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País vizinho quer regras mais flexíveis
ANDRÉ SOLIANI
de Buenos Aires
A Argentina quer ter regras
mais flexíveis no Mercosul para
poder fazer frente a momentos de
instabilidade, como o provocado
pela desvalorização do real, em janeiro último.
"Desde a reunião de Ouro Preto, em 1994, a Argentina pede a incorporação de medidas de salvaguarda dentro do Mercosul", disse o subsecretário de Comércio
Exterior, Félix Peña, à Folha.
Segundo ele, as salvaguardas,
que permitem medidas de proteção à indústria local, são necessárias para compensar situações
imprevistas, como a queda do
real.
Peña disse que as autoridades
argentinas procuraram convencer o governo brasileiro da necessidade de fechar um acordo sobre
medidas de proteção temporária,
mas as reuniões foram infrutíferas.
A resposta argentina foi regulamentar a adoção de salvaguardas,
por meio da Aladi (Associação
Latino-Americana de Integração), da qual o Brasil e a Argentina fazem parte.
Desde de ontem, o vizinho brasileiro pode implementar salvaguardas para os setores que provarem que foram prejudicados
pelo aumento das exportações
brasileiras.
"A adoção das salvaguardas,
previstas pela Aladi, é o último recurso", disse o subsecretário.
Segundo Peña, como o Mercosul não regulamenta a adoção de
salvaguardas é legítimo recorrer
às regras da Aladi, da qual o bloco
faz parte.
No momento, dois setores
preocupam a Secretaria de Comércio Exterior: calçados e papéis. Peña não confirmou se seriam adotadas medidas de salvaguarda para esses setores.
Segundo Peña, na reunião de
São José dos Campos entre os
presidentes dos dois países tinham sido estipulados acordos
setoriais para evitar as salvaguardas.
"A metodologia decidida pelos
presidentes não funcionou plenamente", afirma Peña. Segundo o
entendimento dos presidentes,
seriam avaliados os setores afetados pela desvalorização do real e
acordos entre os empresários resolveriam a situação.
O subsecretário argentino afirma que só foi possível fechar acertos entre o setor privado em poucos casos. Peña também diz que
alguns acordos não foram cumpridos, como o do papel.
"A exportação brasileira de papel para a Argentina está 25% acima do combinado", disse ele.
Peña também cobrou do Brasil
flexibilidade com relação a possíveis alterações na TEC (Tarifa Externa Comum), que iguala as taxas de importações de 85% dos
produtos importados pelo Mercosul.
"Gostaria de uma maior flexibilidade não só com respeito ao comércio intra-Mercosul, mas com
respeito à TEC", disse o subsecretário. Segundo ele, a Argentina foi
flexível quando o Brasil precisou
modificar as tarifas externas devido a problemas conjunturais.
Segundo Peña, o mais importante agora é sentar para discutir
regras claras para o bloco. "O
Mercosul é parecido com um jogo
de futebol entre Argentina e Brasil, só que sem árbitro", disse ele.
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