São Paulo, segunda, 27 de julho de 1998

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VESTUÁRIO
Peça perde lugar no guarda-roupa básico e leva empresas a mudar estratégias de marketing e produção
Janete Longo - 2.jun.98/Folha Imagem
A consultora de moda Glória Kalil, para quem o jeans não é mais moda nem a única opção do básico


Grifes se armam para revigorar jeans

FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local


O jeans, peça de vestuário mais desejada pelos jovens até a década passada, está levando grandes grifes a mudar estratégias de produção, marketing e distribuição para revitalizar seus negócios no Brasil.
Usar uma calça velha, azul e desbotada já não soa mais como uma única forma de se vestir com liberdade, como dizia a São Paulo Alpargatas, a marca US Top, numa propaganda que ficou famosa na metade da década de 70.
Os brins coloridos passaram a ocupar um pedaço do mercado de calças básicas, no qual, até pelo menos a metade dos anos 80, reinava o índigo. O azul cedeu espaço ao cáqui, em especial.
No Brasil, há um esforço de marcas famosas, como Levi's, Lee, Staroup e M.Officer, para que os consumidores usem com mais frequência os seus jeans.
Não é para menos. Até a consultora de moda Glória Kalil, citada em música de Tom Jobim como musa do jeans, por ser usuária e empresária do ramo, confessa hoje que só tem duas peças no seu guarda-roupa.
O jeans, para ela, é uma peça absorvida pelo guarda-roupa das pessoas, mas não é mais moda nem a única opção de roupa básica, como acontecia até a metade da década passada.

Na moda
As grifes que se fizeram vendendo jeans e que sobreviveram, comenta Glória, foram as que optaram também pela linha fashion, roupas de moda, e passaram a ter produtos mais variados. As que bateram pé no básico sofreram mais e tiveram de se reestruturar. "A luta deles agora é para que o jeans volte a ser moda."
O mercado de calça jeans no Brasil é estimado em 118,5 milhões de peças anuais (97), e constitui um dos mais pulverizados no setor de confecção. Qualquer marca mais conhecida que se tenha em mente não detém mais de 1% desse volume, pois são muitas as de confecções menores à venda.
O que as grifes querem a partir deste ano é pegar uma fatia maior desse mercado e fazer do jeans uma peça mais nobre, como foi no passado. "O jeans era uma roupa para qualquer ocasião. Hoje, é peça de fim-de-semana", diz Gloria.
Para resgatar a maneira mais formal de usar a peça e aumentar as vendas, as grifes estão se mexendo. A norte-americana Levi's trocou sua diretoria no Brasil, colocou à venda sua fábrica para terceirizar a produção e cortar custos e vai investir em mais lojas.
"Em três anos, queremos ser a número um em jeans no Brasil e na América do Sul", anuncia a filipina Maria Mercedes Corrales, diretora-presidente da Levi Strauss do Brasil.
Mercy, como é chamada pelos colegas, fez parte da diretoria da Levi's em Hong Kong, Malásia e Cingapura. Está há poucos meses no país para aumentar os negócios da empresa.
A intenção, como afirma, não é competir com marcas menores, mas estar no topo das grifes que vendem jeans com preços de mais R$ 50 a unidade. Para isso, diz, a empresa pretende vender nos próximos anos 2,5 milhões de calças.

Disputa
A Lee, outra marca norte-americana, também quer fazer barulho no Brasil. Até recentemente, ela era comercializada, sob licença, pelo grupo Vicunha. Agora, está de volta às mãos da VF, que traçou estratégia mundial para resgatar a marca e seu valor.
Assim como a Levi's, a Lee está sendo produzida por terceiros, no caso, pela Staroup. São 120 mil peças mensais. A intenção da empresa é expandir o número de franquias, que são 45, chegando a 100 em dois anos, e elevar a produção para 200 mil calças por mês.
Ao mesmo tempo em que pretende expandir as franquias, a VF quer tirar a marca de pontos-de-venda que não representam sua imagem, diz Antonio Carlos de Almeida, diretor-presidente da VF do Brasil.
No ano que vem, a VF quer voltar forte com outra das suas marcas, a Wrangler, que, sob licença, é vendida pela Hering. "Queremos consolidar a marca Lee em dois anos e, com marcas mais populares, expandir a venda."
A calça Lee estava em 3.000 pontos-de-venda pelo país. A idéia é vendê-la em 100 franquias e 500 multimarcas bem escolhidas.



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