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Pioneira, rede de lojas Casas Pernambucanas faz 100 anos
Para reposicionar sua marca no setor, varejista lançou loja virtual e diversificou rol de produtos, com celulares e linha própria de calçados
Com 280 unidades e R$ 3,8 bi de faturamento, empresa emprega hoje 15 mil funcionários
DA REPORTAGEM LOCAL
Um jantar e um show para
convidados no Credicard Hall,
em São Paulo, marcarão hoje as
comemorações do aniversário
de cem anos da Casas Pernambucanas. A rede é a única varejista criada no país, ainda com
controle familiar e nacional, a
atingir a marca histórica, completada em 25 de setembro.
Com faturamento de R$ 3,8
bilhões no ano passado, 280 lojas e 15 mil funcionários, a Pernambucanas apresenta números sólidos dentro do disputado
ramo de varejo. Nos resultados
reportados no ano passado, a
empresa obteve faturamento
18,2% superior ao alcançado
em 2006. O lucro líquido ficou
em R$ 98 milhões, o que representou 3,3% das suas vendas líquidas, de R$ 2,9 bilhões.
Essa margem líquida da empresa se destaca no setor, marcado pelo giro alto e pela disputa acirrada entre os concorrentes. A Lojas Americanas, por
exemplo, tinha margem líquida
de 1,2% neste ano, até setembro. Já a margem do Pão de
Açúcar, a maior rede listada na
Bovespa (Bolsa de Valores de
São Paulo), é de 1,7%.
Revezamento de poder
O comando da Arthur Lundgren Tecidos -Casas Pernambucanas SP- é revezado entre
Anita Louise Harley e Frederico Axel Lundgren. Anita, presidente da Pernambucanas, é neta de Arthur Herman Lundgren, o fundador da rede. Lundgren criou as lojas em 1908 para
dar vazão à produção da CPT
(Companhia Paulista de Tecidos), que comprara quatro anos
antes, em Paulista (PE).
Inovadora em vários aspectos, a rede tinha, na década de
1920, um Manual de Procedimentos, no qual orientava gerentes das lojas a fazer "reclames em circos e cinemas". Porteiras de fazendas, morros, pedras e lonas de circo transformaram-se, assim, nos primeiros outdoors do país, fixando a
imagem da marca na mente da
consumidora de tecidos e linhas de cama, mesa e banho.
Na década de 1970, um desenho animado da Pernambucanas, que tinha como protagonista o frio anunciando sua
chegada, se tornou um clássico.
Exibida até hoje como símbolo
da criatividade nacional, a frase
"Quem bate? É o frio!" tornou-se um dos maiores ícones da
propaganda brasileira.
Além da comunicação forte, a
Casas Pernambucanas usou como estratégia abrir lojas seguindo a rede ferroviária construída na década de 1930, durante a Era do Café. Uma das
primeiras a contratar mulheres
como vendedoras, a Pernambucanas também inovou ao tirar os tecidos das prateleiras e
colocá-los nas mãos das consumidoras. Esteve entre as primeiras a usar carnês para crediário e cartões de financiamento próprio.
Assim, entre as décadas de
1920 e 1970, as empresas da família Lundgren prosperaram e
se transformaram no maior
complexo têxtil da América do
Sul.
Segundo especialistas em varejo, trabalhar na Pernambucanas à época tinha o mesmo
prestígio de ser funcionário do
Banco do Brasil ou dos Correios. A empresa chegou a ter
800 lojas espalhadas pelo país.
O grupo, no entanto, não resistiu à disputa entre os herdeiros nas décadas de 1970 a 1990.
Separadas, as operações de Pernambuco e do Ceará desapareceram. Os negócios no Rio foram à falência. Só a Arthur
Lundgren Tecidos, de Anita,
com operações em São Paulo,
prosperou e hoje compete com
os grandes concorrentes.
"As empresas de varejo têm
de acompanhar o tempo e se
realinhar conforme a mudança
de comportamento dos consumidores", afirma José Roberto
Martins, sócio da consultoria
Global Brands, especializada
em construção de marca. "A
Pernambucanas nasceu na
época dos armarinhos e não pode abandonar o apelo de cama,
mesa e banho com as suas consumidoras", avalia.
Porém, segundo Martins, ao
tentar se readequar às novas
demandas do consumidor, a rede entrou numa zona cinzenta.
"Ela não é nem o Magazine Luiza nem a Marisa nem a Casas
Bahia nem a Renner", diz Martins. "Concorre com todos e
não conseguiu um reposicionamento claro para a marca."
Para ajudar nessa busca por
um novo posicionamento, há
cinco anos Anita contratou
Marcelo Silva, ex-presidente da
cadeia de supermercados
GBarbosa. Foi lançada a loja
virtual e diversificado o leque
de produtos, com celulares e
uma linha de calçados própria.
Nos últimos anos, o cartão Pernambucanas ultrapassou os 14
milhões de usuários.
Além da festa programada
para hoje, a Pernambucanas
lançou, como parte das comemorações, uma campanha institucional e outra promocional,
com prêmios e vale-compras,
estrelada pela apresentadora
Angélica. A empresa, cuja direção não concede entrevistas,
também está lançando um livro
comemorativo e patrocinará o
filme "O Menino da Porteira",
com o cantor Daniel.
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