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OPINIÃO ECONÔMICA
Mais um ano juntos!
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Minha primeira coluna
na Folha foi escrita em
1979. O Brasil começava a viver os
ventos doces da democracia e eu e
um grupo de colegas e amigos da
época da universidade, percebemos que era chegado o momento
de voltarmos à política e ao debate público. A oportunidade que o
dr. Otavio Frias me dava -aconselhado pelo José Serra, que estava deixando o quadro de colunistas de seu jornal- abriu para
mim o caminho do debate econômico.
Minhas primeiras colunas
-que eu reli com cuidado algum
tempo atrás- refletiam uma
grande dose de imaturidade profissional e carregavam um estilo
áspero e de difícil leitura. Mas
mostravam já uma certa irritação com uma leitura dogmática
que já se fazia à época da economia no Brasil. Vivíamos tempos
em que o oficialismo econômico
era representado pela Fundação
Getúlio Vargas do Rio de Janeiro.
Mario Simonsen ainda era o czar
da economia -não o seria por
muito tempo- e preparava um
ajuste ortodoxo para enfrentar
uma inflação que se aproximava
dos 100% ao ano e um desequilíbrio grande de nossa conta corrente externa.
Muita água passou debaixo da
ponte do tempo nesses 24 anos
que separam aqueles dias do encerramento deste curioso ano de
2003. Amadureci com uma vida
profissional e política bem vivida,
fui oposição e situação, pedra e
vidraça, crítico e criticado, ganhei
e perdi e é com esses olhos que escrevo esta minha última coluna
do ano.
Neste longo período de tempo,
estive mais na oposição do que na
situação quando se trata de análise da política econômica dos governos de plantão. Essa vocação
oposicionista não derivou da herança genética do monsenhor
Mendonça, meu tio-avô e que ficou conhecido no sul de Minas
Gerais pelo seu mau humor com
os poderosos. Pelo contrário, predominam em minha personalidade os traços doces de minha
mãe.
Esse viés para o contraditório
nasceu de minha forma particular de entender o fenômeno econômico e da gestão da política
econômica. Não cheguei ao liberalismo pelo caminho da ideologia, mas pelo do pragmatismo.
Antes de áulico do capitalismo
clássico e neoclássico, fui um crítico construtivo da chamada economia de mercado. Sempre vi esse caminho como um "second
best solution", ficando minha primeira escolha utópica com o socialismo do inicio do século passado.
Cheguei a essa minha visão, hoje definitiva, não como uma decisão pontual e terminada, mas por
um processo de amadurecimento
longo das idéias de Keynes. Mas
tive também a felicidade, ou mérito, de nunca ser um keynesiano
ortodoxo. Aprendi com ele que as
economias evoluem com as sociedades e, portanto, com o tempo e
a tecnologia, o que obriga o economista a ser um homem da modernidade e da realidade. Aprendi neste processo a separar a teoria econômica da política econômica. A primeira é necessariamente construída a partir de um
entendimento abstrato do fenômeno econômico; a segunda depende, a cada momento, das condições objetivas de uma sociedade, de seu tempo e de suas lideranças.
Essa opção leva a caminhos
mais difíceis, pois obriga o analista a um esforço extraordinário de
acompanhamento e compreensão do tempo e do lugar em que
ele exerce sua atividade. Com isso, joga-se fora um dos instrumentos mais eficientes da análise
econômica, que é a repetição de
ciclos e comportamentos de mercado. Feliz o economista que
acredita em seu modelo teórico,
tirado de livros textos de qualidade, e que pode ser aplicado com
frequência para explicar o futuro
de uma determinada economia.
Ele será reconhecido pela opinião
pública na maior parte do tempo
e julgado com parcimônia em
seus erros.
Mas não me arrependo do caminho que trilhei. Embora carregue comigo derrotas frequentes
na proposição de caminhos e alternativas, vivo com a doce sensação de que, se tivesse sido ouvido
em determinados momentos, os
eventos econômicos e sociais teriam acontecido de forma mais
eficiente. Principalmente quando
estive no governo, em 1985 e 1996.
Quando em minha atividade profissional tive o poder de decidir e
escolher os caminhos que me pareciam os mais corretos, os resultados foram mais que satisfatórios; não posso reclamar!
Neste nosso último encontro do
ano, achei que deveria abrir um
pouco minha alma para os leitores da Folha. Parece-me importante que aqueles que me acompanham semanalmente nessa tarefa árdua de refletir sobre economia e finanças conheçam meu
processo de análise e pensamento.
Um feliz ano a todos.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 61,
engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e
ministro das Comunicações (governo
FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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