São Paulo, sábado, 27 de janeiro de 2007

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Serra leu "plano errado", ataca Mantega

Da Suíça, ministro da Fazenda ironiza críticas de governador paulista ao PAC, que chamou de injustas e precipitadas

Mantega afirma que irá se reunir com Serra na semana que vem para mostrar obras em São Paulo beneficiadas pelo pacote


Wilson Dias/Agência Brasil
O ministro Guido Mantega conversa com o escritor Paulo Coelho em fórum de Davos, na Suíça


GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

O ministro Guido Mantega (Fazenda) reagiu com indignação e ironia às críticas feitas anteontem pelo governador José Serra ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Mantega disse que Serra "ou não leu o plano ou então leu o plano errado". "O Serra deve estar achando que o PAC é o Brasil em Ação ou o Avança Brasil [planos do governo FHC], nos quais ele teve participação. Esses, sim, foram programas tímidos. O PAC não tem nada de tímido", disse.
Serra considerou as medidas fracas e tímidas e disse que sozinhas não devem trazer expansão econômica para o país.
Mantega respondeu ao ataque de Serra por telefone de Zurique, na Suíça, pouco antes de embarcar para Londres, onde terá encontro com Gordon Brown, ministro das Finanças britânico, e investidores.
Mantega usou o mesmo tom de dureza de Serra ao defender o PAC. Ele afirmou que o governador paulista foi injusto e precipitado em suas críticas.
Mantega afirmou que, na próxima semana, irá se encontrar pessoalmente com Serra para levar a lista de obras do governo federal previstas para São Paulo, inclusive do Rodoanel e do Ferroanel. Ele disse que já pediu para seus assessores prepararem esse levantamento.
"Economista tarimbado que é, Serra deveria ter analisado com mais cautela e profundidade o plano, ou será que seus assessores passaram a ele o relatório errado?", perguntou Mantega, de forma irônica. "O Serra pode ter se confundido. O plano é extenso e sofisticado."
Mantega disse que o PAC é fincado principalmente nos investimentos públicos, não nos privados. Os recursos são provenientes do Orçamento Geral da União, das estatais e dos financiamentos públicos.
O ministro da Fazenda disse que o plano não foi apenas um ordenamento de projetos de investimentos do governo federal, como afirmou o governador paulista. "O plano foi feito com muito critério. Não é um chute, como o foram o Brasil em Ação e o Avança Brasil. Todos os projetos são exequíveis", disse.
Segundo Mantega, Serra não está se dando conta de que o plano vai abrir espaço para os Estados para uma série de investimentos em diversas áreas, como saneamento. Só para esse setor, Mantega disse que o PAC alocou R$ 7 bilhões. "Nunca houve tanto espaço para endividamento por parte dos Estados e municípios", disse. "O PAC foi bastante generoso com os Estados."
Mantega também reagiu com a mesma moeda quando Serra classificou o plano de contraditório. "Até onde eu sei, o Serra nunca foi um neoliberal, e, por isso, ele deveria apoiar o PAC, que prioriza o investimento público", afirmou.
De acordo com o ministro da Fazenda, o PAC é consistente e vai proporcionar um acréscimo significativo do investimento em relação ao PIB, o que vai gerar um maior crescimento da economia.
Mantega voltou a afirmar também que o PAC não irá sofrer alterações para abrigar eventuais reivindicações por parte dos governadores. A hora, segundo ele, é de desoneração dos impostos. Ele discorda também da argumentação dos governadores de que o programa irá gerar perdas para os Estados.
As maiores perdas para os Estados, segundo Mantega, são oriundas da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, que foi aprovada antes da divulgação do PAC por todos os partidos e pelos governos estaduais.
Sobre a decisão do Banco Central de reduzir o ritmo de queda da taxa de juros, Mantega disse que ele e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, continuam afinados. "Ele tem que entregar no final do ano uma inflação de 4,5% e fazer uma política monetária que não seja uma barreira para o crescimento da economia, e acredito que esteja fazendo isso", disse.
Em sua viagem para Londres, Mantega pretende dar ênfase à política fiscal executada no Reino Unido, que permite abater investimentos públicos do cálculo do superávit primário. Ele vai usar esse exemplo para mostrar que, no Brasil, a redução do superávit primário de 4,25% do PIB para 3,75%, ao descontar esse tipo de gasto, não compromete a sustentabilidade da economia.


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