São Paulo, terça-feira, 27 de janeiro de 2004

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LEITE DERRAMADO

Dívida da empresa é oito vezes maior, afirma consultoria

Parmalat cria unidade para auxiliar a filial no Brasil

DA REDAÇÃO

Os interventores que administram o grupo Parmalat anunciaram ontem a criação de uma "unidade de crise" para ajudar a filial no Brasil, onde o pagamento dos fornecedores não tem sido efetuado no prazo.
Em comunicado divulgado ontem, os administradores, nomeados pelo governo italiano após a eclosão da crise, afirmam que "a atividade industrial do grupo se estabilizou tanto em âmbito nacional quanto internacional".
No entanto "algumas exceções têm sido registradas", diz o comunicado, ao indicar que os Estados Unidos e o Brasil são dois dos países nos quais os pagamentos estão sendo adiados por falta de condições da matriz. Em seguida, porém, a nota afirma que "já estão em funcionamento unidades de crise que têm como objetivo auxiliar os executivos locais para que possam solucionar as necessidades financeiras e alcançar um acordo com os bancos".
Também ontem foram revelados novos números relativos ao último balanço divulgado pela companhia italiana, no fim do ano passado. Uma auditoria da PriceWaterhouseCoopers, contratada pelos interventores, mostrou que a dívida líquida da Parmalat ao fim do terceiro trimestre de 2003 era de 14,3 bilhões, quase oito vezes o valor inicialmente divulgado ( 1,8 bilhão).
Os números do novo balanço mostram outras distorções: o Ebitda (sigla em inglês para lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização, ou seja, geração de caixa operacional) nos nove primeiros meses de 2003 foi de 121 milhões, cerca de um quinto do valor original.
O anúncio dos novos números causou espanto nos mercados porque, até meados de 2003, a empresa ainda tomava emprestado grandes quantias dos principais bancos italianos e internacionais e porque ela era fiscalizada por auditorias independentes.
Dois funcionários da unidade italiana da norte-americana Grant Thornton estão presos no país sob suspeita de terem auxiliado os executivos da Parmalat a praticar atos ilícitos nos anos 90.
A Deloitte & Touche, a principal auditora do grupo alimentício desde 1999, também já foi nomeada como alvo de investigação pelos promotores do caso. Na semana passada, o escritório em Milão da agência de classificação de risco Standard & Poor's foi visitado pelos investigadores.

Crise no Brasil
Com cerca de 6.000 trabalhadores e oito fábricas, a Parmalat do Brasil é uma das unidades mais afetadas pela crise da matriz. Ela já atrasou o pagamento dos fornecedores em ao menos quatro Estados: Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Goiás. Pagou aos produtores dos três primeiros no dia 16, mas ainda deve R$ 1,8 milhão a cinco cooperativas do Estado do Rio.
Segundo a Parmalat, o pagamento às cooperativas depende da liberação de R$ 7 milhões retidos pelo Banco do Brasil. A quantia foi bloqueada para descontar juros devidos pela empresa.
O país ainda pode ter sido destino de parte dos recursos desviados pela matriz. Um dos principais contadores da Parmalat na Itália, Gianfranco Bocchi, afirmou em depoimento que, se os promotores quisessem encontrar o dinheiro desviado, estimado em 10 bilhões, deveriam investigar as operações do grupo no Brasil.


Com agências internacionais

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