UOL


São Paulo, domingo, 27 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NEGÓCIOS

Grupo brasileiro Forjas Taurus é o segundo em exportações para os Estados Unidos, onde detém 30% do mercado

EUA compram 229 mil revólveres do Brasil

MARCIO AITH
EDITOR DE DINHEIRO

Ao fugir da polícia entre 27 de abril e 15 de julho de 1997, o americano Andrew Philip Cunanan percorreu quatro Estados americanos carregando na bagagem um típico produto de exportação brasileiro: uma pistola Taurus, calibre 40. Com ela, matou cinco pessoas, incluindo o famoso designer Gianni Versace. Matou-se logo depois.
Como aviões da Embraer ou placas de aço da CSN, a arma usada por Cunanan é uma daquelas exceções, ainda que discreta, que confirmam a histórica inaptidão brasileira em conquistar mercados externos.
O Brasil -na verdade, as companhias Taurus e Rossi, associadas em 1997- é o segundo maior exportador de revólveres para os EUA. Foi o primeiro por quase uma década. Em 2002, a companhia vendeu cerca de 229 mil unidades para os EUA, número apenas inferior às exportações austríacas, de 250 mil.
A Taurus/Rossi controla cerca 30% do mercado norte-americano de armas leves. Em 1982, inaugurou sua subsidiária nos EUA, sediada em Miami. Juntamente com o nome Rossi, a Taurus constituiu uma distribuidora única nos EUA, de nome Braztech.
Juntas, as duas empresas disputam um mercado que absorve, por ano, cerca de 1,7 milhão de armas. Segundo o Escritório de Álcool, Tabaco e Armas de Fogo dos EUA, metade dessas armas é produzida por fornecedores estrangeiros ou pelas subsidiárias desses fornecedores nos EUA.
Essa forte presença no mercado americano rendeu à companhia a ira dos concorrentes locais e papel de destaque na polêmica em torno do porte de armas.
Com outros fabricantes, ela está sendo processada por duas dezenas de cidades dos EUA que querem reaver o custo do tratamento, em hospitais públicos, de vítimas de armas de fogo.
Entre outras, as prefeituras de Miami (Estado da Flórida), de Newark (Nova Jersey), de Chicago (Illinois) e de Brigdeport (Connecticut) incluíram a fabricante brasileira nos processos.
Essas cidades foram estimuladas pelo sucesso das indenizações contra fabricantes de cigarro.
Ainda não existe decisão final ou acordo nos processos contra a Taurus. No entanto, incidentes envolvendo armas da fabricante brasileira, como o assassinato de Gianni Versace, se repetem.
Membro da Nação Ariana, grupo que prega a supremacia branca, Buford O'Neal Furrow invadiu um centro comunitário judaico em Los Angeles, em 1999, ferindo cinco pessoas e matando, na fuga, um cidadão filipino.
Antes de ser condenado em juízo, Furrow declarou: "Ontem, pensei em matar minha ex-mulher e algumas de suas amigas. E, talvez, fugir para o Canadá e lá roubar um banco. Queria que a polícia me matasse. Tenho uma pistola semi-automática 9 milímetros fabricada pela Taurus. Eu sempre a carrego no porta-luvas do carro".
Em 2000, a Taurus resistiu a tentativas do governo americano para que os fabricantes colocassem travas de segurança e restringissem, inicialmente de forma espontânea, a venda de armas.
Em carta divulgada ao público, o vice-presidente-executivo da Taurus International, Robert G. Morrison, deixou claro os princípios que regem a companhia.
"A Taurus acredita que, quando administrado com propriedade pelas autoridades", o sistema de licenciamento e de restrições existente à época "é mais que suficiente para prevenir a venda para criminosos ou para crianças".


Texto Anterior: Outro lado: Empresa declara que há complô de americanos
Próximo Texto: História: Taurus já pertenceu à Smith & Wesson
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.