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TRATOR BRASILEIRO
Vendas no mercado interno subiram de 25 mil unidades em 1999 para 43 mil unidades em 2002
Cresce nacionalização de máquina agrícola
CÍNTIA CARDOSO
ALESSANDRA MILANEZ
DA REPORTAGEM LOCAL
Impulsionado pelos programas
de financiamento do governo e
pela desvalorização cambial a
partir de 1999, o setor de máquinas agrícolas diminuiu as importações e se concentrou na nacionalização dos componentes.
Embora não haja estatísticas
que mostrem o índice de nacionalização das peças de maquinário
agrícola, entre 2000 e 2002 a importação de máquinas caiu 86%
no caso de tratores e colheitadeiras, segundo dados da Anfavea
(Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).
A venda de máquinas agrícolas
no mercado interno subiu de 25
mil unidades em 1999 para 43 mil
unidades em 2002, um aumento
de 72%. Para este ano, a Anfavea
estima crescimento de 7%.
Segundo Valentino Rizzioli,
presidente da CNH para a América Latina, o faturamento da sua
empresa no Brasil subiu de R$ 800
milhões em 2001 para R$ 2,5 bilhões no ano passado. Segundo
ele, o Moderfrota, programa do
governo federal que financia máquinas agrícolas, teve influência
de 65% nesse aumento. "Importávamos cerca de 35% do nosso
faturamento. Agora, não importamos mais quase nada."
A crescente nacionalização das
máquinas agrícolas e o bom momento por que passa o setor tem,
entre as suas causas, o Moderfrota. Isso porque exige, para que seja concedido o financiamento,
que a máquina tenha, no mínimo,
60% de peças nacionais.
Carlito Eickert, diretor nacional
de vendas da Massey Ferguson,
diz que cada novo produto da fábrica já nasce com 60% ou mais
de peças nacionais. "O Moderfrota teve uma influência na medida
em que ele só é acessível para
quem tenha 60% de peças nacionais", afirma.
Para o economista-chefe do Iedi
(Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), Júlio
Almeida, a recente valorização do
real não afeta o processo de nacionalização de peças. "A substituição de importação nas máquinas
agrícolas tende a ser duradoura.
Não acredito que a valorização do
real vá mudar isso", afirma.
O Moderfrota deu um empurrão na nacionalização dos insumos, mas o economista argumenta que essa indústria já estava investindo em componentes nacionais desde 1999. "No Brasil, é preciso ter crédito subsidiado para
conseguir crédito barato. Programas como o Moderfrota deveriam ser estendidos a todos os setores industriais nos quais o Brasil
já tem escala de produção", avalia.
O professor de economia rural
da USP Fernando Homem de Melo discorda. Para ele, com o câmbio abaixo de R$ 3, a competitividade da substituição de importações fica comprometida. "Essa
valorização foi um balde de água
fria para as empresas que querem
incentivar as exportações", avalia.
Melo afirma que o nível de nacionalização de peças exigido pelo
Moderfrota é plausível, mas é
uma estratégia perigosa. "Exigir
níveis artificiais de nacionalização
pode acabar elevando os custos
do maquinário e criar uma frota
obsoleta", diz.
Segundo Luiz Carlos Delben
Leite, presidente da Abimaq (associação da indústria de máquinas), a tendência é que a nacionalização do setor continue. "Com o
início do Plano Real, muitas empresas fecharam as portas e passaram a importar. A desvalorização,
a partir de 1999, serviu para reaquecer essa indústria. O Moderfrota ajudou no processo, mas, independentemente do programa,
o processo já estava ocorrendo."
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