|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPINIÃO ECONÔMICA
Integração: saber e fazer
LUIZ GONZAGA BERTELLI
A empresa é a unidade da
produção de bens e serviços.
Por outro lado a universidade é a
unidade da produção do capital
humano e, como tal, exerce um
papel extremamente relevante no
processo do desenvolvimento sustentável de um país.
Como diria o professor Jerome
Wiesmer: "Um bom sistema educacional pode ser a flor do progresso das nações, mas é, também
e principalmente, sua semente".
Até recentemente, a universidade brasileira e as nossas organizações empresariais seguiam rotas
paralelas, sem o esforço maior de
sinergismo. Atualmente, graças
aos programas do Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee),
das iniciativas das escolas superiores e de outras instituições, milhares de empresas, em todo o
país, estão abrindo suas portas visando a uma conjugação de esforços com os educadores, na interação da juventude estudantil no
mercado de trabalho e na sociedade brasileira.
Dessa forma, a indústria, o comércio, a agroindústria, os bancos e outras atividades exercidas
pela iniciativa privada ou pública
passam a emprestar realismo à
universidade, inserindo-a no contexto social, para usarmos a feliz
expressão do ex-ministro Roberto
Campos (1917-2001), em vez da
universidade "torre de marfim".
No plano prático, a integração
do mundo do saber (as universidades) com o universo do fazer
(as empresas) ocorre por intermédio do estágio e do treinamento
dos estudantes do ensino médio e
superior nos mencionados estabelecimentos e na atividade pública. Constituem praxes, que permitem o estabelecimento de um
efetivo elo entre o ensino teórico e
o prático, complementando-se,
operacionalmente, assim, a formação e a experiência profissional do estudante.
Desde a sua fundação, há quase
quatro décadas, o Ciee já concedeu mais de 3 milhões de estágios,
com o pagamento de bolsas-auxílio aos estudantes de ensino médio e superior, por intermédio de
suas 200 unidades espalhadas pelo país.
É inquestionável, em decorrência, o entendimento que o esforço
de integração da escola com a
empresa situa-se na raiz do processo do desenvolvimento sustentável nacional, a partir da premissa maior de que o desenvolvimento dos povos não acontece como um acidente, fortuitamente
ou como subproduto dos recursos
naturais.
Felizmente, o ensino superior
brasileiro experimenta um período de expansão acelerado, com
aumento de 43% no número de
matrículas entre 1994 e 2000. Caso mantenha essa expressiva taxa
de crescimento, haverá mais de 3
milhões de alunos matriculados
nos cursos superiores. Contudo,
nos dias atuais, apenas 17% dos
brasileiros, de 18 a 24 anos, encontram-se nas escolas superiores.
Esse índice é um dos menores
da América Latina. Na Argentina, 42% das pessoas nessa faixa
etária são universitários. No Chile, 31% e na Bolívia, 24%.
No final de 2002, as instituições
superiores particulares respondem por mais de 70% do total das
matrículas contra 30% das universidades públicas, que deixaram de crescer nos últimos anos.
A grande maioria dos universitários brasileiros é de família de
renda e grau de instrução modestos.
A elitização do ensino brasileiro
aparece nas instituições mais procuradas. Públicas em sua maioria, elas têm a maior parte das
suas vagas preenchidas por candidatos oriundos das melhores escolas do ensino médio particulares, acessíveis apenas a uma minoria.
Por outro lado os jovens estudantes de renda mais baixa, que
cursaram gratuitamente escolas
governamentais, acabam ingressando nas faculdades pagas e particulares e, na sua média, com o
ensino de qualidade inferior. No
último vestibular da Fuvest, três
em cada quatro calouros (76%)
concluíram o ensino médio em escolas particulares.
O fortalecimento do sistema de
ensino, em todos os níveis, é condição sine qua non para que possamos pensar num desenvolvimento auto-sustentado, concedendo ao Brasil efetivas condições
para apresentar produtos atraentes e de melhor qualidade no disputado, competitivo e cada vez
mais exigente mercado internacional.
Precisamos, ainda, melhorar a
condição salarial dos nossos professores, pois em uma amostragem de 38 países, Peru e Indonésia são os que ainda pagam salários mais baixos do que os do Brasil. Nessas nações, os salários
anuais médios são, respectivamente, de US$ 4.752 e de US$
1.624 e, entre nós, o valor chega a
US$ 4.818, conforme a matéria
publicada na revista "Educação"
de novembro deste ano.
Luiz Gonzaga Bertelli, jornalista e advogado, é diretor da Federação e do
Centro das Indústrias do Estado de São
Paulo (Fiesp/Ciesp) e da Associação Comercial de São Paulo e presidente-executivo do Ciee (Centro de Integração Empresa-Escola).
Texto Anterior: Da guerra Próximo Texto: Panorâmica - Acordo com o FMI: Reservas sobem a US$ 38,56 bi com novo saque Índice
|