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Mais construções recebem selo verde no país
Certificação é diferencial no setor, que consome até 40% da energia do planeta, segundo painel da ONU
ANA WEISS
ANDRÉ PALHANO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O Brasil está em vias de se
tornar o quinto país com mais
certificações Leed (Leadership
in Energy and Environmental
Design), selo verde mais disputado no mercado da construção
civil hoje no mundo. Hoje, o
país tem quase cem edifícios
pré-certificados ou em processo de certificação. Entre eles, os
conglomerados comerciais Eldorado Business Tower, da Gafisa, em São Paulo, e o Ventura
Corporate Towers, da Tishman
Speyer Properties, no Rio.
A incorporação de valores
ecoeficientes pela construção
civil é uma das grandes urgências planetárias. Fala-se aqui de
um setor responsável pelo consumo de até 40% de energia do
planeta, pela geração de 40% de
todos os resíduos sólidos despejados no ambiente e pela
emissão de 40% do carbono na
atmosfera -segundo dados dos
últimos relatórios do Painel Intergovernamental para Mudança Climática (IPCC).
Ante esse grande débito público, grandes representantes
do setor são obrigados a se posicionar. A Holcim, por exemplo, uma das maiores indústrias cimenteiras do mundo,
patrocina um prêmio de arquitetura responsável, o Holcim
Awards, que até hoje distribuiu
mais de US$ 2 milhões para
projetos considerados inovadores e sustentáveis.
Com o estreitamento das
metas climáticas, a cada ano
surgem mais ações do tipo, que
estimulam o desenvolvimento
de tecnologias construtivas e
também fazem crescer o espaço do marketing verde.
Nenhuma empresa quer ter o
nome ligado a vilões ambientais. E os selos dão credibilidade a esse trabalho. O Leed, do
Green Building Council (EUA),
e o Aqua, do francês Centre
Scientifique et Technique du
Bâtiment (CSTB), organizado
aqui pela Fundação Vanzolini,
são as únicas opções no Brasil
de certificação sustentável na
construção civil.
As duas propostas apresentam critérios e metodologias
um pouco diferentes. Mas tanto o Aqua, que tem de fato uma
versão brasileira, como o Leed,
que neste ano deve ganhar uma
versão adaptada, atendem fundamentalmente aos critérios
internacionais de sustentabilidade. O ponto é: até onde esses
critérios podem ser plenamente adaptados a uma realidade
tão diversa entre países?
O conceito de sustentabilidade é um tripé. É sustentável o
projeto considerado ambientalmente correto, economicamente viável e socialmente responsável. A descrição dos pontos que levaram os edifícios da
Gafisa e da Tishman Speyer
Properties à pré-certificação
propõe uma inteligente combinação de estratégias de economia de energia, reuso de água e
gerenciamento de entulho, que
inclui implantação de sistemas
de reciclagem durante a obra.
Também se fala do compromisso na opção por materiais
regionais para evitar o uso de
transportes poluidores.
Não existe nada que mencione uma proposta na redução do
número de ônibus que os trabalhadores dessas obras (seja no
erguimento ou depois, na manutenção) precisarão tomar
para chegar ao trabalho. Nem a
quantidade de horas do dia de
trabalho que serão garantidas
para que ele se dedique ao lazer, à família, ao descanso.
Empresas abertas
Até a abertura de capital das
principais construtoras do país
na Bolsa de São Paulo, a informalidade era a principal forma
de "contratação" de pessoal para edificações. Depois da criação do Simples, a subcontratação passou a ser a relação mais
comum entre construtoras e
seus trabalhadores.
Hoje, cerca de 10% dos operários no país são analfabetos, e
quase 40% não têm mais que
quatro anos de ensino formal.
Nos dois empreendimentos
pré-certificados, a falta de mão-de-obra especializada foi driblada com a criação de cursos
rápidos semanais ou diários.
Marcos Casado, gerente técnico do Green Building Council
Brasil, emissor do Leed, admite
que hoje a responsabilidade social não está entre os itens necessários para a certificação.
"Mas sabemos que isso é uma
necessidade no Brasil e, a partir
de março deste ano, as obras serão pontuadas se tiverem operários a partir do cargo de mestre de obra com diploma de
cursos técnicos do Senai."
O trabalho no Brasil tem uma
realidade historicamente difícil, que carece de políticas públicas. Mas havia bem pouco
tempo não era possível erguer
um edifício de escritórios sem
causar um estrago ambiental
estrondoso e hoje se fazem prédios capazes de gerar energia
própria e devolver ao ambiente
em ganho. O que era impensável se tornou possível diante de
uma exigência de mercado.
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