São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 2002

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MERCADO EM PÂNICO

BC não intervém e moeda fecha em alta de 2,2%; risco Brasil continua o segundo maior do mundo

Dólar vai a R$ 2,885, novo recorde do Real

ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL

O dólar bateu novo recorde e fechou ontem em seu maior valor em oito anos ou desde a existência do Plano Real. A moeda americana subiu 2,2%, para R$ 2,885. No mês, o dólar acumula valorização de 14,7%; no ano, de 24,7%.
Pelo menos ontem, grande parte da crise veio de fora. A notícia de que a americana WorldCom cometeu uma fraude contábil de US$ 3,8 bilhões prejudicou os mercados pelo mundo.
O risco-país brasileiro subiu mais 4,8%, para 1.709 pontos. Continuou a ser o segundo maior do mundo, atrás da Argentina.
"O caso WorldCom aumenta a percepção de risco dos investidores, o que é ruim para os mercados emergentes. Como o mercado aqui já vinha nervoso, a tensão cresceu ainda mais", diz Dawber Gontijo, do HSBC.
O nervosismo do mercado brasileiro se estende há mais de um mês e é agravado pela percepção de investidores internacionais de que o país pode dar um calote no pagamento de sua dívida externa.
"A sensação é que, se coisas desse tipo acontecem nos EUA, imagine o que está ocorrendo nos mercados emergentes", afirma Helio Osaki, analista da Finambras. "A grande dependência do Brasil de recursos externos torna o país ainda mais vulnerável."
Investidores pelo mundo buscaram proteção ontem e houve crescente procura pela segurança do ouro, em um movimento de aversão a qualquer risco.
"Mesmo que a incerteza tenha crescido ainda mais, os atuais níveis de câmbio e risco brasileiros são irracionais", avalia Clive Botelho, do banco Santos.
Alguns fatores internos também ajudaram a pressionar o dólar ontem, uma vez que todos os outros indicadores financeiros para o país reduziram suas perdas durante o dia, amparados pela recuperação das Bolsas dos EUA.
Um deles foi o superávit primário de R$ 1,981 bilhão em maio -pior resultado do ano.
"Houve preocupação em relação à capacidade de o país cumprir a meta do superávit deste ano para 3,75% do PIB", afirma Osaki.
Segundo Botelho, há falta de dólares no mercado: "Há muitas dívidas de empresas vencendo e que, devido às atuais condições, não serão refinanciadas".
Doron Admoni, analista da Lloyds TSB, acrescenta que o encerramento do primeiro semestre eleva a procura pelo dólar no mercado à vista para que empresas e bancos possam ajustar seus balanços.
O Banco Central não fez nenhuma intervenção no mercado cambial ontem.



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