São Paulo, quinta-feira, 27 de julho de 2000


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EXPORTAÇÃO
Analistas dizem que outros países podem descumprir acordo feito por produtores mundiais para estabilizar preço
Brasil pode perder mercado ao reter café

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil pode ter perdido espaço no mercado internacional de café desde que deu início ao programa de retenção do produto em junho deste ano.
O país ainda é o único que pôs em prática o acordo firmado em maio pela APPC (Associação dos Países Produtores de Café) como forma de diminuir a quantidade disponível do produto no mercado e deter a queda nos preços que acontece desde o final de 99.
Um dos problemas levantados pela APPC era que os estoques de café na Europa e nos EUA estavam muito altos, o que derrubaria ainda mais os preços, pois logo não haveria consumidores suficientes para a safra deste ano.
O Brasil, que é o maior produtor de café do mundo, já reteve nos depósitos do governo 225 mil sacas. Enquanto isso, os estoques norte-americanos já subiram de 5 milhões para 5,443 milhões de sacas, segundo dados da Associação de Café Verde dos EUA divulgados no último dia 17, em um sinal de que outros países estão ocupando o mercado internacional.
Maurício Gonzaga, gerente comercial da cooperativa Cocamar, diz que, além de o Brasil estar perdendo mercado, existe o risco de outros países que assinaram o acordo não cumprirem sua parte quando chegar a vez deles.
"Será que nossos concorrentes, como Colômbia, Indonésia e Vietnã, terão condições financeiras para estruturar um plano de retenção do café como o governo do Brasil fez?"
Wilson Baggio, do CNC (Conselho Nacional do Café), diz acreditar que os outros países cumprirão o acordo. "A retenção foi muito bem estudada."
Ele afirma que o problema é que o mercado ainda não reagiu. "Isso acontece também porque existe muito interesse e especulação nas Bolsas do mundo", diz.
O Brasil destinou R$ 300 milhões para financiar a retenção de 4 milhões de sacas. De tudo o que é exportado, 20% ficam retidos em armazéns definidos para estocar o produto.
O dinheiro, administrado pelo Banco do Brasil, vem do Funcafé (fundo destinado à atividade cafeeira). O Funcafé foi criado em 86 a partir de recursos provenientes de uma taxa, que variava de 5% a 30%, sobre o preço da saca de café exportado e era administrado pelo Instituto Brasileiro do Café, extinto no governo Collor.
O ministro da Agricultura, Marcus Vinícius Pratini de Moraes, disse que o país vai manter o acordo de retenção do café "enquanto isso for conveniente para o país".
Segundo o ministro, o volume de produto estocado deve crescer a cada mês e até agora está satisfatório para o governo.
Pratini de Moraes afirmou que o Brasil vai fazer a sua parte e "espera que os outros também façam".
Caso contrário, o acordo não acontecerá. "Se só o Brasil for reter o café, não vai haver retenção", disse.
Mas o ministro disse que ainda não é possível saber se os demais membros da APPC estão cumprindo o acordo. "Não é possível ter certeza absoluta sobre isso. Apenas no decorrer da safra saberemos." Ele não vê, por enquanto, riscos de o café brasileiro perder mercado em função do não-cumprimento do acordo por outros países.
Pratini afirma que o acordo já está em vigor, negando, assim, que o país tenha se antecipado à medida, o que estaria abrindo espaço para outros países, como Honduras, ampliarem os seus mercados de exportação. Ele disse não ter essa informação.
Para o governo brasileiro, a retenção objetivando a elevação do preço do café parece ser um ponto fundamental, a julgar pela declaração de Pratini. "Eu sou ministro da Agricultura do Brasil. Eu não sou ministro da Agricultura dos importadores americanos, que querem baixar o preço."
O ministro visitou ontem a região de Varginha, no sul de Minas Gerais, grande produtora de café. Ele foi ver os estragos que as geadas fizeram nos cafezais, atingindo 35% da produção daquela região, de acordo com dados da Faemg (Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais).
O Ministério da Agricultura ainda não tem um balanço dos danos que a produção cafeeira sofreu em decorrência das baixas temperaturas dos últimos dias, o que provocou a ocorrência de geadas em boa parte do Sul brasileiro e ainda em São Paulo e Minas Gerais.


Colaborou Paulo Peixoto, da Agência Folha em Belo Horizonte


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