São Paulo, domingo, 27 de janeiro de 2008

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"Preocupação com crédito e crise é demasiada"

Para Charles Calomiris, da Columbia, Fed errou com juro

DA REPORTAGEM LOCAL

Especialista em risco bancário, Charles Calomiris, professor da Universidade Columbia, não acredita em recessão nos EUA nem em aperto significativo do crédito. Para ele, haverá uma correção nos preços de ações em países emergentes.

 

FOLHA - Entramos em uma fase de pessimismo longo nos mercados?
CHARLES CALOMIRIS
- Eu sou um otimista. Acho que os mercados de ações nos EUA estão subprecificados, apesar de que em alguns países emergentes eles podem estar sobrevalorizados. Não acredito que os EUA vão experimentar uma recessão, mas uma desaceleração. Os receios de aperto no crédito e de crise financeira são demasiados. Vão diminuir até abril ou maio. A inflação vai se tornar uma preocupação maior até lá. E é provável que os juros subam em algum momento da primeira metade de 2009 -justamente depois da eleição.

FOLHA - O senhor acredita na tese do descolamento dos emergentes?
CALOMIRIS
- Não há descolamento acontecendo agora. De fato, há uma dependência mútua e pronunciada [entre os mercados maduros e emergentes]. E isso é uma coisa boa, que pode ajudar a promover um senso de interesse mútuo na política de ambos os lados.

FOLHA - O Fed estimulou a tomada irresponsável de risco ao socorrer os mercados com corte de juros?
CALOMIRIS
- O "risco moral" [salvar investidores que se arriscaram em excesso] é uma preocupação real. O corte no juro foi um pouco demais. Talvez se fosse de 0,5 ponto [teria sido melhor]. Não vejo queda de juro, por si só, como problema de "risco moral". Porque o governo dos EUA não intercedeu para socorrer emprestadores e tomadores de crédito direta ou indiretamente.

FOLHA - As ações brasileiras e chinesas foram as que mais subiram no mundo em 2007. Poderão ter agora também as maiores correções? CALOMIRIS - A exuberância no preço das ações dos mercados emergentes será atingida. É difícil dizer se o Brasil está na mesma posição da China neste assunto, mas suspeito que não.

FOLHA - Os bancos chineses estão expostos aos papéis "subprime"?
CALOMIRIS
- Não vejo uma ligação forte, mas pode haver links de que não temos idéia. Os grandes bancos têm problemas suficientes para operar com lucro na China. Essa é a maior preocupação deles.

FOLHA - Quais lições devemos tirar da crise das hipotecas nos EUA?
CALOMIRIS
- Uma conseqüência importante foi um estrago na credibilidade das agências de "rating", que têm um papel-chave nessa engenharia do "subprime". Também deverão mudar as políticas de reconhecimento de perdas e a análise de risco de crédito.


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