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AJUSTE FISCAL
Pagamentos de dividendos pelas empresas públicas afetam resultado; governo diz que meta será cumprida
Estatal gasta mais e reduz superávit primário
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os gastos das empresas estatais
federais com investimentos e distribuição de dividendos reduziram o superávit primário das
contas públicas no primeiro bimestre deste ano. Nos últimos
dois meses, a economia de receitas para o pagamento de juros da
dívida somou R$ 10,246 bilhões, o
equivalente a 3,98% do PIB (Produto Interno Bruto).
A meta de superávit primário
acertada com o FMI (Fundo Monetário Internacional) para o ano
é de 4,25%, o que corresponde a
uma economia de R$ 71,5 bilhões.
Enquanto o governo federal teve
um resultado positivo de R$
17,186 bilhões e os governos regionais (Estados e municípios) acumularam R$ 3,439 bilhões, as estatais federais deixaram um saldo
negativo para as contas públicas
de R$ 6,317 bilhões no período
-R$ 3,724 bilhões em fevereiro.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, o resultado
das estatais federais neste ano é o
pior para o primeiro bimestre de
toda a série histórica, iniciada em
1991. No primeiro bimestre do
ano passado, as companhias federais registraram um superávit de
R$ 511 milhões.
Ele explicou que a principal razão para os números negativos
das estatais foi a distribuição de
dividendos aos acionistas. Segundo Lopes, somente em fevereiro
foram distribuídos R$ 3,3 bilhões
em dividendos, dos quais R$ 2,2
bilhões para os minoritários pulverizados no mercado. O restante
foi para o caixa do Tesouro Nacional, acionista majoritário das estatais federais.
Sem informar o valor, a Petrobras, principal estatal federal,
confirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o repasse
de lucros e dividendos foi feito
com o objetivo de reduzir o pagamento de Imposto de Renda. "Foi
uma decisão puramente empresarial", disse o presidente da empresa, José Eduardo Dutra. O lucro da Petrobras em 2003 foi de
R$ 17,8 bilhões.
Mesmo se fosse desconsiderada
a distribuição de dividendos, as
estatais federais teriam déficit nas
contas públicas em fevereiro de
R$ 424 milhões. O resultado negativo foi de R$ 3,724 bilhões, contra
R$ 3,3 bilhões de dividendos distribuídos. A diferença, segundo
Lopes, é explicada pelos investimentos realizados pelas empresas
públicas.
O resultado negativo das estatais para apuração do superávit
primário não significa que as empresas tiveram prejuízo, mas sim
que gastaram recursos no lugar
de economizar. As despesas das
estatais, mesmo com investimentos, são computadas como gastos,
afetando negativamente o resultado primário do setor público
consolidado. Há uma exceção somente para parte dos investimentos da Petrobras.
Além da meta anual de superávit primário, o acordo com o FMI
também prevê metas trimestrais
de economia de receitas. Para o
período encerrado em março, a
meta é de R$ 14,5 bilhões. Assim, é
necessário acumular saldo em
março de R$ 4,25 bilhões.
Segundo Lopes, esse número
será alcançado, assim como a meta para o ano. Em março de 2003,
o superávit foi de R$ 6,75 bilhões.
Ele lembra também que a meta
de superávit para o primeiro trimestre deste ano, de R$ 14,5 bilhões, é menor do que a do mesmo período do ano passado, de
R$ 15,4 bilhões.
Isso significa que o governo já
planejava que as estatais federais
investissem mais no começo deste ano, possivelmente para ajudar
no crescimento da economia. O
governo até declarou que gostaria
de excluir investimentos de outras estatais da meta de superávit
primário.
Para Lopes, o resultado negativo das estatais foi pontual neste
começo de ano. Como já foram
distribuídos dividendos antecipadamente, as empresas devem
apurar economia maior nos próximos meses, disse.
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