não têm conseguido fazer cumprir a legislação ambiental no Estado. O Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento do governo federal começou em agosto, bem depois do pico do desmatamento, e o sistema de licenciamento rural de Mato Grosso, pioneiro no uso de imagens de satélite para flagrar infrações, foi desmobilizado. "Se está funcionando, não está gerando resultado", diz Capobianco.


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