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Importados expõem contradição no governo
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dia depois de o governo
aumentar as alíquotas de importação de têxteis e calçados
para 35%, a ata do Copom (Comitê de Política Monetária) do
Banco Central foi clara: "A expansão das importações tem
contribuído de forma relevante
[para evitar a inflação], complementando a produção doméstica".
Apesar de ser o caso mais recente, essa contradição na condução da política econômica
não é a única do segundo mandato do presidente Lula. "Temos até um apelido para essas
contradições do governo: chamamos internamente de "pequenos assassinatos'", afirma
Ana Carla Abrão Costa, responsável pela área de macroeconomia na consultoria Tendências.
Ela elenca, entre outros "pequenos assassinatos", a intenção de aumentar a dívida dos
Estados (depois revogada), o
enfraquecimento das agências
reguladoras e a perspectiva de
os PPIs (planos piloto de investimento) poderem ser abatidos
da meta do superávit primário
(economia do governo para pagar juros da dívida).
"Há uma divergência evidente entre a política monetária
consistente do Banco Central e
as políticas microeconômicas
dos ministérios do Desenvolvimento e da Fazenda e do
BNDES, mais protecionistas",
diz Maurício Moura, economista-chefe da consultoria
GSMD.
Para Costa, essas divergências tendem a se agravar no segundo mandato, no qual as
agendas de longo prazo do BC e
da Fazenda não têm a mesma
sintonia. "O segundo mandato
parece ser mais suscetível a
pressões setoriais", diz ela.
Os setores têxtil e calçadista,
por exemplo, discutiam o aumento na alíquota de importação com o governo desde o fim
de 2004, quando o real começou a se apreciar. Conseguiram
anteontem o nível máximo de
imposto de importação que o
país pode aplicar.
"Não é uma questão de segundo mandato, mas de o governo ter percebido que um setor que mais do que dobrou
suas exportações em cinco
anos não poderia ter ficado ineficiente de um ano para outro",
pondera Fernando Pimentel,
diretor-superintendente da
Abit (Associação Brasileira da
Indústria Têxtil).
Ele refere-se ao fato de as exportações da área terem passado de US$ 1,01 bilhão, em 1999,
para US$ 2,2 bilhões em 2005,
quando foi registrado superávit
comercial de US$ 684 milhões.
Já em 2006, em função do fortalecimento da moeda, foi registrado déficit de US$ 60 milhões. Para este ano, antes do
aumento da tarifa, era esperado
déficit de US$ 900 milhões.
"É evidente que trabalhamos
pelas reformas estruturais", diz
Pimentel. "Mas precisávamos
de uma compensação contra
países que mantêm suas moedas valorizadas para exportar."
Para Moura, no entanto, a
medida não é eficiente. "O que
interessa aos fabricantes de
calçados é o mercado externo",
diz ele. "Essa medida não resolve a vida do setor e penaliza o
consumidor."
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