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Concessionárias limitam área de venda
Com mercado aquecido, lojas estão restringindo comercialização de carros a consumidores de sua região, diz Ministério Público
Ao menos dez marcas estariam direcionando a venda, apuram promotores;
para Fenabrave, não existe limitação de concorrência
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Com o aquecimento do mercado automobilístico, a disputa
pela compra de um carro aumentou, e as concessionárias
estão dando preferência a consumidores que residem em
suas áreas de atuação.
Reclamações de consumidores deram origem a investigações do Ministério Público Federal em Joinville (SC) e em
Novo Hamburgo (RS). A suspeita é que essa prática estaria
ocorrendo em todo o país.
Ao menos dez marcas estariam limitando a venda de carros a consumidores próximos
de suas áreas de atuação, segundo informam procuradores
dos dois ministérios públicos.
Neste mês, o MPF em Joinville ouviu representantes de
concessionárias de várias marcas, como BMW, Citroën, Fiat,
Ford, GM, Honda, Hyundai,
Mitsubishi, Peugeot, Renault e
Volks. Deve agora convocar as
montadoras para verificar se
existe e por que existe limitação de mercado, se o consumidor está sendo lesado e se há
prejuízo às concessionárias.
"De 11 concessionárias ouvidas em Joinville, 7 informaram
que trabalham com reserva de
mercado. Se ficar comprovado
que essa prática realmente
ocorre, vou estudar as suas razões. Se não concordar com
elas, vou propor uma ação civil
pública questionando essa prática. O consumidor tem o direito de comprar onde quiser e
sem precisar pagar mais por isso", afirma Mário Sérgio Ghannagé Barbosa, procurador da
República em Joinville.
Na investigação, iniciada em
janeiro, o procurador constatou que concessionárias de
Joinville que vendem a consumidores fora de sua área de
atuação podem ser punidas pelas montadoras e pelas associações de concessionárias.
"Vamos estudar se essa prática é legal ou não. Em alguns casos, a sanção é tão alta que inviabiliza a venda a consumidores de outras regiões", diz.
A Folha apurou que, entre
essas punições, estão multas de
até 12% do preço do veículo. A
reportagem visitou concessionárias de São Paulo e telefonou
para revendas em várias regiões do país e constatou que
há reserva de mercado.
Uma revenda da Mitsubishi
do interior paulista orientou,
por telefone, um cliente residente em São Paulo a procurar
uma das revendas da marca na
capital paulista. Uma loja da
Peugeot em São Paulo informou à Folha que, se vender para consumidores fora de sua
área, tem de pagar R$ 2.000
por veículo à montadora.
A nova edição da Lei Ferrari
(lei nº 6.729, de 1979) -que
dispõe sobre a relação entre as
montadoras e as concessionárias e foi alterada pela lei nº
8.132/90- cita em seu artigo 5º
a liberdade que o consumidor
tem para escolher onde quer
adquirir seu veículo.
Marcos Diegues, do Idec
(Instituto Brasileiro de Defesa
do Consumidor), diz que o
cliente não pode ser punido
com repasse no preço.
Em Novo Hamburgo, a investigação sobre reserva de
mercado é conduzida pelo procurador da República Júlio
Carlos Schwonke de Castro Júnior. "Recebemos denúncia de
consumidores residentes em
Novo Hamburgo (RS) e Erexim
(RS) que não teriam conseguido comprar carros em Porto
Alegre (RS). Essa prática limita
a concorrência e, portanto,
prejudica o consumidor."
Sérgio Reze, presidente da
Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos
Automotores), diz que não
existe limitação de mercado: "o
cliente pode comprar onde quiser". Afirma que, "no caso de
clientes especiais, como taxistas, as concessionárias oferecem descontos maiores para os
que estão em sua área de atuação, como dispõem regras estabelecidas pelo governo".
Maria Inês Dolci, coordenadora da Pro Teste (Associação
Brasileira de Defesa do Consumidor), diz que a investigação é
"importante" e "oportuna".
"Não pode haver tratamento
desigual para consumidores."
André Beer, consultor para a
indústria automobilística, diz
que a Lei Ferrari disciplina a
relação entre montadora e concessionária. "Nenhuma concessionária do interior de São
Paulo, por exemplo, quer que o
cliente da sua região vá para
São Paulo comprar um carro e
depois só use a sua revenda para manutenção. Então, disciplinar o mercado está correto.
Mas nada impede que um consumidor compre fora."
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