UOL


São Paulo, sexta-feira, 26 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MAL DA VACA LOUCA

Restrições fitossanitárias na Ásia e nos EUA ainda permanecem

Ganho do Brasil não será imediato

Doug Beghtel/Associated Press
Vista da fazenda nos EUA onde a vaca doente teria sido morta


SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

A suspensão das importações de carne bovina dos Estados Unidos por 25 países, devido ao aparecimento de um caso da doença da vaca louca no país, não deverá provocar um aumento das exportações brasileiras no curto prazo.
"O Brasil tem dificuldades para vender carne aos EUA e aos mercados para os quais ele exporta, devido a acordos fitossanitários existentes entre esses países", diz o economista Fábio Silveira, da F. Silveira Consultoria.
Países como Japão e Coréia do Sul, por exemplo, são muito exigentes do ponto de vista fitossanitário e não compram do Brasil porque o país teve problemas com a febre aftosa por décadas.
"Na verdade, trata-se de uma barreira comercial, pois nossa carne desossada não teria nem como levar o vírus da aftosa para outros países", diz o presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), Laucídio Coelho Neto, 58.
Hoje a doença está sob controle, "mas não é fácil entrar nos mercados privativos dos produtores norte-americanos", lembra Fábio Dias, da Agropecuária CFM, de São José do Rio Preto (SP).
Segundo Dias, há entre os pecuaristas locais uma visão imediatista de que o aparecimento da vaca louca nos EUA favorecerá o Brasil. "No primeiro momento, os países que estão suspendendo compras dos Estados Unidos passarão a importar da Austrália, que não tem problemas sanitários."
As oportunidades de negócios para o Brasil deverão surgir a médio prazo, segundo José Olavo Borges Mendes, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Zebu. "Para isso, temos de melhorar os controles sanitários e investir no marketing do nosso gado, que é produzido com pasto e não corre risco da doença."
Marcus Vinicius Pratini de Moraes, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne, também defende o aumento de investimentos em defesa sanitária para aproveitar a brecha aberta no mercado. Ele prevê um aumento de 15% e 20% nas exportações brasileiras, em 2004, devido ao aparecimento da doença da vaca louca nos EUA.
A doença também pode "servir de pressão" para um acordo sanitário entre Brasil e Japão e Coréia do Sul, favorecendo a exportação, segundo Coelho Neto. Isso consolidaria a posição do país no mercado mundial.
O Brasil tornou-se neste ano o maior exportador de carne bovina graças a uma dose de competência e outro tanto de sorte. Até 1995, o país exportava apenas o excedente do mercado interno e, quando o consumo local crescia, deixava de exportar.
Nos últimos anos, melhorias introduzidas no plantel e no controle da aftosa permitiram que os produtores locais ocupassem o mercado que a Argentina perdeu devido à epidemia de aftosa que atingiu seu rebanho em 2000.
"Neste ano, nossas exportações ultrapassaram as da Austrália devido a uma forte seca que reduziu a produção desse país", diz Dias. Os EUA, que eram o segundo maior exportador mundial, perderam a liderança para o Brasil por uma pequena diferença, de apenas 300 mil toneladas.


Texto Anterior: Mal da vaca louca: Veto à carne dos EUA pode custar US$ 2 bi
Próximo Texto: Consumo e preço da carne podem cair
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.