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VINICIUS TORRES FREIRE
Vai indo que eu não vou
Contra "inflação global", vice do Fed pede juro mais alto nos emergentes; mais empresas e bancos põem a língua de fora
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"DESCULPEM , foi engano",
foi mais ou menos o que
disse o Goldman Sachs a
respeito da tese de que "o pior já passou" na crise bancária. No mercado
de palpites, muita gente atribuía a
sangria de ontem nas Bolsas à impressão crescente de que o buraco
nos bancos é mais embaixo. Isto é,
que bancos vão anunciar mais perdas, que cortarão mais dividendos e
que terão de levantar mais capital a
custo salgado.
Uma instituição financeira européia, o Fortis, anunciou exatamente
isso ontem, após ter jurado de pés
juntos de barro que não o faria de novo. De resto, a taxa "básica" de juros
no mercado europeu sobe de novo,
assim como o custo do seguro contra
calotes de empresas e bancos. O fato
de várias megaempresas de produtos
"reais" terem botado a língua para fora (Nike, Oracle, GM) também não
ajudou. Mas o caldo econômico entorna muito por causa da fervura do
petróleo. Bidu.
O preço do petróleo depende em
parte do valor do dólar, em frangalhos. O dólar, por sua vez, depende
em parte do desnível entre os juros
americanos e os do resto do mundo.
O Fed, o BC dos EUA, reluta em subir
sua taxa, entalado que está entre a
cruz e a caldeirinha, entre os riscos de
recessão e de inflação. Para ajudar, líbios e a Opep reafirmaram ontem
que o barril ainda flutuará além da
estratosfera dos US$ 140.
Na quarta, o Fed manteve a taxa "básica" dos EUA em 2% ao ano. No mercado americano, caiu um pouco mais a ficha de que uma alta de juros não virá
tão cedo. Logo, o risco percebido (ou
imaginado ou fantasiado) de inflação
cresce. Portanto, em tese fica bom fazer apostas adicionais na alta de petróleo e grãos, o que por sua vez nubla as perspectivas das empresas, cujas margens de lucro começam a ficar apertadas. Resumo dessa ópera de bancos alquebrados, empresas bufando, medo
de inflação e de petróleo na estratosfera: está bom de fugir da Bolsa.
Os europeus gostariam que os EUA
aumentassem os juros. Os EUA estão
quase pedindo que o resto do mundo
o faça. O vice-presidente do Fed, Donald Kohn, deu ontem palestra fechada no BC europeu em que deve
ter tratado disso -pelo menos o dizia
no texto da palestra, que estava no site do Fed.
Entre várias inanidades sobre globalização e "descasamento", Kohn
fazia três insinuações que soam fortes em bancocentralês: 1) Os emergentes deixaram a inflação explodir;
2) Deveriam deixar suas moedas flutuarem (em relação ao dólar) a fim de
concentrar o foco da política monetária na inflação; 3) Deveriam aumentar, e bem, os juros. Kohn não
citou países, mas não nasceu ontem
e está faz 38 anos no Fed. Sua indireta foi para China, asiáticos do entorno e Oriente Médio, a maioria com moedas desvalorizadas e mais ou
menos atreladas ao dólar. E com taxas de juros negativas.
Ou seja, o Fed, depois de dar um
bico extra na inflação mundial, derrubando juros para salvar seus bancos, agora receia elevar sua taxa por medo de azedar a crise bancária ou
de afundar a economia americana
na recessão. Mas quer que os asiáticos elevem juros, valorizem suas
moedas, consumam menos e ajudem no "esforço global" contra a inflação. Enquanto isso, o petróleo explode, a incerteza aumenta e, assim,
as Bolsas despencam.
vinit@uol.com.br
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