|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Banca privada teme "Petrobras financeira"
Defensores da presença do Estado no setor financeiro falam em competição e política pública, mas analista questiona eficácia
Para Carlos Lessa,
ex-presidente do BNDES, o
Estado não pode abrir mão
de pensar a estratégia de
longo prazo no crédito
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Visto pelos bancos privados
como uma tentativa do governo federal de criar uma "Petrobras do sistema financeiro", na
definição de um diretor de um
grande privado brasileiro, o
avanço do Banco do Brasil com
a compra da Nossa Caixa reabre a discussão sobre a necessidade de um banco público forte
para competir no mercado de
crédito brasileiro.
No caso, a comparação com a
Petrobras se deve pela exclusividade dos bancos estatais de
explorarem os depósitos judiciais -um dinheiro de custo
baixo- e o avanço nas contas
dos servidores públicos. A Petrobras teve monopólio no setor até 1997 e, segundo os críticos, continuaria até hoje sozinha ou em parceria com empresas privadas na exploração
de petróleo.
Entre os argumentos para o
Estado manter um banco forte
no país, estão desde a necessidade de levar agências às localidades mais distantes e economicamente inviáveis -o que
não interessaria aos bancos privados- até a crença de que
banco do governo não quebra,
como disse em 1861 o então imperador, dom Pedro 2º, ao fundar a Caixa Econômica Federal.
Hoje, o principal argumento
dos defensores da presença do
Estado no sistema bancário diz
respeito à idéia de que as instituições públicas, quando tomam uma decisão de crédito,
não olham apenas a lucratividade, mas também seu interesse social. Foi essa a lógica para a
criação do BNDES, em 1952.
Também afirmam que geram
pressão competitiva e criam
concorrência no setor.
Os favoráveis à saída do Estado como competidor no setor
financeiro dizem que não é
mais verdade que os bancos
privados desprezam os pequenos municípios porque, com o
avanço da tecnologia, universalizou-se o acesso aos serviços
bancários. Um exemplo disso é
o banco postal, que em tese
chega a todos os endereços.
Também afirmam que não
há perspectiva de quebra para
os grandes bancos de varejo,
que registram lucros recordes.
Estudioso de bancos públicos, o economista Armando
Castelar diz que o debate hoje
se reduz à necessidade de o governo ter um braço financeiro
para fazer política pública e
competir com bancos privados.
"Claramente é a posição adotada por esse governo. O problema é que muitas dessas políticas públicas não são tão interessantes assim. Um exemplo
são os prejuízos que a Caixa e o
próprio BB tiveram. A transparência é reduzida [nos setores
que recebem benefício], porque essas operações não passam pela discussão do Orçamento. Sobre a competição, o argumento é que existe rivalidade suficiente no setor", disse
Castelar, que acaba de deixar o
Ipea e foi trabalhar com Armínio Fraga na Gávea.
Para o ex-presidente do
BNDES Carlos Lessa, o Estado
brasileiro não pode abrir mão
de um banco forte para explorar o crédito, que é "decisivo
para a movimentação dos negócios" e para formar o patrimônio das famílias. Lessa afirma que não basta o Estado atuar na regulação para garantir o interesse público.
"A economia de mercado está sempre voltada para o presente, mas a sociedade necessita escolher o futuro que corresponda a suas necessidades e a
seus desejos. [Pensar] O futuro
escapa do comportamento do
setor privado, que está preocupado com a rentabilidade presente e com preservar a sua
permanência confortável no
mercado que domina. José Serra está certíssimo em transferir
a Nossa Caixa para o BB."
Texto Anterior: Benjamin Steinbruch: Não faz o menor sentido Próximo Texto: Ações: Papel da Nossa Caixa tem nova alta, agora de 2,75% Índice
|