São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 2002

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Crédito para empresas deve ficar mais difícil

ALINE VAN DUYN
ARKADY OSTROVKSY

DO "FINANCIAL TIMES'

Com os mercados de ações e bônus em choque depois da revelação da fraude na WorldCom, as empresas de todo o mundo passaram o dia de ontem preocupadas com sua capacidade de levantar dinheiro daqui por diante.
Embora talvez seja cedo demais para falar de uma "compressão de crédito", a capacidade de empresas altamente endividadas, especialmente no setor de telecomunicações, para garantir financiamentos provavelmente será severamente reduzida.
"Os investidores decidiram fechar suas carteiras, e o apetite deles por risco não vai voltar até que haja um período de calma nos mercados de ações", disse Tim Webb, administrador da carteira de renda fixa na Barclay Global Investors.
A fraude na WorldCom, depois do colapso da Enron no ano passado, prejudicará ainda mais a confiança na contabilidade e nas projeções das empresas. Os investidores dizem que agora eles darão destaque a administração confiável e dedicarão mais tempo ao analisar a contabilidade.
Michael O'Connor, diretor de pesquisa de bônus conversíveis no Deutsche Bank, disse que "quando as pessoas sentem que não podem confiar nos números que as empresas divulgam, torna-se difícil tomar uma decisão racional sobre o investimento com base nesses números".
"Isso pode levar a problemas de liquidez para empresas que têm grandes montantes de dívida a refinanciar", acrescentou.

Custo mais alto
Os riscos associados ao setor de telecomunicações acabaram por influenciar outras empresas na forma de custos mais altos de financiamento, mas os mercados de dívida não se fecharam completamente, como aconteceu em 1998 depois do colapso do fundo de hedge Long Term Capital Management.
"Até agora não vimos nada tão sério quanto o congelamento dos mercados depois da crise do Long Term Capital Management", disse Bernard Hunter, diretor de renda fixa na Merrill Lynch Investment Managers.
"No entanto, essa crise é específica em termos de setor. Um fabricante de equipamentos para telecomunicação não conseguiria colocar uma emissão de bônus agora, mas uma empresa de bens de consumo poderia fazê-lo".
Depois da quebra da Enron, os mercados se recuperaram com rapidez -os mercados de bônus tinham voltado ao normal em duas semanas, depois do colapso do grupo de energia. Mas a Enron tinha menos dívida pendente. A WorldCom, com dívidas de cerca de US$ 30 bilhões, afeta número maior de pessoas.
Os bancos, em particular, provam-se cada vez mais capazes de dispersar os riscos associados a empréstimos por uma cadeia de outros participantes nos mercados de crédito.
Como reflexo disso, os ágios dos bônus, que se ampliam quando a percepção é de que os riscos estão aumentando, no geral subiram, ontem, ainda que as empresas mais bem classificadas e os títulos de dívida dos bancos tenham se movido em apenas 10 a 15 pontos básicos (0,1% a 0,15%).
Muitos investidores estão depositando sua fé no Fed (o banco central dos EUA), apostando que a instituição manterá a liquidez dos mercados, permitindo que as empresas continuem a tomar dinheiro emprestado. Alguns economistas começaram, até, a prever que o Fed recorrerá a um novo corte de juros antes de impor uma tendência de elevação. O Lehman Brothers previu ontem que o Fed não deve aumentar os juros antes de março de 2003.


Tradução de Paulo Migliacci


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