São Paulo, terça-feira, 27 de janeiro de 2004

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GIRO INTERNACIONAL

Na Índia, ministro diz que é hora de o Brasil entrar em uma nova fase e ter taxas de Primeiro Mundo

Furlan cobra crescimento e critica juros

Jorge Araújo/Folha Imagem
O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, que integra a comitiva de Luiz Inácio Lula da Silva em Nova Déli, na Índia


GABRIELA ATHIAS
ENVIADA ESPECIAL A NOVA DÉLI

Contagiado pela performance da economia indiana, o ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) afirmou ontem, em Nova Déli, que a economia brasileira "precisa entrar numa nova fase" e começar a crescer. Ele criticou a atual taxa de juros de 16,5%.
Furlan integra a comitiva do presidente Lula, que chegou à Índia no domingo passado para uma visita de quatro dias. Nesse período, já foram assinados cinco acordos bilaterais e um sexto entre o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) e a Índia.
"Estou olhando para a frente. Para um índice de risco-país de 200 pontos e para juros de Primeiro Mundo ou, no mínimo, como a Rússia, a Argentina, o México, a Índia e a África do Sul, que, por exemplo, têm juros nominais de 9%. Estamos vestindo uma carapuça do passado sem olhar para o futuro", disse Furlan.
O ministro ressaltou que não está criticando a política econômica, apenas questiona se já não está na hora de avançar para permitir o crescimento da economia. "Afinal de contas, o Brasil está fazendo "by the book" [como manda o figurino]", acrescentou.
Ao falar sobre juros, Furlan perguntou aos jornalistas: "Sabem qual é o juro para financiamento de automóveis e habitação aqui na Índia?". E ele mesmo respondeu: "Seis por cento, e o país está crescendo entre 6,7% e 8% ao ano e a inflação está sob controle".
A Índia, ao contrário do Brasil, não segue ao pé da letra o receituário do Fundo Monetário Internacional. A dívida pública indiana equivale a 85% do seu Produto Interno Bruto (soma das riquezas produzidas pelo país). Ainda assim, a inflação está controlada e a Índia é a segunda economia que mais cresce no mundo.
Furlan disse ainda que "gostou muito de ler as declarações" do ministro José Dirceu (Casa Civil), que afirmou que a taxa de juros cairá pelo menos quatro pontos percentuais ao longo do ano.
O ministro Guido Mantega (Planejamento) também apoiou a declaração: "Sei que os juros no Brasil podem chegar a um patamar real de 4%. Essa é uma meta".
Apesar de ter citado a Índia como exemplo em termos de crescimento, Furlan fez questão de dizer que o ajuste fiscal é importante para manter em dia as contas do país. Ele só questionou o quanto esse "cinto" deve ser apertado.
"O ajuste fiscal é absolutamente necessário. A intensidade é que tem que ser regulada. Se o doente tem uma febre de 40 graus, o médico receita uma dose do remédio, mas se a febre é de 37 graus, talvez ainda o médico espere mais um dia para medicá-lo." Questionado sobre o atual ajuste, esquivou-se de responder.
Membros da comitiva de Lula afirmaram que o crescimento da Índia é alvo de conversas freqüentes. Chama a atenção dos brasileiros o fato de a Índia, com uma população de quase 1 bilhão de pessoas, ter uma dívida maior do que a brasileira, uma população mais pobre, uma infra-estrutura deficiente e ainda assim ser mais bem cotada do que o Brasil pelas agências de classificação de risco.
Semana passada, a agência Moody"s concedeu à Índia a melhor classificação que um país pode receber dessas agências ("investment grade"). Isso quer dizer que o investidor pode colocar dinheiro nesse país sem temer calote. Uma explicação técnica para o fato são as reservas cambiais da Índia. O país possui US$ 100 bilhões. Já o Brasil, US$ 17 bilhões.


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