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São Paulo, domingo, 27 de abril de 2003

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Para Pastore, campanha demonstra o amadurecimento dos sindicatos

DA REPORTAGEM LOCAL

O quadro geral é de desemprego, mas existem alguns setores que estão em melhor situação na economia brasileira. Um exemplo é as empresas exportadoras, como as automobilísticas e as especializadas em agronegócios.
É aí que estão atuando as centrais sindicais em greve, de acordo com o professor José Pastore, titular na Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo e especialista em relações do trabalho.
Segundo ele, as centrais sindicais estão cada vez mais analisando as condições financeiras das indústrias para decidir por greves ou campanhas salariais de emergência: "Isso representa o amadurecimento do sindicalismo".
(MP)
 

Folha - Como o sr. analisa o movimento grevista dos últimos dias?
José Pastore -
Dentro de quadro geral de desemprego, existem alguns nichos que continuam empregando, que são aqueles voltados para a exportação. O setor automobilístico está exportando bem, assim como o setor de agrobusiness. Na visão dos sindicalistas, esses setores tem condições de fornecer uma antecipação ou reposição salarial nesse momento, já que quem exporta, ganha em dólar.

Folha - Detalhe os setores que estão lucrando e portanto tem maior possibilidade de enfrentar greves.
Pastore -
O setor químico, por exemplo, que fornece muita matéria-prima para o agrobusiness, é um setor com boas margens. A categoria dos químicos deflagrou campanha salarial para pedir reposição de perdas por causa da inflação. Outro caso é o das montadoras, que, além de estarem exportando mais por causa da demanda interna menor, exportaram muitos tratores no ano passado.
A agricultura foi a principal responsável por esses crescimentos, devido às exportações, responsáveis pelo superávit primário no ano passado.
No caso dos bancários, que também estão em campanha salarial de emergência, é a mesma coisa. É só olhar o balanço das instituições financeiras para ver que estas estão na mesma situação confortável dos exportadores.

Folha - Por que há tanta divergência nas reivindicações dos sindicatos grevistas da CUT?
Pastore -
Por causa da diversidade da situação econômica dos diversos setores. Alguns deles não podem aguentar a longo prazo incidência de encargos sociais ou aumento de salários. Outros podem. Por isso essa diferença. Mas isso não é exclusividade da CUT. A Força Sindical também tem feito isso: tem procurado onde dá para buscar aumento e onde dá para buscar abono. Isso porque em alguns casos não dá para ter certeza de que o reajuste salarial será sustentável.

Folha - Essas centrais sempre tiveram essa postura de analisar as possibilidades da indústria?
Pastore -
Essa busca representa o amadurecimento do sindicalismo, que hoje analisa os balanços, as contas, as exportações, enfim, o mercado. Tudo é muito bem esquadrinhado.
As greves estão acontecendo nesse momento porque o aumento das exportações e do lucro dos bancos aconteceu ao longo de 2002, mas a disparada da inflação teve impactos maiores no final do ano passado e começo deste ano.
Juntando-se a isso a queda da renda, é natural que os sindicalistas pensem que essa é a hora para fazer alguma coisa, mesmo porque o dólar começa a cair e isso pode fazer desaparecer essa situação melhor dessas indústrias.

Folha - Qual a posição das centrais sindicais nessas greves?
Pastore -
Acho que a Força Sindical saiu na frente da CUT neste ano. Isso dá prestígio político para o Paulo Pereira da Silva, o Paulinho. Mas não vejo nenhuma conotação política nesse movimento, que encaro como exclusivamente econômico.


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