São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 2002

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Para analistas, chance de dar calote é de 50%

DA REPORTAGEM LOCAL

A probabilidade de um default (calote) da dívida brasileira, na opinião de analistas estrangeiros, gira entre 30% e 50%. Para eles, o crescimento da economia do país neste ano não seria suficiente para sustentar o pagamento do serviço da dívida externa.
Ao mesmo tempo, no Japão, investidores preocupados se desfazem de títulos emitidos pelo governo brasileiro no mercado japonês.
De acordo com analistas, caso o Brasil não tenha condições de honrar seus compromissos e seja obrigado a reestruturar parte de sua dívida de US$ 274 milhões, a crise pode se espalhar pela América Latina. Para outros economistas, porém, as consequências poderiam ir além das fronteiras da América Latina.
"Se o Brasil entrar em default, veremos calotes generalizados", disse José Luís Daza, estrategista-chefe para mercados emergentes do Deutsche Bank.
As incertezas foram motivadas pelas indefinições políticas no país. O mercado está preocupado com as possíveis reformas que seriam promovidas após as eleições presidenciais de outubro. Investidores temem que o líder das pesquisas, o oposicionista Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, altere a política econômica brasileira.
Segundo o último levantamento de intenções de voto, realizado no dia 23 pelo Vox Populi, Lula teria 38% das intenções contra 21% de José Serra, o preferido do mercado e pré-candidato do PSDB, mesmo partido do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Para administradores de fundos, a situação não é tão ruim. Eles dizem que poderiam voltar a investir no Brasil caso haja uma melhor definição no quadro político e uma queda no risco-país.

Bônus samurais
A turbulência na economia brasileira está refletindo no preço dos títulos do país no mercado japonês. Esses papéis, conhecidos como bônus samurais, estão em queda no Japão à medida que aumenta a preocupação dos investidores em relação ao país.
No fim da quarta-feira no Japão, os títulos do governo brasileiro estavam cotados a 91,63 ienes, contra o preço de emissão de 100 ienes. Já os bônus samurais do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) eram cotados a 77,48 ienes, contra preço de face de 100 ienes.
A fragilidade da economia dos EUA aumentou a pressão sobre os títulos emitidos por países emergentes, inclusive os bônus samurais brasileiros.
Apesar de preocupados com a situação no país, analistas japoneses não acreditam que a situação brasileira se aproxime da argentina. "Apesar desses problemas, a situação brasileira é diferente daquela da Argentina. O Brasil é mais competitivo na exportação e está no caminho certo para reduzir sua dívida no futuro", disse Takashi Shigeoka, economista-chefe do Nomura Research Institute. Além disso, disse, o país tem mais chance que a Argentina de conseguir apoio do FMI (Fundo Monetário Internacional).



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