São Paulo, sexta-feira, 27 de abril de 2007

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Importados expõem contradição no governo

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dia depois de o governo aumentar as alíquotas de importação de têxteis e calçados para 35%, a ata do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central foi clara: "A expansão das importações tem contribuído de forma relevante [para evitar a inflação], complementando a produção doméstica".
Apesar de ser o caso mais recente, essa contradição na condução da política econômica não é a única do segundo mandato do presidente Lula. "Temos até um apelido para essas contradições do governo: chamamos internamente de "pequenos assassinatos'", afirma Ana Carla Abrão Costa, responsável pela área de macroeconomia na consultoria Tendências.
Ela elenca, entre outros "pequenos assassinatos", a intenção de aumentar a dívida dos Estados (depois revogada), o enfraquecimento das agências reguladoras e a perspectiva de os PPIs (planos piloto de investimento) poderem ser abatidos da meta do superávit primário (economia do governo para pagar juros da dívida).
"Há uma divergência evidente entre a política monetária consistente do Banco Central e as políticas microeconômicas dos ministérios do Desenvolvimento e da Fazenda e do BNDES, mais protecionistas", diz Maurício Moura, economista-chefe da consultoria GSMD.
Para Costa, essas divergências tendem a se agravar no segundo mandato, no qual as agendas de longo prazo do BC e da Fazenda não têm a mesma sintonia. "O segundo mandato parece ser mais suscetível a pressões setoriais", diz ela.
Os setores têxtil e calçadista, por exemplo, discutiam o aumento na alíquota de importação com o governo desde o fim de 2004, quando o real começou a se apreciar. Conseguiram anteontem o nível máximo de imposto de importação que o país pode aplicar.
"Não é uma questão de segundo mandato, mas de o governo ter percebido que um setor que mais do que dobrou suas exportações em cinco anos não poderia ter ficado ineficiente de um ano para outro", pondera Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil).
Ele refere-se ao fato de as exportações da área terem passado de US$ 1,01 bilhão, em 1999, para US$ 2,2 bilhões em 2005, quando foi registrado superávit comercial de US$ 684 milhões. Já em 2006, em função do fortalecimento da moeda, foi registrado déficit de US$ 60 milhões. Para este ano, antes do aumento da tarifa, era esperado déficit de US$ 900 milhões.
"É evidente que trabalhamos pelas reformas estruturais", diz Pimentel. "Mas precisávamos de uma compensação contra países que mantêm suas moedas valorizadas para exportar."
Para Moura, no entanto, a medida não é eficiente. "O que interessa aos fabricantes de calçados é o mercado externo", diz ele. "Essa medida não resolve a vida do setor e penaliza o consumidor."


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