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COMÉRCIO MUNDIAL
Estudo diz que esquemas de promoção podem ser justificados sob o argumento de eficiência econômica
OMC defende políticas para favorecer as exportações
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
Criar políticas favoráveis à exportação não é pecado, mesmo
aos olhos da ortodoxia. Ao contrário, pode ser uma necessidade
vital para que países em desenvolvimento consigam se adaptar à liberalização comercial.
A avaliação não é de nenhum
setor de esquerda ou "desenvolvimentista", como se usa no jargão
brasileiro. Consta de estudo da
OMC (Organização Mundial do
Comércio), bastião da ortodoxia e
do liberalismo comercial.
Assinam a recomendação Marc
Bacchetta e Marion Jansen, da Divisão de Desenvolvimento e Pesquisa Econômica da instituição,
no trabalho "Ajustando-se à Liberalização Comercial".
O texto será divulgado no fim
do mês, mas a Folha obteve antecipadamente uma cópia.
O argumento dos dois peritos
da OMC, para defender políticas
de apoio à exportação, é o de que
um ajuste efetivo à liberalização é
facilitado pelo crescimento das
exportações. "Se a expansão das
exportações ocorre muito lentamente ou não se materializa, o
processo de liberalização tende a
ser seriamente prejudicado", avaliam os especialistas.
Por isso mesmo, "esquemas de
promoção de exportações podem
ser defendidos com base em argumentos de eficiência econômica".
É importante lembrar que alguns tipos de apoio à exportação
são vetados pelas regras da OMC.
O Brasil, por exemplo, teve que
modificar mais de uma vez os
subsídios que concede à Embraer.
O estudo é um óbvio elogio à liberalização comercial. Mas deixa
claro que, por mais benéfica que
seja, a liberalização comercial
também tem custos.
Os técnicos da OMC citam o
exemplo do Canadá, que, nos cinco anos após o acordo de livre comércio com os EUA, viu desaparecer 390,6 mil postos de trabalho
nos setores de "tradables" (comercializados com o exterior).
Ou o exemplo de Moçambique,
que, ao liberalizar o comércio de
castanha de caju, jogou no desemprego 8.500 dos 10 mil trabalhadores no processamento da
castanha.
Exatamente por causa de tais
custos, o estudo sugere algumas
medidas (ver quadro acima) para
diminuir a dor causada pelo inevitável ajuste à abertura comercial, a partir do pressuposto de
que "os custos do ajuste são tipicamente inferiores, às vezes muito inferiores, aos ganhos com o
comércio".
Processo penoso
É claro que o estudo não leva em
conta países em particular, mas
há anotações que servem perfeitamente para ilustrar as cautelas
que o Brasil deve adotar nas negociações comerciais em que está
envolvido e as dificuldades para
abrir mais sua economia.
Exemplos:
1 - "As perdas [com a liberalização] podem ser substanciais para
certos trabalhadores e companhias", em especial, como é óbvio,
nos setores que competem com as
importações liberadas.
Nesse caso, o estudo recomenda
"poupança privada ou redes de
proteção social, para ajudar os
trabalhadores afetados a atravessar períodos de renda negativa".
Os Estados Unidos, lembra o estudo, têm tal mecanismo. Mas,
como não trata de países específicos, o trabalho dos técnicos da
OMC não informa como um país
sem recursos para investimentos
de qualquer espécie, caso do Brasil no momento, pode criar "redes
de proteção social".
2 - O trabalho enfatiza a importância para o processo de ajuste
de "mercados de crédito e de trabalho que funcionem bem". Observa que "trabalhadores deslocados [pela liberalização de importações] podem ser ajudados se tiverem fundos para resistir a períodos de renda baixa ou zero".
De novo, é um problema para o
Brasil, país em que os trabalhadores de modo geral já têm baixa
renda e imensa dificuldade para
se financiarem mesmo em circunstâncias normais.
Também as empresas "podem
ser obrigadas a fazer investimentos significativos, para se ajustarem. Em ambos os casos, mercados de crédito desempenham papel importante na facilitação do
ajuste, e muitos países em desenvolvimento tendem a ficar em
desvantagem a esse respeito".
É obviamente o caso do Brasil,
em que os mercados de crédito já
não funcionam a contento hoje.
Se a demanda por crédito acessível aumentar, para enfrentar o
ajuste derivado da competição
com importações, não haverá empresa capaz de resistir ao choque.
3 - "A qualidade da infra-estrutura de um país também influencia o processo de ajuste", diz o estudo.
De novo, o Brasil, cuja infra-estrutura é deficitária em incontáveis aspectos, sofreria com a concorrência nascida de uma abertura comercial.
O texto dos técnicos da OMC reforça também o argumento de
muitos negociadores brasileiros
no sentido de que o país precisa
de mais tempo de adaptação à
abertura comercial, por ser comparativamente mais pobre e atrasado do que, por exemplo, União
Européia e Estados Unidos.
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