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EXPORTAÇÃO
Analistas dizem que outros países podem descumprir acordo feito por produtores mundiais para estabilizar preço
Brasil pode perder mercado ao reter café
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil pode ter perdido espaço no mercado internacional de
café desde que deu início ao programa de retenção do produto em
junho deste ano.
O país ainda é o único que pôs
em prática o acordo firmado em
maio pela APPC (Associação dos
Países Produtores de Café) como
forma de diminuir a quantidade
disponível do produto no mercado e deter a queda nos preços que
acontece desde o final de 99.
Um dos problemas levantados
pela APPC era que os estoques de
café na Europa e nos EUA estavam muito altos, o que derrubaria
ainda mais os preços, pois logo
não haveria consumidores suficientes para a safra deste ano.
O Brasil, que é o maior produtor
de café do mundo, já reteve nos
depósitos do governo 225 mil sacas. Enquanto isso, os estoques
norte-americanos já subiram de 5
milhões para 5,443 milhões de sacas, segundo dados da Associação
de Café Verde dos EUA divulgados no último dia 17, em um sinal
de que outros países estão ocupando o mercado internacional.
Maurício Gonzaga, gerente comercial da cooperativa Cocamar,
diz que, além de o Brasil estar perdendo mercado, existe o risco de
outros países que assinaram o
acordo não cumprirem sua parte
quando chegar a vez deles.
"Será que nossos concorrentes,
como Colômbia, Indonésia e
Vietnã, terão condições financeiras para estruturar um plano de
retenção do café como o governo
do Brasil fez?"
Wilson Baggio, do CNC (Conselho Nacional do Café), diz acreditar que os outros países cumprirão o acordo. "A retenção foi muito bem estudada."
Ele afirma que o problema é que
o mercado ainda não reagiu. "Isso
acontece também porque existe
muito interesse e especulação nas
Bolsas do mundo", diz.
O Brasil destinou R$ 300 milhões para financiar a retenção de
4 milhões de sacas. De tudo o que
é exportado, 20% ficam retidos
em armazéns definidos para estocar o produto.
O dinheiro, administrado pelo
Banco do Brasil, vem do Funcafé
(fundo destinado à atividade cafeeira). O Funcafé foi criado em 86
a partir de recursos provenientes
de uma taxa, que variava de 5% a
30%, sobre o preço da saca de café
exportado e era administrado pelo Instituto Brasileiro do Café, extinto no governo Collor.
O ministro da Agricultura, Marcus Vinícius Pratini de Moraes,
disse que o país vai manter o acordo de retenção do café "enquanto
isso for conveniente para o país".
Segundo o ministro, o volume
de produto estocado deve crescer
a cada mês e até agora está satisfatório para o governo.
Pratini de Moraes afirmou que
o Brasil vai fazer a sua parte e "espera que os outros também façam".
Caso contrário, o acordo não
acontecerá. "Se só o Brasil for reter o café, não vai haver retenção",
disse.
Mas o ministro disse que ainda
não é possível saber se os demais
membros da APPC estão cumprindo o acordo. "Não é possível
ter certeza absoluta sobre isso.
Apenas no decorrer da safra saberemos." Ele não vê, por enquanto,
riscos de o café brasileiro perder
mercado em função do não-cumprimento do acordo por outros
países.
Pratini afirma que o acordo já
está em vigor, negando, assim,
que o país tenha se antecipado à
medida, o que estaria abrindo espaço para outros países, como
Honduras, ampliarem os seus
mercados de exportação. Ele disse
não ter essa informação.
Para o governo brasileiro, a retenção objetivando a elevação do
preço do café parece ser um ponto
fundamental, a julgar pela declaração de Pratini. "Eu sou ministro
da Agricultura do Brasil. Eu não
sou ministro da Agricultura dos
importadores americanos, que
querem baixar o preço."
O ministro visitou ontem a região de Varginha, no sul de Minas
Gerais, grande produtora de café.
Ele foi ver os estragos que as geadas fizeram nos cafezais, atingindo 35% da produção daquela região, de acordo com dados da
Faemg (Federação da Agricultura
do Estado de Minas Gerais).
O Ministério da Agricultura
ainda não tem um balanço dos
danos que a produção cafeeira sofreu em decorrência das baixas
temperaturas dos últimos dias, o
que provocou a ocorrência de
geadas em boa parte do Sul brasileiro e ainda em São Paulo e Minas Gerais.
Colaborou Paulo Peixoto, da Agência
Folha em Belo Horizonte
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