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São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 2003

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TRATOR BRASILEIRO

Vendas no mercado interno subiram de 25 mil unidades em 1999 para 43 mil unidades em 2002

Cresce nacionalização de máquina agrícola

CÍNTIA CARDOSO
ALESSANDRA MILANEZ

DA REPORTAGEM LOCAL

Impulsionado pelos programas de financiamento do governo e pela desvalorização cambial a partir de 1999, o setor de máquinas agrícolas diminuiu as importações e se concentrou na nacionalização dos componentes.
Embora não haja estatísticas que mostrem o índice de nacionalização das peças de maquinário agrícola, entre 2000 e 2002 a importação de máquinas caiu 86% no caso de tratores e colheitadeiras, segundo dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).
A venda de máquinas agrícolas no mercado interno subiu de 25 mil unidades em 1999 para 43 mil unidades em 2002, um aumento de 72%. Para este ano, a Anfavea estima crescimento de 7%.
Segundo Valentino Rizzioli, presidente da CNH para a América Latina, o faturamento da sua empresa no Brasil subiu de R$ 800 milhões em 2001 para R$ 2,5 bilhões no ano passado. Segundo ele, o Moderfrota, programa do governo federal que financia máquinas agrícolas, teve influência de 65% nesse aumento. "Importávamos cerca de 35% do nosso faturamento. Agora, não importamos mais quase nada."
A crescente nacionalização das máquinas agrícolas e o bom momento por que passa o setor tem, entre as suas causas, o Moderfrota. Isso porque exige, para que seja concedido o financiamento, que a máquina tenha, no mínimo, 60% de peças nacionais.
Carlito Eickert, diretor nacional de vendas da Massey Ferguson, diz que cada novo produto da fábrica já nasce com 60% ou mais de peças nacionais. "O Moderfrota teve uma influência na medida em que ele só é acessível para quem tenha 60% de peças nacionais", afirma.
Para o economista-chefe do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), Júlio Almeida, a recente valorização do real não afeta o processo de nacionalização de peças. "A substituição de importação nas máquinas agrícolas tende a ser duradoura. Não acredito que a valorização do real vá mudar isso", afirma.
O Moderfrota deu um empurrão na nacionalização dos insumos, mas o economista argumenta que essa indústria já estava investindo em componentes nacionais desde 1999. "No Brasil, é preciso ter crédito subsidiado para conseguir crédito barato. Programas como o Moderfrota deveriam ser estendidos a todos os setores industriais nos quais o Brasil já tem escala de produção", avalia.
O professor de economia rural da USP Fernando Homem de Melo discorda. Para ele, com o câmbio abaixo de R$ 3, a competitividade da substituição de importações fica comprometida. "Essa valorização foi um balde de água fria para as empresas que querem incentivar as exportações", avalia.
Melo afirma que o nível de nacionalização de peças exigido pelo Moderfrota é plausível, mas é uma estratégia perigosa. "Exigir níveis artificiais de nacionalização pode acabar elevando os custos do maquinário e criar uma frota obsoleta", diz.
Segundo Luiz Carlos Delben Leite, presidente da Abimaq (associação da indústria de máquinas), a tendência é que a nacionalização do setor continue. "Com o início do Plano Real, muitas empresas fecharam as portas e passaram a importar. A desvalorização, a partir de 1999, serviu para reaquecer essa indústria. O Moderfrota ajudou no processo, mas, independentemente do programa, o processo já estava ocorrendo."


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